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Ao contrário do que Lula disse, arte e cultura não dispensam putaria

Lula não sabe, mas o universo da putaria na arte e na cultura é vasto, belo e instigante. Nem uma, nem outra dispensam a libidinagem

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Igo Estrela/Metrópoles
Lula com a mão na cabeça, sob fundo amarelo e azul -- Metrópoles
1 de 1 Lula com a mão na cabeça, sob fundo amarelo e azul -- Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

No Dia do Cinema Brasileiro, também conhecido como o Dia de São Nunca, Lula disse o seguinte:

“Num país que não investe em cultura, o povo não é povo. É massa de manobra. Artista, cinema e novela não é pra ensinar putaria. É para ensinar cultura, é para contar história, e não para dizer que queremos ensinar às crianças coisa errada. Nós só queremos fazer aquilo que se chama arte. Quem não quiser entender o que é arte, dane-se. Não podemos ter medo de fazer esse debate.”

Lula, evidentemente, entende tanto de arte e cultura quanto eu entendo de cirurgia no cérebro e de física quântica. Se tivesse alguma ideia sobre o assunto, ele saberia que arte e cultura comportam moralidade, mas não moralismo.

De novela, não sei, nem quero saber. Mas sobre artista, cinema e literatura, posso garantir que a putaria é recomendável e até essencial para romper tabus e ampliar horizontes. Vamos a alguns poucos exemplos.

Ao pintar A Origem do Mundo, em meados do século XIX, um retrato bastante realista da genitália feminina, o francês Gustave Courbet causou escândalo e censura (ainda causa), mas abriu uma avenida para a pintura moderna. 

No cinema, um exemplo recente de putaria é o filme Ninfomaníaca, dividido em duas partes, do diretor dinamarquês Lars Von Trier, com a excelente atriz francesa Charlotte Gainsbourg, a feia mais sexy do mundo, como a protagonista que dá e dá muito o que pensar sobre a relação da sexualidade com todos os aspectos da nossa existência.

Na literatura, os exemplos são múltiplos: dos contos do Decameron, de Giovanni Boccaccio, toscano do século XIV, com a sua picardia que viria a ser explorada, no século XX, por Pier Paolo Pasolini no magnífico filme homônimo, aos escritores libertinos franceses do século XVIII, dos quais o maior expoente é o Marquês de Sade, sujeito barra pesadíssima cujo nome deu origem ao termo sadismo. 

Em outra mostra de que sacanagem é cultura, a palavra masoquismo veio do nome do austríaco Leopold von Sacher-Masoch, autor de A Vênus das Peles, um romance que renderia fantasias inconfessáveis entre os leitores e as leitoras — e, porque inconfessáveis, também um enorme material para psicanalistas. No século passado, a França também presenteou o mundo com o romance A História do Olho, de Georges Bataille. O olho, aqui, é aquele.

Cito só o que me vem à mente de pronto. O universo da putaria na arte e na cultura é tão vasto quanto belo e instigante. Nem uma, nem outra prescindem da libidinagem. Entendo que Lula jamais poderia saber. É por isso mesmo que não falo de cirurgia no cérebro e de física quântica.

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