A Virada da bunda de Anitta, de Deive Leonardo e dos bombonzin’ de BC
Entre a bunda de Anitta, Deive e os bombonzin’ de Balneário Camboriú, fica uma constatação e uma certeza: há 3 países e nenhum vale a pena
atualizado
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O Réveillon 2025 de Copacabana tem a sua marca no close da bunda de Anitta transmitido pela Rede Globo para todo o território nacional. Não é bumbum, não, é bunda, mesmo. Bumbum é coisa do passado.
Anitta empinou a bunda, especialmente turbinada para a ocasião festiva, e mexeu apenas um dos glúteos, o direito, devidamente enquadrado pela câmera da emissora. Todos os carnavais foram superados pelo momento mágico.
Tratou-se de apoteose anunciada. Os espectadores foram aquecidos por Ivete Sangalo para a cena capital do Réveillon de Copacabana protagonizado pela bunda de Anitta. Uma das letras de Ivete Sangalo falava em “xota” ou “xana”, estava difícil de entender, não por censura microfônica da Rede Globo, mas porque não sou fluente no idioma recém-adotado no Brasil.
A censura veio depois, na apresentação apoteótica de Anitta. A emissora silenciou as palavras “puta”, “sexo”, “piranha” e “pica”, essenciais no repertório dessa artista magnífica do nosso cancioneiro.
Só não entendi o critério: a Rede Globo censurou a poesia, mas deu close na bunda com a nádega que mexia solitariamente como aceno convidativo. É ilógico.
A bunda de Anitta foi o que deu para ver bem em Copacabana, já que o espetáculo de fogos de artifício decepcionou. Os organizadores culparam o excesso de umidade pelo fumacê que encobriu o show pirotécnico. A bunda de Anitta, portanto, salvou a noite para a família brasileira que acompanhava o Réveillon carioca.
O show da virada do SBT não teve bunda. Longe disso. Teve Deus, o Deus dos evangélicos. A emissora transmitiu um show gospel, o Vira Brasil, que acontecia simultaneamente em São Paulo e em Orlando, nos Estados Unidos.
O SBT me deu a oportunidade de conhecer Deive Leonardo, influenciador evangélico. Deive se apresentou em Orlando, o que levou à esperança de que, em algum momento, surgisse no palco um Mickeyllangel. Não aconteceu. Ainda.
No dia seguinte, nas redes sociais, havia um terceiro Réveillon muito comentado: o de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Parece que é a Virada bolsonarista. Ou do agro, o que dá na mesma.
A Virada bolsonarista era saudada pelos seus defensores por causa da limpeza na praia, da segurança que proporcionava a liberdade de usar o celular sem medo de ser roubado e do ambiente familiar. Um contraste com Copacabana, diziam, que é o Réveillon petista.
O ambiente era familiar, mas se honrou a nacionalidade: a peça de resistência na trilha sonora no balneário catarinense foi a música Descer pra BC. Um dos seus versos é “Nós vai descer, vai descer, descer lá pra BC no finalzin’ do ano, os bombonzin’ tão bronzeado pra eu chegar e morder”.
Previsivelmente, os petistas atacaram Balneário Camboriú: a praia é feia, poluída, cheia de racistas, e olha o trânsito infernal das ruas adjacentes à orla. Além de Copacabana, com a sua diversidade e inclusão, bom mesmo é o Nordeste, que vota em Lula, não em Bolsonaro. Só faltou dizer que os bombonzin’ não eram tão bons assim.
Entre a bunda de Anitta, Deive Leonardo e os bombonzin’ de Balneário Camboriú, fica uma constatação e uma certeza: a constatação é a de que temos três países no Brasil. A certeza é a de que nenhum deles vale a pena.