A resistência de Jair Bolsonaro: assim como Lula, ele virou uma ideia
A resistência política de Jair Bolsonaro impressiona. Quanto mais batem, mais ele se mantém vivo. Ótimo para ele e também para Lula
atualizado
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Uma pesquisa feita pelo Datafolha, no início deste mês, mostra que 90% dos eleitores brasileiros não se arrependem do voto no segundo turno da última eleição presidencial. No caso de Lula, 9% disseram ter se arrependido, no de Jair Bolsonaro, 7% (margem de erro de dois pontos).
Isso quer dizer que, depois do primeiro ano de mandato do petista, o país permanece polarizado, e não é preciso ser cientista político para constatar que essa polarização veio para ficar, inclusive por falta de opção, se é que ela um dia aparecerá. Instalou-se no país um curioso bipartidarismo de um só partido, o PT, porque o bolsonarismo não tem agremiação verdadeiramente própria.
O dado surpreendente da pesquisa não é a polarização sedimentada. É a resistência de Jair Bolsonaro. O ex-presidente está inelegível, enfrenta uma penca de processos, pode ser preso, apanha praticamente todos os dias na TV e nos jornais — e, no entanto, continua vivo politicamente. No entanto, não, usei errado a conjunção adversativa: por isso mesmo ele sobrevive firme e forte.
A julgar pelo resultado da pesquisa do Datafolha, os seus eleitores de primeira opção partilham do ideário de Jair Bolsonaro e o veem como perseguido pelo establishment; os eleitores de segunda opção, por sua vez, certamente o consideram um mal menor, apesar de tudo. A uni-los como argamassa, temos o antipetismo, que Jair Bolsonaro conseguiu encarnar.
O establishment são o PT, o STF, a imprensa e o mundo cultural. De onde se conclui que tudo o que vier daí só ajudará a manter Jair Bolsonaro vivo — o que é ótimo também para o PT. Conversa fiada de que, para Lula e a sua corte, o Brasil é um só povo.
Polarizar é muito melhor do ponto de vista eleitoral, já que o antibolsonarismo, corporificado por Lula, é tão forte quanto o antilulismo. Esse cenário é perfeito para ambos. O único aspecto que pode mitigar o antilulismo nas eleições é um bom desempenho da economia que realmente faça a diferença para a classe média.
Pouco antes de ser preso, em 2018, o chefão petista disse que não adiantava colocá-lo em cana, porque ele não era “mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês. Minhas ideias já estão no ar e ninguém poderá encerrar. Agora vocês são milhões de Lulas”.
Vale o mesmo para Jair Bolsonaro: ele não é mais um ser humano, é uma ideia misturada com as ideias de milhões de Bolsonaros. A campanha bolsonarista nas próximas eleições presidenciais, em 2026, deverá ser uma repetição com sinal trocado da campanha petista de 2018: o inelegível agora é o “Mito” e, portanto, ele contará com alguém disposto a ser poste, como o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, entre outros nomes, ou um Bolsonaro edulcorado, como Tarcísio de Freitas. Romeu Zema fica no meio das duas tipologias.
O candidato de direita que quiser o voto dos bolsonaristas terá de anular-se em subserviências a Jair Bolsonaro. Ainda que com eventuais piscadelas aos eleitores mais ao centro, ele não poderá esquecer-se de que Jair Bolsonaro virou uma ideia. O Brasil está cheio de más ideias de todos os lados.