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A realidade da propina insiste em desmentir as “instituições”

Uma empresa suíça admitiu culpa por propina na Petrobras e pagará US$ 126 milhões nos EUA. Enquanto isso, por aqui, a caçada a Moro continua

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TRE/PR
Imagem colorida de Luciano Carrasco Falavinha, desembargador substituto do TRE/PR -- Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Luciano Carrasco Falavinha, desembargador substituto do TRE/PR -- Metrópoles - Foto: TRE/PR

A empresa suíça Trafigura, gigante mundial de comércio de commodities, admitiu culpa pelo pagamento de propina na Petrobras e desembolsará US$ 126 milhões para encerrar uma investigação no Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A informação é da jornalista Julia Affonso. Enquanto isso, por aqui, o processo aberto no âmbito da Lava Jato contra dois ex-executivos da Trafigura está parado. Eles foram denunciados por ter pagado US$ 1,5 milhão a um ex-dirigente da petrolífera.

Este é o Brasil: o país onde corruptores e corruptos são protegidos pela lei, ativa e passivamente, e os procuradores e os juízes que os investigaram são considerados criminosos. 

Faz pouco mais de duas semanas, o comentarista político do Judiciário reafirmou, em entrevista a uma empresa estatal de comunicação, que “a Lava Jato fez um mal enorme às instituições” e que a operação “terminou como uma verdadeira organização criminosa”.

A declaração do comentarista político do Judiciário não tem nenhum amparo na realidade, como prova o caso da Trafigura nos Estados Unidos, para além de toda a  dinheirama recuperada pela operação no Brasil — e que já começou a ser devolvida à ladroagem por meio da anulação de multas bilionárias. A transubstanciação da realidade é, contudo, um dos milagres que o nosso autoritarismo democrático se acha capaz de operar.

Em meio aos processos vindicativos que as “instituições” promovem contra quem ousou investigá-las, vez por outra surgem vozes internas que abordam a sujeira toda de maneira saudavelmente crua.

Ontem, o relator do processo de cassação de Sergio Moro no TRE do Paraná, o desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza. não fez jus ao sobrenome e votou contra a cassação do senador. O parágrafo do seu voto que trata da ingenuidade de Sergio Moro chamou a atenção.

“É muita ingenuidade acreditar que o investigado, atuando como juiz em grande investigação de combate à corrupção que afetou razoável parte do quadro político, ao sair de magistratura e ingressar no governo beneficiado eleitoralmente pela indicada operação, não seria atacado. Que saindo desse governo atirando não receberia retaliação futura e, ao fim e ao cabo, sair candidato e sagrando-se vencedor em candidatura ao Senado contra aquele que lhe abriu a candidatura presidencial, não poderia ser alvo de desforra”, escreveu o desembargador.

Ele está certo no seu resumo histórico. Eu mesmo já havia apontado em dezembro como o ex-juiz da Lava Jato, alvo de caça implacável, pecava pela ingenuidade: 

“Sergio Moro é um desastre como político, não pelas bandeiras que defende, mas por sua atuação em um meio que lhe é quase totalmente hostil. A sua maior culpa é a ingenuidade, e por vezes ingenuidade que se acha esperteza, o que o faz duplamente ingênuo. Isso facilita muito o trabalho dos caçadores.”

A caçada continuará, que ninguém se iluda. Leio que o PT segue “tranquilo” de que o senador terá o mandato cassado. Mas que ninguém se esqueça de que, no dia em que começou o julgamento de Sergio Moro no TRE do Paraná, noticiou-se que a empresa suíça Trafigura concordou em pagar US$ 126 milhões para encerrar uma investigação nos Estados Unidos sobre o seu papel de corruptora na Petrobras. A realidade da propina insiste em desmentir as “instituições”.

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