A oligarquia age contra Pablo Marçal, que só quer entrar no clube
Se Pablo Marçal fosse mais um candidato nanico, ninguém buscaria evitar que ele continuasse na disputa. A lei só é aplicada contra inimigos
atualizado
Compartilhar notícia
A candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo pode ser impugnada. O Ministério Público Eleitoral alega que ele infringe a legislação eleitoral porque seguidores seus estariam fazendo propaganda dele nas redes sociais em troca de promessas de pagamento.
Já o Partido Socialista, da candidata Tabata Amaral, quer tirá-lo da disputa porque ele não teria se filiado ao PRTN no prazo previsto por lei para que pudesse ser candidato pelo partido.
Eu já disse quase tudo o que penso sobre Pablo Marçal, e nenhuma avaliação minha comporta um adjetivo positivo. Mas a tentativa de impugnar a sua candidatura, ofensiva que, ao que tudo indica, pode ter êxito, leva à pergunta: a legislação teria sido invocada se Pablo Marçal não houvesse se tornado uma candidato ameaçador?
Vamos nos deter especificamente sobre o prazo de filiação. Para ser breve, ele se filiou ao PRTN quatro meses antes da eleição a ser realizada em outubro. O prazo mínimo é seis meses. Só agora o Ministério Público Eleitoral descobriu a irregularidade? Mais: a Justiça Eleitoral aceitou o registro da candidatura sem verificar esse ponto?
Sejamos sinceros: se Pablo Marçal fosse mais um candidato nanico, ninguém buscaria evitar que ele continuasse na disputa. Tapariam os olhos para tudo de errado na sua ficha e, se fosse conveniente, até buscariam o seu apoio.
O caso de Pablo Marçal é mais um exemplo de que, no Brasil, os rigores da lei servem apenas para ferir adversários ou inimigos. Aos amigos, não se aplica nem mesmo a lei na sua forma mais branda.
É de se colocar em dúvida, diante dos vários episódios escabrosos a que assistimos, se vivemos mesmo em uma democracia. Se fosse dado a Platão reviver, e pudesse ele observar o que se passa por aqui, o filósofo que definiu os tipos de governo em timocracia, oligarquia, democracia e tirania certamente enxergaria no Brasil um país dirigido por oligarcas que têm na lei o seu porrete.
A percepção de que vivemos sob uma oligarquia é que faz o sucesso de gente que se faz de outsider, de antissistema, como esse Pablo Marçal — que também é acusado de cometer crimes, embora só agora isso esteja vindo à tona por conveniência política. Na verdade, ele quer entrar no clube que o recusa, assim como fez Jair Bolsonaro. Aplique-se o regulamento de ingresso contra Pablo Marçal porque alguns sócios podem ser obrigados a lhe ceder o lugar.