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A normalidade trazida por Lula é algo anormal

O normal anormal é o clima de confraternização em Brasília, como se os três poderes trabalhassem em harmonia e tudo estivesse certo sob Lula

atualizado

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Lula na posse de Flávio Dino, abraçando o novo ministro do STF -- Metrópoles
1 de 1 Lula na posse de Flávio Dino, abraçando o novo ministro do STF -- Metrópoles - Foto: <p>IGO ESTRELA/Metropoles<br /> @igoestrela</p><div class="m-banner-wrap m-banner-rectangle m-publicity-content-middle"><div id="div-gpt-ad-geral-quadrado-1"></div></div> </p>

Jair Bolsonaro foi uma anormalidade conflituosa, não resta dúvida. Mas pergunto retoricamente se a normalidade pacífica trazida de volta por Lula não é algo anormal.

A posse de Flávio Dino no STF, descrita como “sem pompa”, um clichê jornalístico, chamou a minha atenção. Não porque até a pompa brasileira é sem pompa, e é melhor mesmo que não haja pretensões inalcançáveis. Tem-se pompa na França, na Itália, nos Estados Unidos, para ficarmos apenas nas repúblicas, e a visão longínqua de tanto garbo já nos basta, entre suspiros invejosos. De toda forma, a falta de pompa é um normal inofensivo. 

O normal algo anormal é esse clima de confraternização em Brasília, como se os três poderes se encontrassem em harmonia, sem que o Executivo não estivesse sendo chantageado pelo Legislativo e governasse com o Judiciário; o Legislativo não estivesse chantageando o Executivo e tivesse competências suas tomadas pelo Judiciário; e o Judiciário não estivesse legislando e governando com o Executivo.

O normal algo anormal é ninguém se espantar nem um pouco com a notícia de que Lula deu uma missão — a primeira, haverá outras — a Flávio Dino no STF: “derrubar as restrições a políticos no comando de empresas públicas impostas pela Lei das Estatais”, como publica a jornalista Malu Gaspar.

O normal algo anormal são os cochichos entre Lula e Arthur Lira na posse de Flávio Dino e a happy hour no Palácio do Alvorada, uma sugestão do presidente da Câmara ao presidente da República para aproximar Lula dos deputados “em meio à crise de articulação política com o Planalto”, segundo a jornalista Tainá Falcão. 

O pastel de camarão da happy hour pode custar 5,6 bilhões de reais em emendas do orçamento secreto que deixou de ser secreto porque tudo está sendo feito à luz do dia. É o normal algo anormal do governo Lula. Tudo voltou a ser como antes, e até pior, mas a paz reina em Brasília.

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