A farsa eleitoral de Nicolás Maduro e os seus cúmplices
Só ingênuos ou cúmplices diziam acreditar que a eleição presidencial na Venezuela, vencida oficialmente por Maduro, poderia ser limpa
atualizado
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Só ingênuos ou cúmplices diziam acreditar que a eleição presidencial na Venezuela, vencida oficial e previsivelmente pelo ditador Nicolás Maduro, poderia ser limpa.
Como poderia ter lisura uma eleição na qual a principal candidata da oposição foi impedida de concorrer por um tribunal de paus-mandados, assim como a sua substituta imediata? Na qual não havia observadores internacionais críveis? Antes da qual o ditador Nicolás Maduro disse que haveria uma “guerra civil” e um “banho de sangue” em caso de derrota dele? Antes da qual as fronteiras do país foram fechadas para intimidar? Da qual foram alijados milhões de eleitores obrigados a sair do país por causa do regime? Na qual eleitores foram impedidos de chegar a seus locais de votação? Da qual os os boletins oficiais foram divulgados por uma Justiça Eleitoral sabuja?
Entre os ingênuos, está a oposição venezuelana, obviamente. Em 2018, ela se recusou a participar da farsa eleitoral; neste 2024, aceitou, fiando-se na promessa de Nicolás Maduro de respeitar o Acordo de Barbados. A sua participação na farsa deste ano só servirá para o ditador alegar legitimidade. Mas não havia o que fazer, reconheça-se. Deixar de participar também seria desencorajar qualquer forma de resistência.
Entre os cúmplices da farsa, está o Brasil de Lula e o histórico de apoio do presidente da República e do PT ao regime bolivariano. Felizmente, na ultimíssima hora, a ministra Cármen Lúcia resolveu não enviar a Caracas funcionários do TSE. Seria subscrever a fraude. Foi depois que Nicolás Maduro pôs em dúvida as urnas eletrônicas. Da sua parte, o ditador talvez tenha achado que a presença de Celso Amorim como “observador” já era suficiente.
De acordo com a jornalista Janaína Figueiredo, que está em Caracas, “antes mesmo do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter divulgado o resultado da eleição presidencial na Venezuela, o ministro das Relações Exteriores do país, Iván Gil, se comunicou, segundo fonte em Caracas, com seu par brasileiro, Mauro Vieira, para transmitir o otimismo do governo de Nicolás Maduro”. Já estava montado o teatro do “ataque hacker”, o apagão noturno durante o qual o regime inseriu no sistema eleitoral os números que lhe convinham e que foram contabilizados sem a presença de fiscais da oposição.
Venezuela, Cuba, Nicarágua, Rússia, Hamas: está claro que, sob Lula, o Brasil não tem um Ministério das Relações Exteriores, mas um Ministério da Cumplicidade. O silêncio de Lula até o momento é ensurdecedor e revelador. Contrasta com as falas de autoridades de democracias da região, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Não sejamos ingênuos ou cúmplices: a história do mundo ensina que só existe uma forma de se livrar de uma ditadura como a bolivariana na Venezuela, e certamente não é por voto.
PS: Depois deste artigo ir ao ar, o Itamaraty divulgou uma nota em que que pede que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela publique “dados desagregados por mesa de votação”, por ser “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.