A Faria Lima gosta de pobre. Quem não gosta de pobre é o PT
A Faria Lima gosta tanto de pobre, que quer um mercado consumidor sólido; o PT odeia tanto pobre, que só precisa de cidadãos endividados
atualizado
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O Diretório Nacional do PT é uma bússola para você se dar conta da realidade, porque a realidade é sempre diametralmente oposta ao que aponta o Diretório Nacional do PT.
Nesse sábado, por exemplo, a instância petista divulgou uma resolução na qual, para não variar, ataca a Faria Lima, naquela linguagem de grêmio estudantil que lhe é característica.
“A sociedade civil precisa manter-se vigilante e enfrentar as artimanhas da Faria Lima que visam minar conquistas econômicas e sociais por meio da especulação”, diz o documento. “Especuladores promoveram a maior alta do dólar na história (…) O método é claro: os especuladores agiram após ficarem sabendo que as medidas ficais do governo incluíam a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Trata-se de uma manobra claramente política para debilitar o governo e impedi-lo de continuar avançando no caminho do desenvolvimento e da justiça social”.
“A raça humana não pode suportar muita realidade”, estava certo o anglo-americano T.S. Eliot, poeta sublime, quando escreveu esse verso de Burnt Norton, o primeiro poema dos seus Quatro Quartetos. Mas é inevitável constatar que entre nós, humanos, os que professam ideologias de esquerda são os mais propensos a falsificar a realidade que lhes é insuportável.
A sociedade civil precisa manter-se vigilante é com o governo Lula, que continua a gastar muito mais do que arrecada com o objetivo de ser reeleito a qualquer preço a ser pago pelos contribuintes e que apresentou uma outra tapeação como se fosse pacote fiscal.
A Faria Lima não é grande coisa em matéria de visão política. Achava, por exemplo, que Fernando Haddad era um ministro da Fazenda confiável, apesar de não haver diferença essencial entre ele e Gleisi Hoffmann. Ambos odeiam o capitalismo.
O mercado financeiro faz, no entanto, projeções econômicas com base no que consegue avistar no horizonte, e o que se consegue avistar no horizonte é uma inflação que pode ficar sem controle por causa dos gastos excessivos do governo, principalmente.
Só na cabecinha delirante do PT a Faria Lima torceu o nariz para a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por ser composta por um monte de ricos perversos que odeiam pobres.
A Faria Lima gosta tanto de pobre, mas tanto, que quer que o governo Lula diga como vai recompor a arrecadação a ser perdida por essa isenção, sem aumentar o buraco das contas públicas e causar mais inflação. Não vale a mentirona de que passar pente-fino em cadastros de benefícios sociais será suficiente para repor o dinheiro que deixará de ser arrecadado.
A Faria Lima gosta tanto de pobre, mas tanto, que precisa que a economia real esteja alicerçada em um mercado consumidor grande e sólido, formado por cidadãos com capacidade de poupança e de poder aquisitivo. O PT odeia tanto pobre, mas tanto, que só precisa de cidadãos que não enxerguem o tamanho da tempestade inflacionária que se avizinha — e que continuem a depender do assistencialismo eleitoreiro e a se endividar no cartão de crédito, como se não houvesse um amanhã borrascoso.
Ao contrário do que diz a resolução do Diretório Nacional do PT, é preciso enfrentar as artimanhas do partido que visam a minar, por meio do populismo fiscal, conquistas sociais e econômicas obtidas pelo Plano Real.