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A bolsonarização light de Guilherme Boulos com a sua “Rota do Bem”

Guilherme Boulos é obrigado a endurecer-se, mas sem perder a ternura, como demonstra a entrada de um ex-comandante da Rota na sua campanha

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Fábio Vieira/Metrópoles
Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo, gesticulando -- Metrópoles
1 de 1 Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo, gesticulando -- Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo para quem Lula fez e ainda faz campanha eleitoral antecipada, tem de se endurecer, mas sem perder a ternura, veja só.

O coitado agora se vê obrigado a tratar bandido como bandido, não como vítima da sociedade burguesa capitalista selvagem. Quer dizer, não tanto assim, porque, senão, ele teria de abandonar as fileiras da esquerda, e um crente ideológico como Guilherme Boulos não aguentaria perder a religião, sob pena de perder a própria substância divina.

Digamos que ele apenas precisa passar a ideia de que realmente se preocupa com segurança pública, ao contrário da esquerda nacional e mundial. Para tanto, Guilherme Boulos agora conta com um ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Alexandre Gasparian, para ajudar a elaborar o seu plano de governo nessa área que é considerada, acertadamente, a mais problemática da capital paulista, segundo os eleitores.

A entrada do ex-comandante da Rota na equipe de Guilherme Boulos foi interpretada como uma resposta à escolha de outro ex-comandante do batalhão, Ricardo Mello Araújo, para ser vice na chapa do atual prefeito Ricardo Nunes, contra o qual o candidato de Lula deverá disputar o segundo turno. Ricardo Mello Araújo foi uma imposição de Jair Bolsonaro para apoiar Ricardo Nunes.

A campanha de Guilherme Boulos diz que foi só coincidência, que Alexandre Gasparian já havia sido escolhido antes do anúncio do vice do adversário e coisa e tal, mas não importa. 

A bolsonarização light de Guilherme Boulos vai ao encontro de uma realidade eleitoral: a de que, para a grande maioria da população obrigada a viver na selva, bandido bom é bandido morto. Ou seja, “Rota na rua e bandido na cadeia!” (na melhor das hipóteses), como dizia Paulo Maluf, essa alma hoje cândida na comparação com as que a sucederam.

Só que, como Guilherme Boulos não pode perder a religião, ele e a sua equipe trataram de criar a fantasia de uma “Rota do Bem”, encarnada pelo ex-comandante Alexandre Gasparian, em contraste com a “Rota do Mal”, personificada por Ricardo Mello Araújo.

Isso porque o primeiro, quando chefiou o batalhão, tratou de afastar soldados envolvidos em mortes, como se outros comandantes não tivessem feito o mesmo. Mas Alexandre Gasparian, diz a trupe de Guilherme Boulos, é diferente por ser um “legalista defensor da vida e dos direitos humanos”. 

Como edulcorar é preciso também do lado da direita (ma non troppo), propala-se que o segundo, Ricardo Mello Araújo, comandante da Rota sem medo de ser feliz à maneira lá da soldadesca, promoveu ações sociais quando era presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, a Ceagesp (a esquerda o acusa de ter “militarizado” a companhia).

Se fôssemos um país com cultura literária, antes de concluir este artigo, eu faria uma digressão sobre a esquerda da “Rota do bem” estar mais para o escritor russo Dostoiévski: “O criminoso, no momento em que comete o seu crime, é sempre um doente”. Já a direita da “Rota do Mal”, eu diria na minha digressão, está mais para o escritor francês Balzac: “Regra geral, os criminosos sempre se dizem vítimas de erros judiciários”.

Como somos um país sem cultura literária, vou direto ao ponto: amigão, Rota é Rota, ninguém vira comandante do batalhão criado para combater as ações armadas da esquerda radical durante a ditadura militar (ah, o destino e as suas ironias), sendo bonzinho ou muito preocupado com direitos humanos. Mas não contem para Guilherme Boulos ou ele terá as suas ilusões perdidas. Balzac.

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