100 dias de Lula: bom mesmo foi voltar para o PIG
Tremenda honra sair do que os bolsonaristas chamavam de “extrema imprensa” e retornar ao “Partido da Imprensa Golpista” dos petistas
atualizado
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Do que mais gostei nos primeiros 100 dias do governo Lula?
Do projeto econômico, não foi, porque não há projeto nenhum, além desse arcabouço fiscal que é uma espécie de Plano Se. Se a arrecadação aumentar, se conseguirmos cancelar desonerações, se houver nova regra para os gastos obrigatórios (Fernando Haddad, esse neoliberal), se Roberto Campos afrouxar no combate à inflação e baixar os juros, tudo será lindo e maravilhoso.
Da mudança no Marco do Saneamento, também é impossível gostar. Afinal de contas, as mesmas estatais que foram incapazes de universalizar a rede de água e esgoto no país voltaram ao jogo. O fisiologismo aqui continuará literal.
Outra mudança reprovável é na Lei das Estatais, para nomear políticos para diretorias de empresas controladas pelo governo, sem necessidade de quarentena digna desse nome. Trata-se de lotear para faturar, e não só politicamente, como se viu no petrolão.
O “Ministério da Verdade” instituído por Lula, não posso elogiar, evidentemente, visto que a liberdade de expressão é o meu ganha-pão. O que o governo almeja é calar a boca de quem lhe faz críticas, como se já não bastasse ter quase a imprensa toda a seu favor. Como já fui parar na PF, no segundo mandato do guia genial dos povos, por ter publicado notícia verdadeira na revista Veja, tenho, como diria, ainda mais lugar de fala nesse assunto.
O governo suspendeu a implementação do Novo Ensino Médio. Todo mundo respeitável disse que era uma coisa boa e, de repente, pimba. Foi para as calendas, por conveniências sindicalistas. A Educação recebeu mais verbas, mas agora o ministério quer fazer pesquisa para definir o que é uma criança alfabetizada, antes de promover o que prometia ser um pacto nacional pela alfabetização. Difícil.
No combate ao desmatamento, bem, a destruição permanece aí, cada vez maior. O governo diz que a herança de Jair Bolsonaro é pesada demais e, por isso, vai demorar para que a situação fique sob controle. Vou acreditar, mas não dá para dizer que as coisas estão objetivamente melhores, concorda? Sei lá, parecia mais fácil quando Jair Bolsonaro era vidraça.
Sobre a política exterior, só há o que lamentar. Esse história de protagonismo lá fora é relativa. Lula quer novamente estreitar os laços do Brasil com as ditaduras da Venezuela e de Cuba. Está disposto também a promover a “paz” na Europa, por meio da rendição da Ucrânia, com a entrega da Crimeia ao criminoso de guerra Vladimir Putin. Ele nutre, ainda, a intenção de compor, ao lado de China e Rússia, um polo alternativo aos Estados Unidos no campo político e econômico. Aliás, a ideia de pôr Dilma Rousseff na presidência do Banco dos Brics vai nesse sentido, como alertei. O banco de fomento pode se tornar instrumento de política de confrontação.
Nunca foi boa ideia ser aliado de chineses ou de russos, mas a atração de Lula e do seu partido por regimes autoritários é especular. Está aí novamente José Dirceu, o guerreiro do povo brasileiro, para reafirmar que o negócio do PT é ficar no Planalto por 12 anos seguidos, o que inclui a reeleição de Lula. O que José Dirceu não diz em público é que, na verdade, a intenção do partido é perpetuar-se no poder. O PT gostaria mesmo é de ser o Labão, fazer da democracia a Raquel, entregar Lia no lugar de Raquel e transformar nós todos em Jacó, assim como no soneto de Camões:
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.
Os dias na esperança de um só dia
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que por enganos
lhe fora assim negada sua pastora,
como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
Mas você não gostou de nada, Mario, nesses primeiros 100 dias de governo Lula? Gostei, claro. No centésimo artigo que publico no Metrópoles, eu saí do que os bolsonaristas chamavam depreciativamente de “extrema imprensa” e fui recolocado automaticamente no velho e bom PIG, o “Partido da Imprensa Golpista”, pelos petistas.
Tremenda honra.