“O que vem fácil, vai fácil”, disse uma pessoa muito próxima que viu seu e-commerce explodir com os novos hábitos de compra estabelecidos na pandemia, mas que ficou desesperada durante o blackout do Facebook, quando não vendeu absolutamente nada. Diferente dos clientes típicos das agências de publicidade, que se preocupavam com as consequências nas metas de desempenho dos anúncios, essa amiga não queria perder o que conquistou há pouco tempo. 

O avanço recente do digital e novos hábitos dos consumidores criou uma dependência grande dos ambientes onde está a maior audiência, o maior consumo de conteúdo, e portanto, maiores oportunidades: Facebook (dono do Instagram e WhatsApp) e Google (dono do YouTube). E embora players como Twitter, Telegram e TikTok se esforcem, ainda não alcançam o mesmo número de pessoas que esses dois gigantes. 

Houve grande destaque para os bilhões que o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, perdeu – e rapidamente recuperou -, mas pouco se falou sobre os negócios que dependem do Facebook, Instagram e, principalmente, WhatsApp. Uma cauda longa de centenas de milhares de micro e pequenas empresas que são os maiores empregadores do Brasil. E que representam a maior parte das receitas publicitárias do Facebook, com cerca de 80% da fatia segundo o The Drum. Gente que usa o Facebook quase como um site, que divulga seus produtos no Instagram e fecha pedidos e negócios utilizando WhatsApp. Gente que perdeu um dia de trabalho. 

Essas pessoas viram um avanço sem precedentes nas vendas on-line. Grande parte porque a internet é um ambiente seguro para o consumo em tempos de isolamento social (ou quase isso).

A dobradinha WhatsApp e PIX transformou qualquer negócio, com alguma boa vontade, num comércio eletrônico. Mas no dia 4 de outubro tudo isso foi colocado em xeque.

Descobrimos que o ganha pão de muita gente é vulnerável. E por mais que nos esforcemos, não temos muito como fugir das empresas do Mark. Mas antes que minha amiga realmente acreditasse que “o que vem fácil, vai fácil”, é bom ter em mente que as mudanças nos hábitos dos consumidores vieram para ficar. E um mundo com muito mais conexão em lojas virtuais e físicas deve abrir grandes oportunidades e novos negócios nos próximos anos. 

Gui Rios é fundador e diretor-executivo da agência SA365, que atua no Brasil e em Portugal