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Volta do Orkut: você tem saudade de quê?

A gente sente falta da rede social ou de nós mesmos? Questiona a jornalista Patrícia Albuquerque

atualizado

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1 de 1 rede social - Foto: Nomad Outing/GettyImages

Saudosistas e entusiastas que me perdoem, mas não alimento grandes expectativas em relação à possível volta do Orkut. Como já amplamente divulgado, o domínio da rede social foi reativado há cerca de um mês, com nada mais que uma carta pouco conclusiva de seu criador, o ex-engenheiro do Google, Orkut Büyükkökten 

Está justamente neste texto um dos motivos da minha quase indiferença. O conteúdo anuncia uma novidade, sem dizer exatamente a que se refere. Faz críticas às plataformas em que as pessoas vão apenas para “dar like” e comentar as fotos dos outros; diz que as ferramentas on-line devem servir, não dividir; proteger nossos dados, não vendê-los; trazer esperança, não medo e ansiedade. De forma nenhuma quero diminuir a importância dessas reflexões. São todas absolutamente legítimas e importantes. O ponto é que, em 2016, quando lançou a rede social Hello, Büyükkökten a apresentou ao mundo embalada por discurso semelhante. Era, então, “a primeira rede social construída através de amizades profundas, não ‘likes’”.  

Por mais que estas plataformas se esforcem em oferecer experiências diferentes, renovar features e disponibilizar recursos contra abusos, elas, no fim do dia, são como caixas vazias, povoadas por nossos “eus”.

Não acredito que dependa exclusivamente das ferramentas a criação de um ambiente saudável – muito menos a construção de “amizades profundas”. É claro que as empresas por trás desses ambientes tem que ser chamadas à responsabilidade, mas a solução, se é que ela existe, não me parece ser unilateral. Por isso que esse discurso tipo “nós contra eles”, “o bem contra o mal” me dá uma certa preguiça. Ainda que a humanidade atingisse o nirvana da rede social perfeita, enquanto houver ódio, sempre haverá perfis, uma rede vizinha ou genérica apropriados para abrigá-lo.  

Quando a gente lembra com carinho das comunidades do Orkut, dos scraps, dos gelinhos e coraçõezinhos, me parece que, no fundo, estamos sentindo saudade é de nós mesmos – de quem a gente era, de como a internet era, de um tempo em que palavra como fake news e polarização eram menos comuns.  

Pode até ser que toda essa reflexão esteja influenciada por um esforço para diminuir meu tempo de tela – terrivelmente aumentado em função de tudo que aconteceu nos últimos anos. Desde que eu trouxe uma cachorrinha para casa, há três semanas, já escutei pelo menos dez vezes que devia abrir um perfil para ela. A resposta que me vem à mente é sempre a mesma: eu quero um pouco menos de redes sociais na minha vida, não mais. 

Mas, ok, vamos brincar… E se a carta enigmática de Orkut Büyükkökten. for realmente sobre um novo Orkut, como ele seria? Bastante diferente do original, eu acredito.

Nos últimos meses, temos acompanhado uma plataforma muito mais jovem e bem-sucedida se reinventando em função da concorrência. O que dizer então de um player que interrompeu sua trajetória há anos? Redes Sociais surgem, somem e mudam numa velocidade difícil de acompanhar, mesmo para quem vive este dia a dia. Imagina integrar e reagir a tudo que aconteceu desde que o Orkut foi desativado, em dia 30 de setembro de 2014?

Pode até ser que a gente reencontrasse versões atualizadas de gelinhos e coraçõezinhos, destinadas a agradar os nostálgicos, mas estrutura e experiência teriam que voltar inteiramente transformadas. Bem, por via das dúvidas, deixei meu e-mail lá no orkut.com. Eles prometeram que serei “a primeira a saber” sobre as novidades.   

Patrícia Albuquerque é diretora de Digital e de Conteúdo da Approach Comunicação, uma marca Approach Network.  Jornalista, ela trabalha desde 2007 com conteúdo digital.

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