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Por Tatiana Lobão, Head of Data Intelligence & Growth, e Paola Müller, Head of Strategy, ambas da Brivia
Entre os participantes do SXSW, em Austin, a euforia pelo encontro presencial após tantas horas acumuladas em reuniões virtuais era latente. A sensação de insegurança deu lugar ao entusiasmo do reencontro. E a troca de experiências fora de meets e zooms deixou claro que, apesar dessas ferramentas serem fundamentais para nos manter conectados, as conexões humanas e reais são insubstituíveis.
O evento foi organizado em 15 trilhas de conteúdo com diferentes formatos e distribuídos em macrotemas: Descobrindo o desconhecido, Estamos todos conectados, O cenário da mídia em evolução, O poder da inclusão e Construído para o futuro. Os debates colocaram ainda mais luz sobre pautas importantes do espírito do tempo atual: inovação, criatividade, sustentabilidade horizontal, colaboração, transparência, diversidade e informação. Conteúdos profundos e discussões transformadoras contemplando pluralidade de gêneros, idades, corpos e etnias em toda a programação.
Olhares diversos e inclusão permearam grande parte das falas, assim como equidade, escuta, a empatia como estratégia e as pautas ESG, com atenção especial para a crise climática. O poder das comunidades foi exaltado, bem como a capacidade de romper fronteiras e envolver indivíduos em processos de cocriação, com protagonismo no combate à economia da desinformação.
Jack Conte, CEO e fundador do Patreon, um dos sites mais importantes de financiamento coletivo para creators dos EUA, por exemplo, provocou os participantes a “se envolverem com o problema”, mostrando que a complexidade do mundo digital só está aumentando, mas nossa capacidade de responder a ela não.
Web3, metaverso, desinformação, crypto, NFTs. Se você não conhece alguns desses termos, corra! Passa por eles muito da inovação e tendências que veremos nos próximos anos. O burburinho em torno das pautas sobre Web3 é inevitável, e as conversas invariavelmente se desdobram em reflexões sobre como atuar em meio aos desafios impostos pelo por essa nova visão da web e as criptomoedas, NFTs, blockchain, sem deixar de lado a preocupação com confiabilidade, fake news e propriedade de conteúdo.
Ainda sobre o metaverso, vale dizer que talvez ele não seja exatamente o que muitos imaginam hoje. Scott Galloway, professor da Universidade de Nova York, foi enfático ao afirmar que ele trará experiências muito mais auditivas do que visuais – e o áudio será um poderoso criador de intimidade. Além de condenar ao fracasso absoluto Mark Zuckerberg e seus Oculus, o professor apontou a Apple como principal player, por dominar o hardware, a confiança, o capital e a capacidade de execução, além de já ser um meio de pagamento. “O único metaverso hoje, ou o que existe mais próximo de um metaverso hoje, é a Apple Store experiências imersivas, os apps”, afirmou.
Reggie Fils-Aimé, presidente e COO aposentado da Nintendo América, vai por um caminho semelhante, trazendo elementos que já existem, como uma exemplificação desse espaço como o Fortnite. “O metaverso é como a cloud cinco anos atrás, ou até mesmo a internet 20 anos atrás. Um rótulo que as empresas estão tentando se agarrar e fazer parte. Para mim, o metaverso é um espaço digital onde as pessoas podem interagir em um ambiente social.” Em mais uma crítica à Meta/Zuckerberg (as quais não foram raras em outros painéis), Reggie ressalta o óbvio: para ser inovador é preciso ser consumer first. Facebook, digo, a Meta, é advertisement revenue first.
Sob o pano de fundo de várias discussões está o horizonte do controle. Num futuro de realidades mistas, no qual acessaremos diversos ambientes virtuais – e em cada um poderemos ter uma identidade distinta -, como fica nosso controle sobre essas interações e os dados gerados? Em um cenário especulativo e caótico explorado por Amy Webb, teremos que lidar com (ainda mais) senhas e logins – e o simples ato de recusar um opt-in não será mais suficiente para rejeitar que soluções de marketing se apropriem de forma descomedida de nossas informações, inclusive dados biológicos e de DNA. Em contrapartida, surgem soluções como a invisibly.com, que busca empoderar pessoas e seus próprios dados, oferecendo um ecossistema que basicamente troca dados por pontos, os quais podem ser usados para consumir conteúdo relevante e personalizado.
Parafraseando Amy Webb no fechamento de seu keynote: este é o fim – e este é o começo. Um estado em que a permanente transformação exige atenção, cooperação e objetivos sólidos que nos evoluem enquanto pessoas. Nós somos os responsáveis por tomar ação sobre o impacto dessa constância. Isso te conforta ou te dá medo?