Sapiens e o poder da comunicação corporativa
O jornalista Marcos Guedes explica como o storytelling pode ajudar a consolidar a comunicação e o posicionamento de uma marca
atualizado
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Se hoje tenho a oportunidade de escrever e me comunicar por meio deste artigo, com certeza isso só é possível em razão do Homo Sapiens ter desenvolvido uma linguagem única e versátil.
De acordo com Yuval Noah Harari, autor do bestseller Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, a verdadeira característica única da linguagem desenvolvida pela espécie humana é “a capacidade de transmitir informações sobre coisas que não existem”. Ou seja, a Revolução Cognitiva marca o surgimento de novas formas de comunicação.
Somando o fato de nós, seres humanos, termos a aptidão de consumir, armazenar e comunicar uma quantidade excepcional de informações, Harari aponta que “essa capacidade de falar sobre ficções é a característica mais singular da linguagem dos sapiens”.
O autor explica que todas as formas de cooperação humana eficazes e em grande escala (incluindo as empresas) se baseiam em mitos compartilhados que figuram no imaginário coletivo das pessoas: “Os Estados se baseiam em mitos nacionais partilhados. […] Sistemas judiciais se baseiam em mitos jurídicos partilhados”.
Mas, afinal, como as empresas estão lidando com a comunicação corporativa? As lideranças estão cientes dos desafios que a comunicação impõe? Será que os resultados não poderiam melhorar com estratégias de comunicação que geram engajamento e cooperação efetiva?
Segundo dados de pesquisa da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), um dos maiores riscos de governança corporativa está na falta de comunicação (59%) e de clareza na comunicação com seus stakeholders (50%). Além disso, a demora na divulgação de informações relevantes é vista como um risco (37%).
Ainda de acordo com a pesquisa: “57% das [empresas] participantes consideram a importância da comunicação externa da governança, se dirigindo de forma constante à comunidade e ao público ao qual a organização está inserida, para prevenir crises e projetar uma imagem de transparência e honestidade”.
Portanto, o que vemos aqui é que as ‘realidade imaginadas’, as ficções que as empresas comunicam são parte essencial da sua própria existência. Sem comunicação (interna e externa) não se constrói uma cultura forte e muito menos uma personalidade original para a marca.
Acredito que qualquer iniciativa ou empresa que deseja construir uma ‘love brand’ e consolidar seu posicionamento, é inevitável existir um alinhamento entre as lideranças e o(s) especialista(s) em comunicação para nortear a elaboração do planejamento estratégico.
O poder da comunicação é um alicerce vanguardista da espécie humana. Nenhuma empresa se mantém relevante no imaginário coletivo das pessoas sem investir em comunicação corporativa.
A capacidade humana de criar narrativas e contar histórias elaboradas que despertam o interesse (storytelling) foi decisiva para a nossa espécie transformar o rumo da humanidade. Segundo Harari, todas as esferas de cooperação humana são meramente realidades imaginadas. Tais ficções são algo que nós criamos e, enquanto as sustentamos, elas continuam exercendo influência na sociedade.
Portanto, as empresas que priorizam a comunicação institucional como elemento central da estratégia de governança estão um passo à frente, pois conseguem integrar de ponta a ponta a operação, engajando seus colaboradores com os ‘mitos corporativos partilhados’, sinalizando e dialogando estrategicamente com seus stakeholders, permitindo a efetividade das relações comerciais e mantendo um relacionamento saudável com seus clientes.
Ainda há alguma dúvida de que a comunicação corporativa é o termômetro das companhias? Não espere o estado febril contaminar todos os seus colaboradores, pois pode ser o fim da linha. Afinal, é como evidencia Harari:
“Contar histórias eficazes não é fácil. A dificuldade está não em contar histórias, mas em convencer todos os demais a acreditarem nela. Grande parte da nossa história gira em torno desta questão: como convencer milhões de pessoas a acreditarem em histórias específicas sobre deuses, ou nações, ou empresas de responsabilidade limitada? Mas, quando isso funciona, dá aos sapiens poder imenso, porque possibilita que milhões de estranhos cooperem para objetivos em comum.”
Marcos Guedes é graduado em comunicação social – jornalismo e especializado em Cultura e Educação. Ele tem mais de 10 anos de experiência em relações públicas e institucionais, assessoria de imprensa e comunicação corporativa e organizacional. Atualmente, é sócio e Head de Relações Institucionais do Educbank, ecossistema financeiro de educação básica na América Latina.