Pela primeira vez na história, mulheres são maioria no Web Summit
O Metrópoles conversou com algumas participantes do evento para entender o que está por trás dessa mudança
atualizado
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Pela primeira vez em 10 anos de história, o Web Summit teve mais participantes mulheres, alcançando o patamar de 50,5%. O percentual vinha crescendo desde 2016, quando a programação lançou o Women in Tech.
Para entender o que está por trás desse fenômeno, conhecer as histórias e ouvir as percepções do público feminino, o Metrópoles circulou pelos pavilhões do evento, onde centenas de startups colocam em prática os pitches. E entrevistou diversas mulheres dos mais variados países, idades e atuações – todas elas com uma relação especial com a tecnologia. Confira as histórias de quatro delas:
Coreana: do trauma em viagem ao novo negócio
A coreana Kim Hyojeong sempre gostou de viajar sozinha pelo mundo. O passaporte já tem o carimbo de cerca de 45 países. “Tudo era maravilhoso. Eu amava a experiência de me sentir confiante e independente”, conta Kim, de 28 anos. Vestida de unicórnio, ela chamava a atenção do público e era uma das expositoras no terceiro dia da programação.
Até que um dia se deparou com uma situação negativa: “Eu estava fazendo couchsurfing [rede social que conecta viajantes com pessoas que querem receber gratuitamente turistas em suas casas] em uma casa com uma família. E o homem que nos hospedou estava se masturbando enquanto eu dormia”, lembra.
“Eu fiquei tão chocada, tinha apenas 19 anos. E queria descobrir se isso só tinha acontecido comigo ou se outras mulheres também passaram por isso”. O ocorrido deixou Kim em pânico por um ano. Fazendo contato com outras viajantes, ela percebeu que esse tipo de acontecimento era muito mais comum do que imaginava.
A partir desse trauma, a coreana decidiu fundar a startup NomadHer. “É como um Tinder para viajantes mulheres”, atalha a CEO. A partir de um aplicativo, elas buscam o nome da cidade onde estão viajando e podem se conectar com turistas ou residentes daqueles locais. A ferramenta já ultrapassou a casa dos 10 mil membros, provenientes de mais de 170 nacionalidades.
Portuguesa: a futura jornalista
Madalena Abrantes é estudante de Jornalismo e moradora de Lisboa, cidade que sediou o Web Summit nas últimas edições. Aos 19 anos, está no segundo ano da faculdade. Pela primeira vez no evento, participa de uma cobertura para o canal de televisão RTP2 a partir de um convênio firmado com a Escola Superior de Comunicação Social.
O foco na programação é desmistificar alguns conceitos para a audiência. E, também, aprofundar-se em quatro tendências no universo da comunicação: inteligência artificial, proteção de dados, marketing digital e jornalismo inovador.
A virada feminina sobre os homens surpreendeu a estudante. “O Web Summit é um evento que recebe empresas, empreendedores e convidados que se interessam em investimento. E ter mais mulheres do que homens num evento destes é inacreditável. Deve ser marcado em notícias em todo o mundo”, expressa Madalena.
A futura jornalista aponta que esse fato inédito traz uma importância especial. “Normalmente, CEOs e diretores de empresas são sempre homens. E o fato de ter mais mulheres do que homens aqui mostra que o futuro está a mudar e é um bom caminho pela frente”, comemora. “A sociedade está a evoluir. Existem diferenças entre os homens e as mulheres, mas elas estão sendo cada vez mais apagadas em razão de eventos como este.”
Italiana: embaixadora da mudança
Após atuar como executiva corporativa, Francesca Maria Montemagno decidiu pivotar – para adotar o léxico do Web Summit para mudança – a carreira. A italiana, que estava em busca de investidores no evento, abriu há cinco anos a própria startup. E em uma data cheia de significados: 8 de março, Dia da Mulher. “É mais um símbolo da mudança”, brinca a italiana.
Natural de Sicília, ela é neta de uma judia e tem um irmão adotado que veio da África. “Eu fui desenhada para a mudança desde que eu era criança, porque eu venho de uma família realmente diversa. É o mixité, como dizem os franceses”, relata Francesca, que é formada em Direito, tem pós-graduação em Comunicação e Relações Institucionais e atuou por mais de duas décadas nas indústrias verde e de energia.
No estande na feira, a cofundadora da Smartive distribuía um folder que chamava a atenção dos transeuntes pelas letras garrafais: “você está pronto para o digital?”. A pergunta ajuda a explicar o negócio: uma ferramenta de análise de pessoas para medir a prontidão para a mudança.
“Nós precisamos ter pessoas prontas para o futuro. E isso significa que elas precisam ter as competências certas de digitalização, mas também disponibilidade para mudar”, comenta. “O trabalho é parte da nossa vida. E nós precisamos nos sentir conscientes e confiantes quando enfrentamos a rotina diária profissional”, complementa.
Ucraniana: à frente do Tinder do recrutamento
Oleksandra Bernatska define em poucas palavras o negócio que fundou: “A Skyworker é o Tinder para a busca de trabalhos em tecnologia”. Explicando de outra forma, é uma marketplace de capital humano desse segmento da economia. “As empresas tech internacionais podem dar um match com engenheiros de software do leste e do centro da Europa”, detalha a ucraniana.
Já são mais de 20 mil profissionais e 700 companhias cadastradas – uns atrás dos outros, como no aplicativo de encontros. “Há muitos problemas de recrutamento nesse mercado. Agora, o maior deles é atrair a atenção dos candidatos”, aponta, acrescentando que 70% das organizações estão enfrentando desafios para preencher vagas.
Por meio da plataforma, que tem um formato semelhante ao Tinder, as pessoas em busca de emprego veem apenas as oportunidades adequadas. Basta deslizar para a esquerda ou para a direita e pronto. “Nós não estamos limitados por qualquer fronteira, especialmente em razão da pandemia, que nos abriu um mercado de 40 bilhões de dólares. As empresas agora estão considerando contratar remotamente um engenheiro”, explica ela, que está à frente de um negócio lançado há apenas um ano, mas já é lucrativo e cresce 37% ao mês.
Quem anda pelos pavilhões do Web Summit percebe que os ucranianos estão por toda parte e em grande volume. Oleksandra esclarece o fenômeno: “Nós temos um dos maiores ecossistemas de engenheiros da Europa. Possuímos quase 200 mil engenheiros tech. E já conquistamos 18% desse mercado em um ano. Eles são experientes e mais baratos do que na Europa Central e, especialmente, se comparados com os americanos. Contam com bom nível de inglês e boas soft skills”, conclui.
O portal Metrópoles está presente no Web Summit 2021, em Portugal. A curadoria da cobertura tem a assinatura da Brivia, com geração de conteúdo da Critério — Resultado em Opinião Pública.