O Orkut retornará e fica a dúvida: terá a mesma força?
Ativação da rede social despertará a memória afetiva. Porém, sem novidades, terá dificuldades, diz Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence
atualizado
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Acordo de manhã e abro o Twitter, estão falando sobre política. Dou uma olhadinha no Facebook e me deparo com um textão dizendo coisas sobre uma celebridade que entrou em mais uma polêmica. No Instagram, as marcas disputam para ver quem faz a campanha mais chamativa – e isso se repete também nos anúncios do YouTube. Ai, meu Deus, esqueci de olhar o que estão dizendo no Orkut! Isso é tão anos 2000!
Mas será que precisamos mesmo da volta do Orkut? Qual a chance de acontecer uma fadiga coletiva em relação a tantos lugares para ver, postar e comentar? O retorno da rede ainda abre questionamento para muitas incertezas em meio a um mercado altamente competitivo.
Segundo dados divulgados em 2021 pela plataforma Cupom Válido, o Brasil é o terceiro país que mais usa redes sociais no mundo, com uma média de 3h42 por dia. Ao considerar todos os países, fica atrás somente de Filipinas e Colômbia, que gastam, em média, 4h15 e 3h45, respectivamente.
São mais de 150 milhões de usuários de redes sociais, e a taxa de usuários pelo total de habitantes é de 70,3%, um dos maiores entre todos os países. O Sudeste é a região com a maior taxa – cerca de 78% dos usuários utilizam redes sociais. Ao levar em consideração a faixa etária, o grupo entre 16 e 24 anos são os que mais utilizam essas ferramentas.
O comeback do Orkut traz consigo também mais algumas desvantagens que venceram as dobras do tempo: a rede social envelheceu mal. Mesmo tentando se apegar à nostalgia, os tempos são outros, cada vez mais líquidos, e a vida simples de meados dos anos 2000 não faz mais sentido agora, pois queremos tudo de forma imediata e a nossa ansiedade está ainda mais aflorada.
Outro fator que também atrapalha é a falta de pretexto para se conectar à rede. Hoje, a maioria das pessoas mal acorda e já vai pegar o celular para ver as novidades. Antigamente, marcava-se um evento para se conectar à internet.
Outros fatores também entram em questão: como os influenciadores vão utilizar a rede? E as marcas? Como vão funcionar os processos de publis pagos? Terá espaços para anúncios? Como a rede vai se adaptar para ser inclusiva e popular? Está tudo muito turvo e poucas coisas ainda sabemos sobre as novidades deste aguardado retorno.
Um fator positivo é que muitas pessoas vão acabar entrando novamente na rede por curiosidade. Uma das principais ferramentas do Orkut eram as comunidades, que reuniam um grande número de pessoas com interesses em comum. Mas isso já é possível fazer também no Facebook, que tem grupos abertos e fechados sobre determinados assuntos.
Em meio a tantas opções, para despertar novamente o interesse do público e bater seus mais de 300 milhões de usuários de 2015 e, quiçá, ultrapassar o número, o ineditismo e o fator surpresa serão fundamentais. Se não, a rede vai cair no mesmo limbo do Snapchat.
Ricardo Silvestre é CEO da Black Influence e referência em comunicação antirracista.