O home office morreu, viva o remote work
Pedro Luiz Pezoa, CEO da Pointer, aponta as evoluções do serviço remoto para os trabalhadores nos últimos meses
atualizado
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Em março de 2020, quando a pandemia de coronavírus foi anunciada pela OMS, pouco se sabia sobre o vírus. Muita incerteza sobre a gravidade da doença e nenhuma perspectiva de vacina. Diante disso, poucas certezas permearam o comportamento mundial, como uso de máscaras e o isolamento social. Assim, o mundo corporativo precisou se adaptar rapidamente. O trabalho em formato home office foi adotado por diversas empresas para preservar a saúde dos funcionários e para colaborar com a redução de contaminação que estava acelerada.
A iniciativa, feita às pressas e sem planejamento devido à urgência da situação, fez com que o improviso tomasse o lugar da cadeira de escritório para muitas pessoas. Para outras pessoas, além disso, o silêncio e o ambiente de concentração foram trocados pela rotina com os filhos, que também estavam em casa pelo mesmo motivo.
O que no início parecia ser uma realização para muitos trabalhadores, trabalhar em casa desencadeou uma série de problemas relacionados à saúde mental, como a síndrome de burnout. De acordo com estudo da Robert Ralf, analisando um ano de home office, 26% dos entrevistados apontaram que a sensação de equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho piorou. Além disso, 28% dos recrutadores acreditam que a saúde mental é a maior preocupação de 2021.
Essa preocupação foi o ponto de partida para uma pesquisa do Journal of Occupational and Environmental Medicine. O estudo, publicado em março deste ano, observou um declínio na saúde física e mental dos indivíduos que fizeram a transição para o novo modelo de trabalho. De acordo com a pesquisa, os principais fatores foram mudanças de hábitos alimentares, dos relacionamentos sociais, problemas de comunicação com os colegas e aumento de distrações durante o horário de trabalho. Além disso, pessoas com crianças pequenas em casa relataram piora dos sintomas em comparação aos lares que continham apenas adultos e adolescentes.
Outro possível motivo para a exaustão dos trabalhadores em home office é o excesso de reuniões on-line. Com uma ferramenta simples que pode conectar as pessoas rapidamente, o mundo corporativo perdeu a mão. Estar diante de uma plataforma de conversa por vídeo não quer dizer que os trabalhadores estão disponíveis a todo momento para fazer uma ligação.
Diante de um modelo ainda “descalibrado”, que foi se ajustando de acordo com os feedbacks de funcionários e preocupações dos departamentos de RH, a ideia do remote work é justamente combater aquela famosa frase “esta reunião poderia ser um e-mail”. Dar liberdade para que o trabalho seja feito de forma assíncrona, sem a necessidade de todos os colaboradores estarem conectados em tempo real com a empresa ou clientes, é a chave para que a produtividade não caia e seja possível colocar um limite nessas relações.
Com o tempo, empresas com departamentos de RH sólidos se comprometeram a melhorar a experiência, analisar práticas que não estavam funcionando e, finalmente, deixar o home office engessado de lado e dar espaço ao verdadeiro remote work, modelo de trabalho mais flexível e humanizado. O empresariado entendeu que o modelo funciona, os funcionários continuam entregando e, assim, é possível enxergar um novo futuro para o trabalho presencial. Os chefes já estão entendendo que boa parte dessas interações não é urgente e que algumas respostas podem vir um tempo depois sem nenhum prejuízo.
Segundo pesquisa da Salesforce, empresa global de softwares, 57% dos trabalhadores brasileiros desejam continuar trabalhando em suas casas. Com a confiança estabelecida na relação entre colaborador e empresa após meses de home office e a flexibilidade nas escolhas do modelo de trabalho, possibilitando que o sonho do trabalho remoto continue, e dessa vez, da forma certa. Grandes empresas como o Grupo Boticário, Facebook e Audi do Brasil já anunciaram o modelo completamente remoto, mesmo após a pandemia.
Diante de tantas empresas referência em todo o mundo mudando o rumo do formato de trabalho, quem insistir no trabalho presencial sem nenhuma negociação vai ter que lidar com um funcionário insatisfeito e, até mesmo, com uma taxa de turnover altíssima. Adaptar-se à realidade não é apenas uma questão de “modinha”. Garantir a satisfação dos funcionários, proporcionar infraestrutura para que ele tenha um ambiente adequado para fazer o trabalho e oferecer o poder de escolha é nadar a favor da corrente e manter funcionários que já estão adaptados à sua cultura.
Pedro Luiz Pezoa é CEO da Pointer, startup focada em contratações eficientes de profissionais de alto nível das áreas de Produto, TI e Design.