O Brasil envelheceu, e a publicidade caducou
O público 60+ não se sente mais representado pelas marcas. O que fazer para se reconectar com esse segmento social que não para de crescer?
atualizado
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Teremos cada vez menos jovens e cada vez mais idosos no Brasil. Mas, será que estamos preparados para conversar sobre isso? Infelizmente, não. Ainda não percebemos que a longevidade é um fato tão relevante para o século 21 como a sustentabilidade e a inteligência artificial.
É urgente pensar que o envelhecimento da população impacta em tudo e em todos. É um elemento que mudará as cidades – moradia, transporte, saúde, previdência – e o consumo. Permitam-me dizer: nós pensamos no velho de um jeito caduco.
Sempre falamos por meio das mesmas categorias: geriatrias, planos de saúde, medicamentos. Sempre tratamos esse grupo da sociedade de um jeito estereotipado e pouco espontâneo. Forçado. Caricato. Frágil. Em suma: focamos nas vulnerabilidades e esquecemos de todas as fortalezas.
Preconcebemos que o consumidor 60+ perde o protagonismo e caminha para a finitude. Estamos enganados! Basta abrir os olhos e visualizar a longevidade. Veremos vida. Sonhos e planos. Encontramos uma grande parcela de brasileiros que não se sente representada por marcas e pela publicidade.
De fato, a jornada de envelhecimento traz diversos desafios e dificuldades. Porém, precisamos abrir a mente e adquirir a sensibilidade de que esse processo não é igual para todos.
De novo: prejudicial é enxergarmos senilidade de um jeito caduco. Isso gera consequências sociais. Aqui, no Brasil, nós convivemos com várias facetas da diversidade, mas somos estruturalmente etaristas.
Como, então, pensar o marketing para esse público de um jeito novo? Há diversos pontos fundamentais para criar impacto positivo nas estratégias de publicidade. Destaco quatro aspectos:
Conhecimento: as campanhas devem apresentar a realidade e gerar conhecimento, já que a ignorância é o principal motor do preconceito e do senso comum, que dominam as conversas a respeito desse público. Abandone, de uma vez por todas, os estereótipos.
Diversidade: a comunicação voltada a esse público deve reconhecer a diversidade, seja ela qual for — abrangendo todas as classes socioeconômicas, todas as regiões brasileiras e todas as características étnico-sociais. O etarismo deve ser substituído por uma mudança de mentalidade.
Ideias: é necessário propor o novo e trilhar novos caminhos. E, a partir disso, incluir esse segmento nas estratégias de comunicação e marketing. Precisamos promover estudos de comportamento e pesquisas de mercado. Estou falando de inclusão verdadeira.
Marketing: devemos conscientizar o público em relação aos quatro pilares essenciais, conforme explanado por especialistas sobre o tema: long life learning; alimentação e práticas saudáveis; planejamento financeiro; e convívio social.
Acima de tudo, sejamos sensíveis para perceber que a idade não define quem somos, mas como pensamos, sentimos e lidamos. Longevidade ao tema!
Alessander Bellaver é gerente de marketing da ABF Developments.