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Mulheres que correm com os lobos (de Wall Street)

Empreender não é fácil, mas dá prazer e orgulho ver aonde chegou, afirma Roberta Scrivano, sócia da Ovo Comunicação

atualizado

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The Climate Reality Project/Unsplash
coletiva de imprensa com destaque para repórteres fazendo anotações
1 de 1 coletiva de imprensa com destaque para repórteres fazendo anotações - Foto: The Climate Reality Project/Unsplash

Selo Mulheres EmpoderadasFui repórter de Economia de vários jornais do Brasil durante quase 15 anos. O jornal, em geral, entra no esquema diário de fechamento a partir do fim da tarde. Todo mundo concentrado em terminar de escrever seu texto, enquanto revisores esperam para recebê-los. Editores são os últimos a pegar o material, para pôr o título e tirar qualquer dúvida que haja com o autor da reportagem. Às vezes é mais desorganizado que isso. Sem exceção, é um momento de concentração total para não atrasar o envio da página para a gráfica, evitando um elevado prejuízo financeiro para a empresa.

Vira e mexe é justamente neste momento de foco máximo que o telefone da mesa do repórter toca. Quem incomoda a essa hora? Duas opções: a mãe querendo falar sobre um assunto corriqueiro ou um assessor de imprensa sem noção incomodando com um assunto nada a ver.

Não à toa, passei esses 15 anos com o telefone da mesa do jornal com a campainha desligada. Assim como 90% dos repórteres, nunca quis ser assessora de imprensa. Tinha pavor de ser essa pessoa inconveniente. Como cuspir para cima é sempre um risco enorme à sua própria testa, um dia, a já reconhecida Paula Ponzi — uma das raríssimas exceções deste mundo do RP (sigla que quer dizer relações públicas, um sinônimo para assessor de imprensa) —, me procurou para tomarmos um café.

Conversamos sobre os seis clientes que ela estava atendendo, num esquema quase que freelancer depois de vários anos à frente da comunicação de uma empresa que se tornou relevante no mercado financeiro por causa de seu discurso ultra-mega-bem afinado. No fim dessa conversa entre assessora e repórter e uma série de boas pautas trazidas por ela, Paula me perguntou se eu não teria interesse de montar com ela uma empresa, que já começava com essa carteira excelente e tinha o nome Ovo Comunicação.

A ideia inicial, talvez por sermos mulheres e nunca termos sido encorajadas a empreender, era combinar o trabalho com a vida pessoal. Ambas tínhamos tido filhos recentemente — isso é um dos motivos do nome Ovo, que também tem a ver com o renascimento das nossas carreiras.

A maternidade, aliás, diferente do consenso patriarcal, nos torna mais produtivas, eficientes e assertivas na tomada de decisão. Maternidade é melhor que qualquer MBA, parafraseando a Paula. Estabelecemos entre nós que faríamos um trabalho de muitíssima qualidade e sob medida para os clientes e para os jornalistas. Nossa ideia era ser diferente de qualquer outra agência de RP. Criamos um método de trabalho nosso, sempre muito afinadas e sintonizadas.

Pois muito bem! A gente se completava. Paula, com seu repertório acumulado na comunicação corporativa, me ensinou a pensar estrategicamente. Seu relacionamento nos conectou aos principais executivos do mercado financeiro. Do meu lado, agreguei sobretudo o relacionamento com as redações e com jornalistas. Funcionávamos como uma máquina muito bem azeitada. Era o match perfeito.

Não tínhamos business plan, aprendemos a lidar com as burocracias de empreender no Brasil e começamos organicamente a criar a reputação da Ovo e a crescer. Saímos de seis clientes para 15, 25, 30. E nosso telefone não parava de tocar. De um funcionário para 5, 10, 15. De uma salinha de dois metros quadrados num co-working de amigos, para uma sobreloja de 20 metros, até chegarmos num charmoso prédio comercial com vaga na garagem e crachá para todo mundo. Hoje, quatro anos depois, estamos entre as 10 maiores agências do Brasil em termos de faturamento, com 60 clientes do mercado financeiro e de inovação. O desafio principal é manter a qualidade, selecionando com muita atenção os colaboradores e cuidando da cultura Ovo, que é forte e bem estabelecida.

Empreender não é fácil. Nos dias tranquilos, temos um desafio para vencer. Nos dias normais, são três, quatro ou mais. Temos prazer e orgulho do que construímos. Onde vamos chegar? Continuamos sem business plan. Mas com a missão de entregar o melhor serviço possível.

Roberta Scrivano é jornalista com MBA em Finanças e Mercado de Capitais. Tem quase 15 anos de experiência na cobertura de Economia e Negócios, com passagens por veículos como O Globo, onde recebeu o Prêmio Esso na categoria reportagem em 2015. É sócia da Ovo Comunicação desde 2018.

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