Impacto pandêmico na saúde mental faz mercado repensar benefícios
Procura pelo cuidado com a mente cresceu 1.750% nos últimos meses
atualizado
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Há mais de um ano vivendo em meio à pandemia do coronavírus, naturalmente a preocupação com a saúde mental está em alta. Com as mudanças na rotina e as novas demandas da casa e do home office, alguns impactos já podem ser percebidos. Na comunicação, é comum vermos profissionais além do horário do expediente e nos finais de semana tratando de assuntos referentes ao trabalho – uma linha cada vez mais tênue entre pessoal e profissional.
Dados do site Psicologia Viva indicam que a procura pelo cuidado com a mente cresceu 1.750% após a pandemia, quando comparado com os primeiros meses de 2020. Somado a isso, pesquisa do International Stress Management Association (ISMA) revelou que nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentaram sintomas de ansiedade. Vale lembrar que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Evandro Alecrim, analista de marketing, passou por uma crise de ansiedade fortíssima em 2018. Ele conta que na época chegou quase a entrar em depressão. “Precisei de uma pausa”, relembra. E sua superação para este mal foi aprender através da música. “Tive uma inspiração e decidi trazer o que tava dentro de mim para as letras, mas de forma positiva e ajudando assim outras pessoas através da minha arte com uma mensagem pra cima”, conta.
De lá para cá, a música se tornou o melhor escape para o estresse. “Tiro esses momentos para ser o Evandro na essência. Este é também meu combustível para ser o cara que sou no trabalho, por exemplo”, diz ele. Tanta dedicação rendeu um novo single que será lançado em 23 de abril. “A música Único fala sobre sermos quem somos de forma genuína”, conclui.
Essa válvula de escape é mais do que necessária no dia a dia. Pensando em formas de oferecer isso e enxergando oportunidade de mercado, Julia Cohen e outros dois sócios fundaram a Swood. Com objetivo de ajudar as empresas a cuidarem dos colaboradores, a fintech tem sede em Portugal, mas foi criada por três brasileiros. Há planos, inclusive, de aterrissar no Brasil em breve.
A ideia da Swood é estruturar com as organizações parceiras a oferta de uma quantia por mês para que o colaborador possa usar da forma como desejar – com cultura, educação, bem-estar, saúde, entre outros. “Damos ao colaborador a liberdade de escolha”, informa Julia.
A especialista explica que hoje em dia, os funcionários estão interessados em algo além do salário e, por isso, as empresas têm buscado a oferta de benefícios flexíveis.
O mercado também está de olho neste movimento. Recentemente, a rede social LinkedIn, da Microsoft, decidiu dar uma semana de folga para todos os mais de 15 mil colaboradores. Em setembro do ano passado, o Google deu um dia de descanso às equipes e o Facebook permitiu uma semana de folga no feriado de Ação de Graças nos EUA, comemorado em novembro.
Para Anselmo Pinheiro, diretor de operações da agência Propeg e presidente do Sindicato dos Publicitários de Brasília (Sinapro-DF), a pandemia trouxe uma mudança gigante de comportamento. Para ele, a demanda não aumentou necessariamente nas agências, mas o trabalho está diferente.
Apesar da reinvenção do formato de trabalho, ele disse que recebe relatos de funcionários que estão mais à vontade. Por isso, muitas empresas já pensam em instituir esse modelo no pós-pandemia. Segundo ele, o momento é de adaptação das demandas e garante que o Sinapro-DF não tem recebido reclamações.
“A gente pensa, sim, em oferecer benefícios. Afinal, tudo é muito novo neste momento, a chave virou muito rápido”, argumenta. “A preocupação de oferecer mais conforto existe, mas ainda não há regras”, conclui.