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“Quando as marcas não abrangem PCDs, elas perdem”, critica influencer

Fernando Campos, influenciador deficiente visual tem mais de 300 mil seguidores no Instagram, conta como desmistifica estereótipos nas redes

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Divulgação/Arte: Lucas Jonathan
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1 de 1 #SouInfluencer-3 - Foto: Divulgação/Arte: Lucas Jonathan

“Entendi que as pessoas prestavam atenção no que eu falava e paravam para me ouvir. Comecei a produzir conteúdos de forma muito natural, pois sempre gostei de me comunicar e de expressar. De certa forma, notei que minha fala tinha relevância para elas”. Foi assim que Fernando Campos se percebeu como influenciador digital. Ele, que tem mais de 300 mil seguidores só no Instagram, não nasceu cego, mas teve retinoblastoma, câncer na retina, quando era criança.

No entanto, a doença não impediu que ele continuasse a persistir no que acreditava. Natural de Natal, no Rio Grande do Norte, Fernando mora atualmente em São Paulo. O jornalista conta que as pessoas têm bastante curiosidade sobre como é que um cego utiliza o celular, por exemplo. “Foi justamente por causa disso que fui desmistificando estereótipos e preconceitos acerca da vida da pessoa com deficiência”, frisa ele, que cria conteúdos de forma bem humorada e artística nas redes sociais. 

Em entrevista à série de publicações que o Metrópoles está produzindo com influencers, Fernando Campos revela como definiu o nicho dele e também como desmistifica esteriótipos nas redes sociais. Confira!

Você luta bastante contra o capacitismo e aborda conteúdos inclusivos. Qual a importância das marcas contemplarem esses assuntos em publis?

Nós somos 18 milhões de pessoas com deficiências diversas no país, é um número bem considerável. Essas pessoas são consumidoras. Muitas vezes deixam de consumir porque o produto não está acessível ou é viável a elas. Vale ressaltar que elas têm total interesse em estar no mercado de trabalho, de se divertir e de ter lazer. Por isso, quando as marcas não abrangem acabam perdendo uma fatia de mercado considerável por fatores muito pequenos. Então elas precisam dar lugar à fala e também ouvir essas pessoas, tê-las nos seus times, além de contratar influenciadores com deficiência. Quando as marcas abraçam isso, com certeza elas estarão sendo inclusivas e, consequentemente, promovendo acessibilidade. 

Durante sua trajetória como influencer, qual foi o principal desafio que você enfrentou? 

Eu, como pessoa com assistência visual, enfrento alguns desafios devido à falta de acessibilidade das redes sociais. Vejo que às vezes elas avançam em alguns aspectos, mas também existem alguns retrocessos. Por exemplo, há um tempo atrás eu não conseguia ver nada dos stories. Eles eram completamente inacessíveis para mim, a não ser que fosse um vídeo falado para eu poder saber o que tinha lá. De um tempo para cá eu já consigo ler as legendas, mas ainda existem limitações, como quando preciso de ajuda para postar. Na maioria das vezes, consigo publicar uma foto sozinho, mas corre muito risco de eu cortar o topo da cabeça ou não ficar bem enquadrado, porque eu preciso muito da ajuda de outras pessoas. 

Como você organiza sua rotina com a gravação de vídeos para a internet? 

Faço cronograma semanal do que vai ser postado, intercalando vídeos educativos que desmistificam o preconceito e o estereótipo acerca da pessoa com deficiência. Tento otimizar a gravação de conteúdo sempre em dois dias da semana, mas isso pode mudar de acordo com o andamento da semana. Importante ressaltar que meu marido é quem me ajuda, atualmente a gravar os conteúdos. 

Em algumas entrevistas você disse que recebe muitas mensagens de mães e crianças cegas dizendo que querem ser iguais a você, ou seja, se sentem representadas assistindo aos conteúdos que produz. Qual o seu sentimento em relação a isso?

Sinto que estou no caminho certo, buscando trazer representatividade, que é muito importante porque traz pertencimento. Quando era pequeno, lembro que não tinha um apresentador de TV com deficiência que eu pudesse me espelhar e querer ser igual, não tinha um super-herói cego que eu pudesse me identificar. Então, a internet trouxe muitas oportunidades e deu voz a vários influenciadores que fazem trabalhos incríveis. É uma injeção de ânimo quando recebo uma mensagem dessa. Quando trabalhamos com a internet, muitas vezes ficamos desmotivado por diversos fatores, porque queremos entregar um conteúdo de forma mais assertiva, e às vezes os algoritmos não colaboram.

Por isso, quando chega uma mensagem dessa eu penso: ‘ok, ela está chegando a quem precisa chegar, além de fazer a diferença. Então, estou cumprindo com a minha missão’.

Em 2011, você foi vetado de participar da novela Malhação. Hoje, você acumula mais de 300 mil seguidores só no Instagram. Como você avalia esse veto do passado com o atual sucesso nas redes sociais?

Fico muito feliz por hoje ser um produtor de conteúdo que influencia pessoas. Acredito que o que aconteceu mostra como as produções audiovisuais e a arte precisam valorizar a diversidade e, realmente, fazer inclusão e pertencimento nos espaços, pois há inúmeras pessoas com deficiência que são talentosas. Mas, também sei que o ocorrido foi um fato isolado e não representa a opinião da empresa, pois após aquele episódio tive outras oportunidades e aproximação com eles. Dessa forma, percebo o interesse deles em serem inclusivos, como campanhas que lançaram para combater o preconceito e a valorização de atores PCDs nas novelas, como a Juliana Caldas, Samanta Quadrado e Tabata Contri. 

Além de influenciador, você é jornalista e lançou o livro “Enxergando além do atlântico: uma jornada ao Reino Unido”. Qual foi o principal start para a escrita da obra, além do intercâmbio para a Inglaterra? 

Sempre gostei de escrever e contar histórias. Quando fui fazer intercâmbio, me diziam muito para escrever um diário enquanto estivesse lá para depois produzir um livro. Não tinha tantos registros, apesar de pessoas cegas já terem feito intercâmbio antes de mim, não tinham nada sobre as experiências delas. Lá no intercâmbio, entre demandas de estudo e curtição, separava alguns dias para escrever. Mas, como é tudo muito intenso nessas experiências, percebi que, quando cheguei da Inglaterra, estava tudo muito fresco em minha memória. Vivi experiências muito marcantes, então comecei a trabalhar nessa obra e a me especializar na área da literatura. Fiz pós-graduação em escrita criativa e outros cursos, inclusive, é uma área que eu quero cada vez mais me aprofundar, pois pretendo lançar novos livros. Esse é um recorte autobiográfico, mas quero me aventurar por outros caminhos, como romances e contos. 

Qual a mensagem que você deixa para aqueles que desejam ser influencers, mas que sentem medo por causa dos desafios? 

Todas as profissões têm desafios, viver implica nisso. Precisamos ter coragem. Você lidar com um algoritmo temperamental traz alguns gatilhos de ansiedade. Também temos que saber o momento de soltar o celular e fazer aquele detox. Isso é muito importante. Também é necessário ter uma base que te ajude a manter os pés no chão, que tranquilize também, que saiba lhe impulsionar, e frear em alguns momentos. 

Qual foi o trabalho que você mais gostou de fazer até agora como influenciador? Por quê? 

Curti muito de uma parceria que eu tive com a Globoplay durante alguns meses. Também viajei para fazer um trabalho para algumas cidades do Nordeste. Fiz algumas ativações junto a Engov e Multilaser no Carnaval de Salvador que foram incríveis.

Qual foi a coisa mais marcante durante a carreira de influencer até agora?

Minha participação no programa Domingão do Huck. Participei do The Wall com o intuito de conseguir dinheiro para informatizar o Instituto do Cego do Rio Grande do Norte. Foi uma experiência muito boa, porque impulsionou a minha carreira de uma forma significativa e me apresentou para um público maior. Posso até considerar o Hulk como um dos padrinhos da minha carreira. Também acho que naquele dia eu consegui levar muitas mensagens importantes sobre a realidade da pessoa com deficiência, além de desmistificar estereótipos. Também tem os momentos com Ivete Sangalo, algo muito significativo para mim. 

Metrix

Desde 2023, o portal Metrópoles conta com um braço próprio para atender o mercado de marketing de influência: a Metrix, um ecossistema de desenvolvimento de projetos entre marcas e criadores de conteúdo. A iniciativa visa desenvovler a conexão entre talentos e oportunidades no mercado de influência.

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