Faltam mulheres negras na chefia do setor publicitário, mostra estudo
Levantamento realizado pela consultoria Gestão Kairós e o ODP aponta que, no Brasil, a publicidade é branca e masculina
atualizado
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Mulheres negras seguem sendo sub-representadas no quadro funcional e principalmente na liderança das agências de publicidade e propaganda no Brasil. A informação consta no estudo inédito intitulado Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras – ODP 2023, lançado recentemente como forma de compreender os desafios de representatividade no setor. Segundo o levantamento, mesmo ocupando 57% do quadro geral das agências, a presença feminina na liderança precisa ser acelerada, especialmente quando se trata de mulheres negras, que são 21% desse contingente.
A pesquisa foi realizada pela Gestão Kairós — Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade em parceria com o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), associação criada em julho de 2021 com o objetivo de acelerar a inclusão de grupos minorizados na indústria da comunicação.
Ao todo, participaram 29 agências signatárias do ODP e, como resultado, foi obtida uma amostragem de participação de 24 agências (83% dos respondentes), que informaram dados de diversidade, em um universo de mais de 6.200 funcionários.
Segundo Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós e conselheira de diversidade, “refletir sobre diversidade nas estruturas organizacionais é compreender que estamos sempre analisando a temática do ponto de vista da alteridade, ou seja, em oposição ao status quo que, segundo essa pesquisa, aponta uma publicidade e propaganda brasileira liderada por pessoas brancas, que correspondem hoje a 88% da liderança (nível gerente e acima) e 92% do nível CEO/presidente e por homens que são respectivamente 50,2% e 85% dessas posições”.
Os dados do Censo também mostram que há lacunas exponenciais quando se pensa na interseccionalidade de gênero e raça, já que, na liderança (nível gerente e acima), as mulheres em geral representam 49,8% e negros (pretos + pardos) somam 10,3%, já a interseccionalidade de mulheres negras somente 4,6%.
O cenário é ainda mais desafiador no nível CEO/presidente – recorte que é um grande diferencial nessa modalidade de pesquisa – tendo 15% das cadeiras ocupadas por mulheres, 8% por negros (pretos + pardos), mas com a ausência total de mulheres negras na cadeira número um das agências.
“Durante o processo de trabalho com o ODP, nessa iniciativa pioneira, entendemos que o primeiro e mais importante passo a ser dado seria mapear como as agências compunham quadros internos, afinal, sim, notamos um aumento na representatividade de mulheres negras em comerciais e propagandas, mas é urgente que essa valorização e protagonismo aconteçam também dentro das próprias agências”, destaca Liliane Rocha.