Autorregulação das Big Techs falhou, diz Avaaz
Decisão do Facebook de manter Donald Trump banido da rede pode ser um indicador de como as empresas passarão a lidar com a desinformação
atualizado
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O conselho independente formado por 20 juristas, ativistas e jornalistas que deliberam sobre questões relacionadas ao conteúdo das plataformas do Facebook manteve nesta quarta-feira (5/5) o banimento do ex-presidente norte-americano Donald Trump da rede social e também do Instagram.
O painel de especialistas ressaltou que apoia a suspensão das contas porque as publicações do ex-líder durante o ataque ao Capitólio, em janeiro deste ano,”violaram gravemente as regras” de utilização da rede social. No entanto, considerou que a sanção, por tempo indefinido, é arbitrária.
Em resposta, Trump disse que a decisão é uma “total desgraça” e que as companhias podem pagar um preço “político” pelo fato. De acordo com levantamento da Zignal Labs, empresa que analisou alegações de fraude na disputa eleitoral americana, após o banimento de Donald Trump do Twitter, em janeiro desde ano, houve queda de 73% em posts com desinformação sobre a eleição americana.
Repercussões
De acordo com jornais internacionais, a decisão da corte do Facebook era muito aguardada justamente porque serviria como parâmetro de como uma das maiores empresas de rede social do mundo tratará essas questões de violações de conteúdo daqui para frente.
O assunto é uma das principais preocupações dentre as empresas, organizações e entidades que lidam com comunicação. No Brasil, por exemplo, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP) e a Associação Nacional do Jornais (ANJ) acompanham de perto os desdobramentos dessa e de outras questões relacionadas às Big Techs.
A Avaaz, organização não-governamental global, é um dos atores que seguem ativamente o assunto. “Temos milhões de membros em todo o mundo e nos cansamos de assistir aos efeitos nocivos da desinformação destruindo democracias, ou colocando em risco nossas vidas e nossa saúde. As plataformas de tecnologia não estão agindo eficazmente”, diz Laura Moraes, coordenadora sênior de campanhas da Avaaz. Segundo ela, responsável pelas campanhas de desinformação na plataforma, apesar de três anos de trabalho cobrando responsabilidade delas, é evidente que a auto-regulação falhou. “Estamos pressionando por uma regulação eficaz e baseada em soluções que funcionem comprovadamente”, defende.
Hoje em dia, a Avaaz mantém uma equipe pequena capaz de identificar consistentemente a desinformação e os maus atores que a promovem. “Se nós conseguimos identificar este material, uma empresa bilionária com dezenas de milhares de funcionários focados no assunto certamente também pode – e pode ainda ir além”, argumenta Laura.
Pesquisas encomendadas pela Avaaz comprovam que mostrar os fatos aos usuários de redes sociais que viram informações falsas ou enganosas pode diminuir pela metade a crença na desinformação. Laura afirma que as plataformas também deveriam “desintoxicar” os algoritmos, assegurando que a desinformação identificada tenha alcance reduzido em nossas telas, e que não seja amplificada. “Ainda, é preciso que elas impeçam que a desinformação seja lucrativa. Também precisamos que as plataformas sejam transparentes sobre a natureza e a escala da ameaça da desinformação e sobre as medidas que estão sendo tomadas para proteger a sociedade contra ela”, conclui.
Regulação
Para a Avaaz, o Brasil precisa de uma regulação eficaz para combater a desinformação. “Existem muitos projetos de lei em discussão, alguns são muito danosos e outros precisam ser aperfeiçoados. A regulação não deve se concentrar na criminalização de usuários que poderiam compartilhar notícias falsas, por exemplo – isso é uma ameaça à liberdade de expressão”, diz a coordenadora. Para a organização, quaisquer novas leis deveriam visar melhorar o sistema, trazendo mais transparência e assegurando que as plataformas não fechem os olhos para a desinformação que é difundida sob sua tutela.
Todos os estudos da Avaaz e outras informações importantes sobre o tema estão disponíveis no Hub da Desinformação: www.avaaz.org/saibamais.