Autoconfiança é fundamental
Elogiar e compartilhar o sucesso de outras mulheres para aumentar o reconhecimento delas, diz Dora Oliveira, strategy director na i-Cherry
atualizado
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Sou uma das primeiras pessoas do meu núcleo familiar com acesso a um curso superior. Filha de nordestinos, ainda me considero uma menina sonhadora mesmo perto dos meus 40 anos e uma mulher realizadora. Ao longo desses anos de carreira, sempre acreditei em realizar, mesmo em contextos com situações mais adversas ou quando fui desafiada a ser a primeira a fazer, em desbravar o desconhecido.
Quando iniciei minha carreira dentro do Marketing Digital como analista de Web Analytics, fui, durante muito tempo, a única mulher na equipe. Muito determinada e apaixonada pela área, me tornei gestora em cerca de dois anos e demorei pelo menos mais um para conseguir contratar outra mulher. Geria um time majoritariamente masculino com perfis muito técnicos e era muito difícil aparecer currículos de mulheres.
Sabemos que até pouco tempo atrás era muito comum ouvir a fadada classificação de coisas de meninos x coisas de meninas, o que por muito tempo afastou e dificultou o caminho das mulheres a cadeiras de liderança, principalmente quando pensamos em área mais técnicas ou exatas. Juntando essa divisão com outros fatores socioculturais, ainda colhemos resultados dolorosos.
Uma pesquisa da Revelo mostrou que mesmo nas áreas em que as mulheres são maioria, como marketing on-line (54%), são os homens que ocupam a maioria dos cargos de liderança (57%). Áreas mais desiguais trazem números ainda mais expressivos. Em TI e desenvolvimento, que têm, respectivamente, 13% e 11% de mulheres, os homens ocupam cerca de 92% das posições de chefia.
Os desafios são inúmeros e cito abaixo alguns que considero pertinentes e que podem ajudar outras mulheres a reconhecerem-se e, quem sabe, ganharem mais respaldo para vir a superar certas situações.
Estilo de Liderança
Como citado anteriormente, todos os fatores socioculturais no contexto de gênero refletem no ambiente corporativo; muitos esperam que uma líder tenha um estereótipo dócil ou trazem citações machistas quando a líder tem um estilo mais arrojado de ser.
Segundo levantamento sobre igualdade de gênero elaborado pela Ipsos, 27% (quase um terço) dos brasileiros se sentem desconfortáveis quando a chefe é uma mulher. Este fato acaba fazendo com que nós tenhamos que nos esforçar mais e em repetidas situações ter que provar o quanto somos capazes e capacitadas naquilo que fazemos.
Síndrome do Impostor
Eu considero que, entre todos os desafios para nós mulheres, a insegurança é uma das mais presentes e mais difíceis de lidar. Infelizmente, tornou-se normal para as mulheres enfrentarem muitos obstáculos para conquistar lugares de destaque, o que acaba por minar o fato de acreditarmos em nosso potencial.
Por isso sempre reforço que a autoconfiança é fundamental no processo pela busca ao posto que se almeja. Um estudo realizado pela Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, mostrou que 70% das entrevistadas, todas executivas influentes, se sentem “uma fraude”, ou seja, não merecem os cargos que ocupam.
Parece que nunca somos boas o bastante para ocupar determinados lugares ou posições. Esse dado é muito impulsionado pela falta de credibilidade que muitos trazem para a figura feminina em cargos de gestão ou em cargos antes vistos como de homens.
Para vencer esse obstáculo, é sempre bom buscar ajuda de um especialista ou grupos de apoio.
Algo que me marcou e mudou muito a forma como me vejo foi minha participação no workshop #IamRemarkable, uma iniciativa do Google que capacita mulheres e outros grupos sub-representados a comemorar suas conquistas no local de trabalho e além.
É importante construir uma rede de apoio, ter mentores, estar cercadas de pessoas que admira e que você sabe que serão sinceros nos aconselhamentos. Nessa jornada é imprescindível aceitar suas vulnerabilidades e sempre continuar aprendendo e evoluindo.
Precisamos também falar mais sobre nós e sobre as outras. Vejo como é difícil se reconhecer no mercado de liderança feminina. Afinal, temos déficit de cases de destaque e poucos holofotes para mulheres incríveis. Por isso, SEMPRE que puder, elogie e compartilhe o sucesso das mulheres ao seu redor.
Busca pela equidade
Como mulher, não poderia deixar de falar sobre a busca pela equidade de gênero dentro da equipe: hoje somos mais de 60 pessoas e me orgulho muito em dizer que sim, somos um time diverso e isso só foi possível por meio de um árduo trabalho do nosso time de RH e o entendimento do meu time de gestores para a necessidade de diversificar os perfis na busca por inovação técnica e comportamental.
Destaco esse ponto não somente como um fator social e sim de negócios. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho. Já o estudo “Diversity Matters”, da consultoria McKinsey, comprovou que organizações que possuem equipes executivas com equidade de gênero têm 14% mais chances de superar a performance dos concorrentes e corporações em que a equalização de oportunidades é perceptível, possuem 93% maior probabilidade de obter um desempenho financeiro superior ao da concorrência.
O segundo ponto que precisamos estar atentas é em como vamos receber e encorajar um time diverso. Eu acredito que as mulheres que vão chegar precisam herdar um ambiente mais equalizado e propício ao crescimento, por isso faço questão de reconhecer a potencialidade feminina e dar espaço, voz, cargo, caminhos e tudo o que for possível às mulheres ao meu redor.
Por fim, gostaria de encorajar todas as mulheres a acreditarem no seu potencial. As inúmeras qualidades que temos precisam ser compartilhadas com todos, reconhecidas e, acima de tudo, devemos apoiar umas às outras para ocuparmos o espaço que escolhermos. Juntas somos mais fortes.
Dora Oliveira é strategy director na i-Cherry e tem mais de 12 anos de experiência em Marketing Digital. Atualmente, lidera uma equipe com mais de 60 pessoas na agência.