Agropecuária: como a mulher vem ganhando espaço com apoio das redes
Em um universo majoritariamente masculino, plataformas virtuais e a comunicação especializada vêm ajudando a amplificar as vozes femininas
atualizado
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Reprodução/Instagram
No Brasil, a agropecuária é estratégica. Afinal, o segmento é responsável por quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e praticamente metade das exportações do país. No entanto, esse ainda é um mercado tido como predominantemente masculino, o que afeta diretamente a forma como a comunicação e a publicidade sobre esse assunto são pensadas.
Diante deste contexto, a engenheira agrônoma Vanessa Sabioni criou em 2017 o projeto Agromulher, um portal de comunicação especializado em notícias, capacitações e serviços com o propósito de inserir e valorizar as mulheres que atuam no setor, além de compartilhar histórias do campo, como sucessoras, gestoras, professoras e profissionais da área. Atualmente, elas já são responsáveis por 34% dos cargos gerenciais no agronegócio brasileiro. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Natural de Minas Gerais e filha e neta de agrônomos, a especialista conhece muito do universo do campo. Segundo ela, este é um ambiente mais machista, em que nunca houve equidade. Portanto, a ideia do Agromulher surgiu como mecanismo para amplificar os espaços das mulheres e criar um arsenal tecnológico que as destacasse. “Sempre me voltei muito para essa frente da capacitação e da criação de conteúdo para outras mulheres. Este foi um grande pontapé para criar frentes e comunidades”, relembra Vanessa. Segundo ela, quando o portal começou, não havia mulheres na mídia fazendo ou participando das comunicações. “Fui pioneira”, orgulha-se.
Além dos treinamentos e conteúdo segmentado, Vanessa trabalha juntamente com empresas em projetos especiais de branding e mídia, focados no público do campo. Como CEO do Agromulher, ela acredita que a diversidade na propaganda está crescendo, mas a presença da mulher do campo é quase nula. Uma parte do trabalho é exatamente trocar conhecimento com as empresas para garantir mais representatividade no mercado. Afinal, o agro é muito importante economicamente para o país e saber se comunicar de forma assertiva com esse nicho é fundamental para várias organizações e marcas.
Mercado especializado
A agência Muta atende o segmento agro há mais de sete anos e segundo as sócias, o meio é muito masculino. Não só no campo, mas em todos os pontos de contato, como a cadeia produtiva, áreas de marketing, entre outros. Recentemente, no entanto, a agência vem percebendo um aumento gradual de mulheres nos negócios.
Para Clarissa da Rosa, o público feminino vem ganhando espaço porque elas estão se inserindo cada vez no contexto. Ou seja, pela agricultura familiar, em cargos de sucessão, nas redes sociais, além do aumento de mulheres que buscam formação em áreas específicas do campo. “Elas estão ganhando visibilidade porque têm buscado esse lugar, bem como buscado o eixo da profissionalização”, comenta.
Outra mudança são as feiras – bem comuns no universo do campo pré-pandemia. Além de uma presença maior de mulheres nos eventos, Clarissa diz que começou a aparecer mais solicitação para usar nos banners, por exemplo, imagens com mulheres e fugir do estereótipo do agricultor homem. A especialista conta que as empresas deste mercado têm buscado campanhas mais humanizadas. “O que antes era restrito ao processo de venda, hoje é mais sobre entender a jornada do agricultor como um todo”, argumenta.
Influenciadores digitais
As mudanças no perfil do mercado afetam diretamente a forma como a comunicação é pensada para atingir este público. Pesquisas indicam que o tomador de decisão no campo é um homem de aproximadamente 46 anos, conectado e ávido por informação, que difere totalmente do estigma de senhor desatualizado. Dados apontam que 90% dos produtores acessam as redes sociais para se informar sobre processos e 70% destes produtores utilizam Whatsapp como troca de informação e até para fechar negócios.
Em um país diverso como o Brasil, em que a agricultura é essencial para a economia, as marcas precisam encontrar formas de falar com o tomador de decisão. Isso combinado a maior presença feminina nos negócios, a ampliação de informações segmentadas, como é o caso do portal Agromulher, aceleração digital na pandemia e o advento das redes sociais deu voz a um novo tipo de comunicação feito por meio dos agro influencers.
Para Rachel Frota, sócia da Muta, o aumento dos influenciadores digitais como ferramenta estratégica para atender nichos é um movimento global que vem sendo mapeado desde 2017/2018. “O Brasil é diverso. Microinfluenciadores trazem um olhar mais de proximidade e confiança e podem ajudar a entender mais do negócio de cada região”, diz.
Atualmente, há uma infinidade de perfis sobre o assunto, mas algumas mulheres que se destacam são: @deniseresend; @prioriagro; @caamilatelles; @camilaagro e @rwdmann.