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Nesta segunda-feira (21/09), celebra-se o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência. Para marcar a data, a coluna conversou com a youtuber Mariana Torquato, do Vai Uma Mãozinha Aí, o maior canal sobre deficiência do Brasil, que falou sobre representatividade e preconceito. “Nós somos a maior minoria do mundo, mas somos a mais excluída também”, afirma ela.
O Vai Uma Mãozinha Aí conta com 160 mil inscritos, entre pessoas com e sem deficiência. “Quando eu criei o canal, eu achei que ia flopar, que ninguém estaria interessado nesse conteúdo. E aí, descobri que não. Que só existe um filtro na mídia onde a gente, infelizmente, não passa. E a internet quebrou isso. As pessoas com deficiência não conseguiam falar sobre suas vivências porque a sociedade sempre nos invisibilizou”.
Para quem não conhece o termo capacitismo, a coluna explica: este é o nome dado ao preconceito sofrido por pessoas com deficiência. “É completamente aceito que as pessoas com deficiência não tenham o mesmo acesso que as pessoas sem deficiência, inclusive, nas redes sociais. Por exemplo, grandes influenciadores e empresas não colocam descrição de imagem e legendas em seu conteúdo”.
“A importância da acessibilidade nas redes sociais é a questão de todo mundo ter acesso ao mesmo conteúdo. Para pessoas cegas conseguirem ler e entender cartilhas sobre o coronavírus, por exemplo. Para pessoas surdas conseguirem entender um vídeo de fofoca, uma entrevista do Léo Dias. A acessibilidade é um direito que não pode ser deixado de lado porque você não tem tempo”, afirma Mariana.
A youtuber conta que, graças ao canal, criou uma comunidade de pessoas que não se sentem mais sozinhas. “A representatividade muda vidas. Eu cresci sem nenhuma referência na mídia, e nem ousava sonhar em ser outra coisa que não servidora pública. A representatividade mostra que existem milhares de pessoas fazendo milhares de tipos de trabalhos diferentes. Ela muda a sua perspectiva do que você pode ou não fazer”.
Quem vê Mariana hoje orgulhosa de sua deficiência nem imagina que ela teve dificuldades em se aceitar. “Eu não me assumia. Por muito tempo eu acreditei em frases capacitistas, como ‘nem parece que você tem uma deficiência’. Eu achava que se eu escondesse, era como se a minha deficiência não existisse, e era isso que eu mais queria. Colocar o meu bracinho na internet foi uma forma de ir contra todas essas ideias que eu tinha sobre mim”.
Mariana também usa suas redes para conscientizar sobre outras deficiências. “Por mais que as pessoas tenham deficiências completamente diferentes, a gente passa por situações muito semelhantes. No fundo, todos nós sofremos o mesmo preconceito. Não vale a pena o movimento se dividir para lutar. A gente tem que se unir como esse grupo complexo e distinto que está junto pelo objetivo de debater o assunto deficiência na sociedade”.
Segundo ela, a imprensa ainda reforça esse preconceito. “A mídia ainda é muito capacitista, insiste em colocar palavras como ‘inspiração’ ou ‘superação’ quando se fala de pessoas com deficiência. Ainda insiste em colocar a gente num lugar de super humano ou super coitado. Colocam nossa capacidade muito para baixo. Então, qualquer coisa que a gente faça, acham que é uma grande conquista e não é”.
“A deficiência não nos define. É claro que é uma coisa intrínseca e que me faz ver o mundo de outra forma, mas não é tudo. Eu sou muito mais que a minha deficiência, e a gente ainda cisma em colocar as pessoas dentro de uma caixinha. Enquanto a gente não começar a tratar as pessoas com deficiência como iguais às pessoas sem deficiência, a gente não vai conseguir desenvolver como sociedade quando se fala desse assunto”, finaliza Mariana.