TVs se empenham na despedida a Marília, mas pecam por desinformação
Globo se destaca, CNN Brasil comete gafe, JP News dribla dificuldades e SBT resolve ignorar morte da cantora mais popular do Brasil
atualizado
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Desde que a notícia da morte da cantora Marília Mendonça foi confirmada, emissoras de TV aberta e canais de notícias abriram espaço em suas programações para repercutir a tragédia que chocou e surpreendeu o país. No sistema aberto, Globo, Record TV e Band foram as que dedicaram mais atenção à despedida da artista.
A TV Globo parece ter percebido a importância de se mostrar sensível ao que há de mais popular no país. Em 2015, na morte de Cristiano Araújo, o telespectador percebeu que a emissora – salvo raras exceções – parecia não fazer ideia do ídolo que tinha sido vitimado em um trágico acidente de carro. Pelo que tem demonstrado agora, seis anos depois, o canal parece ter aprendido a lição.
Primeira a confirmar a morte da cantora com uma equipe no local do acidente, a Globo sem empenhou para dar à despedida de Marília um tratamento que estivesse à altura da importância da artista para a música popular. Além de ter alterado a grade de programação já na noite de sexta-feira (05/11) – o que acabou fazendo sua audiência dobrar – a emissora dedicou o É de Casa à repercussão da tragédia.
No matinal, Ana Furtado se saiu muito bem ao conduzir as homenagens com sobriedade, delicadeza e competência, acompanhada por Tati Machado. Manoel Soares, deslocado para o local da queda da aeronave, em Minas Gerais, surgiu na tela emocionado ao exibir o momento em que os bombeiros retiravam dos destroços o avião da artista. A emissora errou, no entanto, ao optar por exibir novamente as imagens do momento em que o corpo de Marília foi retirado do avião destroçado pela equipe de resgate. Desnecessário.
Rodrigo Bocardi comandou uma edição especial do Jornal Hoje, que entrou no ar pouco depois do momento em que o velório foi aberto aos fãs da cantora. No telejornal, detalhes sobre o início das investigações do acidente e sobre a imensa repercussão que a morte da artista provocou no exterior. O âncora encerrou a transmissão com o trecho de um poema de Allan Dias Castro, “A vida não dura para sempre: é durante”. Um belo encerramento para uma edição dedicada a uma artista tão jovem, lamentavelmente arrancada do público.
Na Record TV, a cobertura também foi extensa. Desde as primeiras horas deste sábado (06/11), a emissora informou aos telespectadores sobre os preparativos para o funeral da cantora, em Goiânia. Equipes na capital goiana mostravam a movimentação no ginásio Goiânia Arena durante o Fala Brasil, que também exibiu reportagens sobre a trajetória e o acidente fatal. À tarde, o destaque foi uma edição especial do Balanço Geral, exibido em rede, que deu sequência aos trabalhos com imagens do funeral e reportagens sobre a importância da cantora.
A Band também se movimentou e escalou uma de suas principais estrelas, José Luiz Datena para apresentar uma edição especial do Brasil Urgente, que começou na hora do almoço. Consternado, o apresentador interagiu com repórteres e entrevistou artistas, como o sertanejo Matogrosso, da dupla com Mathias, e o casal de cantores Tierry e Gabi Martins. Uma cobertura competente, à altura do histórico de bom jornalismo praticado pela emissora.
Como se o país não vivesse uma enorme comoção, o SBT ignorou a morte de Marília Mendonça e não promoveu alterações na grade de programação. Quem ligou a TV na emissora viu desenhos animados. Sinal inequívoco de uma completa – e lamentável – desconexão com a realidade.
Nos canais de notícias, a mesma fórmula e o evidente desconhecimento sobre o universo sertanejo
A tragédia também mereceu cobertura especial dos canais de notícias e a morte da cantora mais ouvida do Brasil dominou as transmissões. Da novata Jovem Pan News à veterana GloboNews, todos dedicaram os trabalhos às homenagens a Marília Mendonça. No geral, todos seguiram fórmula semelhante, e intercalaram a exibição de reportagens com entrevistas com personalidades da cena musical. Os cantores Zezé Di Camargo e Sorocaba, por exemplo, puderam ser vistos em mais de um canal.
Beneficiada pela estrutura da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiânia, a GloboNews dispôs até de helicóptero para mostrar a imensa fila de fãs que compareceram ao ginásio para a despedida da artista. Apesar das dificuldades técnicas com a qualidade das imagens no início do velório, o canal, que acaba de celebrar 25 anos, fez valer a experiência em coberturas longas e importantes como essa.
Experiência que faltou a alguns concorrentes. Na CNN Brasil, uma gafe chamou atenção dos espectadores. Ao narrar o momento em que a mãe de Marília, dona Ruth Dias, era amparada pela sertaneja Maraisa enquanto se aproximava do caixão para se despedir da filha, a âncora Tainá Falcão disse: “Ela está amparada por aquela mocinha ali, que deve ser da família, e pelos seguranças”. Pouco depois, o repórter Evandro Cini , que foi enviado ao local em que acontecia o velório, corrigiu delicadamente a colega. “Estão ali Maiara e Maraisa, que eram muito amigas de Marília, como se fossem da família”. E não foi a única demonstração de desconexão com o universo da cantora mais popular do Brasil na atualidade. Uma pena.
Na BandNews, canal que tem um tom quase solene, a cobertura foi correta. Além do legado de Marília e da repercussão da morte da cantora, as demais vítimas do acidente aéreo também mereceram destaque. Uma equipe do canal entrou ao vivo de Salvador, para informar sobre o velório de Henrique Ribeiro, produtor de Marília Mendonça que também morreu no acidente.
Novata no ramo, a Jovem Pan News não fugiu do desafio e encarou sua primeira grande cobertura menos de duas semanas depois da estreia. Com evidentes dificuldades técnicas, o canal se limitou a reproduzir o padrão adotado pela concorrência, com menos recursos. Foi, de fato, o rádio na TV.