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Recentemente, o príncipe Harry recebeu, durante uma entrevista ao vivo, o diagnóstico de TDAH. O ato do médico que fez o anúncio foi muito criticado na web. A coluna ouviu um especialista sobre o tema, o psiquiatra Tiago Figueiredo. Leia a análise dele a seguir.
“No último dia 4 de março, foi ao ar uma entrevista ao vivo do príncipe Harry concedida ao médico canadense Dr. Gabor Maté. Tanto o entrevistado quanto os telespectadores de todo o mundo foram surpreendidos quando o Dr. Maté, que se declara especialista em desenvolvimento infantil, traumas e adições, verbalizou a seguinte frase: ‘Não sei se você vai gostar disso ou não, mas eu diagnostiquei você com o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Você pode concordar ou não’”.
O entrevistador continuou com as seguintes afirmações: “Eu não considero o TDAH como uma doença. Eu o vejo como uma resposta normal ao estresse anormal”. Desde então, as repercussões na mídia têm gerado discussões em vários âmbitos sociais. Isso porque a situação se configura como mais uma exposição desnecessária e, possivelmente traumatizante, para o príncipe Harry.
A história de Harry e de seus familiares tem a exposição social como uma marca provocadora de traumas e de roubo da intimidade. Um diagnóstico concedido durante uma entrevista em um meio de comunicação social, além de violar várias leis de ética médica, é mais um ataque ao direito da privacidade.
Além de constituírem transgressões ao Código de Ética Médica, as afirmações concedidas pelo “especialista” põem em xeque vários avanços da ciência e confundem ainda mais milhares de pessoas que sofrem ao longo do processo de identificação do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Afinal, o que é o TDAH e como ele é diagnosticado? Por que as afirmações do Dr. Maté precisam ser esclarecidas? Caso o Príncipe Harry realmente tenha o TDAH, ele pode ter sido provocado pelo estresse familiar?
Já existem evidências científicas robustas que indicam que o TDAH é uma condição patológica (doença) que afeta o desenvolvimento de regiões cerebrais implicadas na capacidade de autocontrole, sobretudo no que se refere à atenção, aos impulsos e à atividade motora. As falhas do autocontrole comumente afetam também as emoções. As pessoas com o TDAH podem ter a infância e a adolescência marcadas por conturbações, tais como dificuldades com manejo da rotina e comportamentos que envolvem maior risco e instabilidades emocionais.
O TDAH é considerado uma doença comum, visto que acomete cerca de 5% das crianças e dos adolescentes, e 2,5% dos adultos. Está comprovado cientificamente que o TDAH possui origem biológica. Apesar da origem genética, não é necessário que o pai e/ou a mãe sejam portadores do TDAH para que o indivíduo tenha a doença.
A dinâmica familiar também não causa a doença. O estresse familiar é considerado um fator de piora do sintomas, porém não um causador. Ou seja, não é culpa dos pais, embora seja responsabilidade dos pais buscarem as melhores estratégias para lidar com as demandas da criança.
Não existem exames que sejam utilizados para diagnosticar o TDAH. O diagnóstico deverá ser concedido pelo médico capacitado para investigar e identificar essa condição clinicamente. Em grande parte das vezes, principalmente no adulto, o processo diagnóstico é complexo, tanto para o profissional especialista quanto para o paciente.
“Não é nada fácil livrar os ‘confundidores’ da história do indivíduo que busca o diagnóstico do TDAH quando já está na fase adulta. No caso do príncipe, sem dúvidas, a sua biografia pode auxiliar na coleta de informações, mas jamais será o substrato ideal para a conclusão diagnóstica.”
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