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A coluna foi procurada por mais repórteres para denunciar Edison Castro, ex-diretor de jornalismo da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima. O relato da jornalista Ellen Ferreira, que foi demitida após acusar Edison de assédio moral, é muito semelhante a histórias contadas por outras três profissionais, que trabalharam com o diretor em emissoras em Tocantins e Minas Gerais entre 2008 e 2018.
Maysa Ferreira começou a trabalhar na TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no Tocantins, em 2017, logo após terminar o curso de Jornalismo. Na época, sua formatura repercutiu na imprensa porque seus pais levaram uma faixa para a cerimônia que dizia “Não era o que nós queríamos, mas formou”. “O Edison achava isso muito engraçado, só me chamava de menina da faixa, dizia que eu tinha futuro. Mas aí meu trabalho foi virando um pesadelo”.
Na redação, era comum ouvir Edison comentando sobre os profissionais: “Passava uma repórter, ele chamava de gorda e mal vestida. Passava outra repórter, ele falava ‘Nossa, se vc não fosse casada, hein’. O tratamento com a equipe do interior era ainda pior do que com a de Palmas. Eu comecei a surtar mesmo, chorava dia e noite, não queria ir trabalhar, Tinha crises diárias de ansiedade”.
A repórter chegou a ser ameaçada no meio da redação. “Ele gritou na frente de todos que os meus dias lá estavam contados”, conta. Mesmo com os abusos, Maysa tinha medo de denunciar o diretor para não sofrer retaliações. “Ninguém queria se arriscar a ficar queimado pelo todo poderoso da afiliada da Globo”. Em 2018, Edison demitiu a repórter e, alguns meses depois, ele também foi desligado da emissora.
A jornalista Savick Brenna já era funcionária da TV Anhanguera quando Edison começou a trabalhar para a emissora em 2016. “A primeira impressão que tivemos foi de que ele era uma pessoa com bastante experiência. Porém, em algumas semanas, comecei a perceber a diferença do tratamento dele comigo nas reuniões de pauta”. A repórter conta que era comum ser repreendida por ele na frente dos colegas de trabalho.
“A gente tinha duas reuniões por dia e eu percebia que ele estava sempre brincando com outras pessoas, mas quando eu falava, ele nem olhava na minha cara e fazia piadas de mau gosto”. Segundo ela, a discriminação era por conta de gordofobia. “Eu ouvia comentários dele em relação ao peso das pessoas, e como eu sou gordinha, percebi que esse era o problema. Ele me olhava com desprezo”.
Assim como Maysa, Savick também sofreu danos emocionais relacionados aos assédios morais praticados por Edison no ambiente de trabalho. “Eu ia trabalhar aterrorizada. Já não tinha mais disposição e alegria para ir trabalhar. Fiquei muito mal com isso. Mas nunca cheguei a enfrentá-lo por medo”.
Antes de trabalhar na TV Anhanguera, Edison foi funcionário da Record Minas. Shirley Barroso, que trabalhou com ele na emissora em 2008, afirma que o diretor tratava toda a equipe com muito desrespeito. “Ele não tinha receio de humilhar quem quer que fosse, a qualquer hora, em qualquer lugar. Colocava uns contra os outros, falava mal de todo mundo”, conta.
“Uma vez, ele chamou uma repórter na sala dele e ofereceu sibutramina [medicamento para tratar a obesidade] para ela. Em outro caso, durante a cobertura do sequestro da Eloá, em São Paulo, o Edison tomou a transmissão de uma repórter e passou a fazer a narração dando informações inverídicas. Ficamos horrorizados, mas ele era o chefe”, relata sobre os abusos.
Edison foi afastado da filial de Belo Horizonte após denúncias feitas para o presidente de jornalismo da Record da época, Douglas Tavolaro. “Fizemos uma festa para comemorar a saída dele. Não entendo como ele ainda consegue se manter no jornalismo com tamanha prepotência e arrogância”.
Reportagem de Thais Sant’Anna