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Conhecido por suas piadas ácidas, sem medo do politicamente correto, o humorista Léo Lins se meteu em uma nova confusão. Tudo aconteceu na última segunda-feira (21/9), quando a namorada dele, a ex-panicat Aline Mineiro, publicou um vídeo nos Stories no qual o humorista aparece sentado em um sofá, isolado no canto, sem ninguém ao redor. O problema não foi o vídeo, mas sim, o comentário que veio com a publicação: “Parece autista”. Automaticamente, a fala de Aline despertou a ira de inúmeros internautas, que usaram as redes sociais para os acusarem de preconceito. Mas o imbróglio estava só começando.
Se já não bastasse a frase e tamanha indigestão causada com o vídeo, surgiu nas redes uma suposta resposta de Léo Lins direcionada às pessoas que se sentiram ofendidas. Na mensagem, uma pessoa pedia: “Aconselhe a sua namorada para retratar”. E Léo Lins teria respondido: ”Eu tentei, eu até pedi para ela aconselhar vocês a enfiarem um pênis gigantesco na boca”.
A revolta foi tão grande que dezenas de ONGs e mães de crianças autistas se uniram e colocaram nos Trending Topics a #autismonãoéadjetivo, junto de uma petição virtual pedindo uma punição judicial ao comediante.
A Coluna Leo Dias conversou com algumas mães de crianças autistas e psicólogas, e todas as ouvidas relataram que as supostas falas do amigo de Danilo Gentili são extremamente preconceituosas e têm o poder de perpetuar a visão de que “autista” pode ser visto como termo pejorativo. “Autismo não é adjetivo e não pode ser usado assim. A cada 54 pessoas que nascem, uma é autista. Meu filho, Gabriel, tem 21 anos e é autista. Não temos políticas públicas. Pago pelos tratamentos que envolve terapias, como fonoaudiologia, terapia, psicóloga, neurologista, psiquiatra. E tudo o que eu menos quero é ler deboches e o uso do termo autista de forma pejorativa. Queremos respeito, meu filho e todos os autistas exigem”, disse Andréa Bussade de Oliveira, jornalista e membro da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão da Deficiência da OAB-RJ.
“A pessoa com autismo pode apresentar dificuldade de se comunicar, de perceber os acontecimentos, de expressar o que sente, mas não são antissociais. Têm uma maneira diferente de ver o mundo, e nós podemos aprender muito com elas. Quando você aceita a maneira como elas enxergam o mundo e participa, elas socializam com você. Então, não é uma questão de ser antissocial, e sim aceitar e respeitar as diferenças. Os autistas, assim como as aves, são diferentes em seus voos, mas são capazes de aprender novas maneiras de voar”, disse Karina Penido Ribeiro, psicóloga infantil especialista em autismo e desenvolvimento infantil, contrariando a ideia de que eles são pessoas solitárias.
A advogada Diana Serpe, especialista em direito para pessoas com deficiência, também encaminhou à coluna uma nota sobre o assunto e avaliou o caso como um claro desrespeito às leis e às pessoas com deficiência. “O art. 88 prevê pena de reclusão de um a três anos e multa para quem praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoas em razão de sua deficiência. E se o crime for cometido por intermédio de meios de comunicação social ou de publicação de qualquer natureza, a pena aumenta para dois a cinco anos de reclusão”, disse.
Além de provar que as supostas falas da namorada de Lins infringiram um artigo da Constituição Federal, Diana fez questão de reforçar a necessidade de se denunciar crimes como estes, mesmo que os aconteçam na internet. “É importante também que faça boletim de ocorrência, que pode ser feito digitalmente, ou que leve a denúncia ao Ministério Público. Em São Paulo, há a delegacia da pessoa com deficiência. Criada pelo Decreto Estadual 60.028/14, a 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência (DPPD) é uma parceria entre a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a Secretaria de Segurança Pública”, explicou.
Procurado pela Coluna Leo Dias, o humorista Léo Lins não atendeu as nossas ligações. Já o SBT disse que não comenta a vida pessoal dos contratados.