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A coluna traz uma conversa com dois artistas brasileiros incríveis: Iza e Projota. Os cantores falaram sobre a importância de representar a cultura negra por meio da cultura pop como uma maneira de questionar o momento que vivemos como sociedade e levar reflexão sobre questões raciais ao grande público, que muitas vezes não pararia para pensar sobre os assuntos de outra forma.
“A música é uma terapia, é uma arma muito poderosa para a gente comunicar qualquer coisa. Uma forma de educar com ternura. Quando alguém gosta de uma música, ouve sem parar e aquilo vira um mantra. Então, se a gente falar de algo importante, as pessoas acabam reproduzindo aquilo. E mais do que isso, acaba entendendo questões que, talvez, elas não tenham parado para pensar, analisar e olhar com carinho”, comenta Iza.
Para os jovens negros, se ver refletido em artistas tão relevantes para a nossa cultura é mais importante do que a maioria da população pode imaginar. “Representatividade é uma palavra que eu nem mesmo conhecia na minha adolescência. Era natural crescer com baixa autoestima. Algo que nem nos dávamos conta, aceitávamos com muita facilidade”, afirma Projota.
Tanto Iza quanto Projota aproveitam o sucesso para dar visibilidade a outros artistas negros. “Quando lancei Pesadão, eu era muito perguntada se tinha colocado só bailarinos negros no clipe de maneira proposital. E lembro de ter respondido muito que era sim proposital até que as pessoas parassem de questionar o porquê de só ter bailarinos negros”, diz Iza.
“A maioria dos meus videoclipes exibe pessoas negras com seus talentos e sua beleza, gerando trabalho e servindo como um espelho mais realista da nossa sociedade”, complementa Projota. Em O Homem que Não Tinha Nada, um de seus trabalhos mais impactantes e representativos, ele conta a história de um trabalhador assassinado por um usuário de drogas.
Já em Dona de Mim, Iza mostra uma professora que precisa cuidar dos alunos em sala de aula durante um tiroteio. “Essa faixa deu nome ao disco não foi à toa, ela é muito especial para mim. Eu queria que muitas mulheres pudessem se enxergar na letra da música e quem me inspirou a fazer isso foi a minha mãe. Aquela cena da escola foi uma pela qual ela já passou algumas vezes. Ela é professora tanto de escolas particulares quanto públicas”, afirma.
Ainda que as coisas estejam se transformando lentamente, ainda é muito frequente ver casos de racismo no dia a dia. Por isso, a representatividade é importante. “Acredito que existe um movimento acontecendo, crescendo aos poucos, onde negros estão ocupando espaços que antes não ocupavam, e isso gera uma nova perspectiva para os jovens”, afirma Projota.
“Eu sempre falo que os artistas precisam refletir a época em que vivem, como Nina Simone, e eu acredito muito nisso. Eu entendi que no futuro as pessoas podem entender o cenário político e social que a gente vive através das nossas letras e me fez dar uma importância ainda maior para as composições e para a responsabilidade que a gente carrega”, completa Iza.
Reportagem de Thais Sant’Anna