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A indústria fonográfica mudou, os downloads legais não possuem mais o mesmo peso e o que domina as paradas musicais são os streams. Se antes os artistas eram obrigados a assinar contratos com gravadoras — que cobram bem alto por isso —, hoje em dia, há muitas revelações que, de forma independente, surgem na web e passam a ser ouvidas graças a serviços como Spotify e Apple Music. Isso alterou as relações de poder e fez com que muita gente, atualmente, se sinta mais disposta a encarar a carreira sem a necessidade de estar atrelada a um grande selo.
A coluna conversou com Arthur Fitzgibbon, presidente da ONErpm Brasil, plataforma de distribuição digital de música, e outros nomes, como João Bosco & Vinícius, que atuam de forma individual no mercado, sobre o assunto.
Segundo Arthur, para que as transações dentro do mercado da música sejam saudáveis, os empresários precisam enxergar que é necessário trabalhar junto ao artista. “É preciso trabalhar em conjunto, de forma que todos possam recuperar juntos os investimentos e compartilhar os ganhos também. Um artista só deve considerar pagar por uma prestação de serviço quando estabelece a carreira, como um empreendedor, como algo que vai sustentar sua estabilidade a longo prazo. Na grande maioria dos casos, o artista consegue buscar parceiros que investem e ganham juntos, dividindo direitos fonomecânicos e autorais de forma justa e eficaz para ambos”, disse.
“O artista que se torna independente é o que tem foco no futuro e controle da sua carreira, que aceita dividir e pensar junto com outros parceiros, que aceita delegar tarefas e assumir uma gestão mais precisa de como, onde e como sua música irá chegar ao grande público. Não vejo como uma característica de apenas um tipo de gênero musical, mas sim o tipo de artista que tem o mindset de buscar o controle da sua música e trabalhar em paralelo com os executivos da música”, concluiu.
De uma forma geral, a decisão de livrar-se das custas de uma gravadora acontece porque, para os cantores e cantoras, não é nada rentável dividir lucros. A dupla João Bosco & Vinicius, por exemplo, afirma que a porcentagem de lucro de quando se atua sem empresários é muito maior. “Ser independente, a própria palavra já diz: ‘Não devemos satisfações para ninguém e nós fazemos o nosso trabalho do jeito que queremos, sem pressão e no tempo que queremos’. Não julgo quem faz contratos longos com gravadoras, pois com certeza, rola um adiantamento financeiro alto. Talvez naquele momento seja vantajoso para o artista, mas, com certeza o artista fica amarrado até esse contrato ser totalmente pago”, finalizaram.
A cantora gospel Daniela Araújo também analisa a disputa de gravadores versus artistas independente de forma semelhante à Fitzgibbon. Para ela, ao menos por um momento na carreira, o compositor ou intérprete precisa tomar as rédeas de seu trabalho para que ele mesmo saiba para quem e como deseja falar.
“O mercado fonográfico muda constantemente, independentemente do gênero. Então, é muito importante, principalmente com tudo que está acontecendo nesse momento, que o artista saiba gerenciar a própria carreira, que ele saiba como as coisas funcionam e conheça todos os processos, em todos os sentidos, não somente os burocráticos, mas os criativos também. É bom que o artista, em algum momento, seja independente, no começo ou mesmo quando consolidado, pois ele precisa entender os próprios ganhos, como são as divisões de royalties, para onde vai cada investimento e como recuperar isso ao longo da carreira”, disse à coluna.