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No último mês, o ex-atleta de ginástica olímpica da Seleção Brasileira Ângelo Assumpção resolveu vir a público relatar tudo o que sofreu durante os anos que treinou dentro do Clube Pinheiros, em São Paulo. Após denunciar ter sido vítima de racismo, o jovem fora afastado e está há 11 meses desempregado.
Enquanto seus ex-colegas de profissão treinam em Portugal, o esportista de 24 anos faz exercícios no quintal de casa. A questão que paira no ar é: por que uma vítima de racismo é punida quando expõe o que sofre enquanto os agressores não parecem enfrentar consequências?
Ângelo afirma que sofreu abusos por ser um atleta bolsista e não associado do Clube Pinheiros e que, além de ser visto como uma pessoa não grata por sua classificação social, fora alvo de expressões racistas vindas de seus técnicos e amigos de profissão.
O ginasta paulista foi afastado pelo Pinheiros em outubro de 2019, quando recebeu uma suspensão de um mês, supostamente por procurar levar queixas à diretoria do clube, passando por cima dos técnicos. Ao fim da suspensão, sua carta de demissão chegou. “Nós sempre passamos por racismo, mas, os momentos mais difíceis foram em 2015 e 2019”, respondeu à coluna Leo Dias quando questionado sobre quando os ataques começaram.
O medalhista conta que inicialmente sofreu calado por medo de retaliação. “Fiz diversas queixas por uma série de outras situações que passei lá [Pinheiros], mas sempre no diálogo. Mas, depois de um certo tempo, precisei levar isso para a diretoria porque em determinado momento não estava mais saudável”, disse.
Lixo
Um dos nomes que foram acusados de tal crime foi o do conhecido e aclamado ginasta Arthur Nory, que falou novamente sobre o caso nessa terça-feira (1º/9). Ainda segundo Ângelo, além de Nory, os atletas Henrique Medina e Felipe Arakawa também participaram dos atos. Mesmo assim, o jovem e seus advogados não abriram nenhum processo contra os mesmos.
Um dos acontecimentos mais chocantes é de quando seus colegas compararam a sua cor ao saco de lixo ao fazer uma metáfora com as cores das sacolas de hipermercado que são brancas. “Na época não me senti nada bem. Não é uma situação fácil, onde toda a minha história de vida foi comparada com lixo, inferior ou algo quebrável. Isso não é fácil de lidar, e ficou nítido no próprio vídeo. Não vejo mais este vídeo, porque me machuca e não só eu, mas todo o coletivo. Não acredito que a gente tem que fomentar esse tipo de atitude, e, sim, combater o racismo”, contou Ângelo.
Com quase 12 meses sem carteira assinada, o ex-contratado do Esporte Clube Pinheiros afirma que o que deseja apenas é poder exercer a sua profissão o quanto antes, em qualquer clube que o receba e o valorize como cidadão e profissional. “Quero voltar a treinar, estou à disposição de qualquer clube. Já estou há 11 meses sem trabalhar. Mesmo com tanta dificuldade, continuo acreditando, lutando pelos meus ideais e objetivos”, desabafou.
Questionado sobre quais são os seus anseios e desejos enquanto vive este turbilhão de emoções e informações envolvendo o seu nome, Assumpção diz que a vontade de fazer as coisas mudarem é maior do que ele mesmo. “Essa briga não é só minha, é de toda a sociedade que acredita no direito da justiça e igualdade. Sou vitorioso por continuar acreditando nos meus sonhos e trabalhando incansavelmente para que eles aconteçam”, finalizou.
A coluna procurou o atleta Arthur Nory e o Clube Pinheiros, mas, até o fechamento da matéria, nenhum retornou o nosso contato.