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O mundo do surfe foi pego de surpresa com o comunicado de Gabriel Medina dizendo que não iria participar da primeira etapa do campeonato mundial de surfe, que será disputada no Havaí, local que o atleta domina e onde é sempre um dos favoritos para vencer.
O motivo da pausa, além de uma lesão no quadril, seria a saúde mental. Gabriel vem enfrentando sérios problemas familiares, que envolvem dinheiro e processos na Justiça. As disputas nos tribunais opões o esportista à mãe, Simone, e ao padrasto, Charles, que por anos e anos foi seu treinador e fiel escudeiro.
O racha na família Medina não prejudicou Gabriel dentro do mar e o atleta se consagrou tricampeão mundial em 2021, mesmo com tantos problemas. Mas, este ano, o surfista resolveu assumir que precisa de uma pausa para colocar a cabeça e os sentimentos em ordem.
O baque para o mundo do surfe foi grande. Apesar de a Wsl, liga do mundial de surfe, e dos patrocinadores terem apoiado Gabriel, no fundo, todos sabem que um campeonato sem uma de suas maiores estrelas não terá o mesmo brilho.
Afinal, esta pausa de Gabriel Medina é uma parada ou o fim da carreira do atleta? Conversamos com alguns surfistas profissionais, jornalistas importantes no mundo do surfe e até com locutor da liga mundial do esporte para entender o que isso significa na prática. Todos foram unânimes ao falar que o atleta está certíssimo em dar esta pausa e inclusive lembraram que Kelly Slater, o maior surfista de todos os tempos, 11 vezes campeão mundial, também já deu uma parada de três anos e voltou muito maior.
A coluna LeoDias torce para que esta pausa seja breve e para que Gabriel volte o mais rápido possível para o mar, com a cabeça boa e o coração em paz.
Leia o que disse cada profissional:
Alceu Toledo Junior – Fundador do Waves e editor do Bikini Life
“Esse tempo que ele vai dar no tour vai ser benéfico para carreira dele, pois ele está estressado, incomodado com problemas familiares insolúveis, aparentemente, e quer queira, quer não, isso atrapalha bastante. A Yasmin faz muito bem para ele, mas ele está precisando recarregar a bateria. Para o tour é uma perda significativa. A gente está falando de um tricampeão mundial, um dos cinco melhores surfistas do mundo. Mas ele fez bem, pois é a carreira dele que está em jogo e ele deve ter pesado isso: vale mais a pena dar um tempo, ajustar os problemas pessoais para depois voltar mais focado. O Medina é combinação perfeita de talento e competitividade. Ele é um cara que só pensa em ganhar. Tem um talento absurdo. Tudo o que ele faz ele faz com naturalidade e competência. Ele vai se recuperar psicologicamente desta loucura que a vida pessoal dele se transformou para, mais para frente, voltar mais focado. O circuito perde demais, pois é ele, o Ítalo Ferreira e o John Florence. O Kelly Slater já está em decadência, o Jordy Smith nunca chegou lá. Então o tour perde bastante apelo, importância e relevância. Mas o surfe é isso. Não é só competição. Enquanto ele estiver recarregando as baterias ele continua no free surfe. Vai poder fazer coisas que ele nunca fez, pois ele começou cedo do tour. Ele vai poder viajar, pegar altas ondas, ficar largado na Indonésia, Taiti, Austrália. Eu particularmente torço mais para o Medina do que para o circuito. Nessas horas o circuito está em segundo plano”
Gabriel Pastori, free surfer profissional
“A Wsl vai ter um corte de mais de dez atletas no meio ano. Se você tiver ranqueado depois de 20 e pouco, você sai do circuito. Então, essas primeiras cinco etapas são muito importantes. Se ele perder duas dessas cinco, a situação já fica mais difícil. Mas, se ele de fato está com problemas pessoais querendo cuidar da saúde mental como ele falou, faz todo sentido ele não ir, porque o psicológico do atleta tem uma importância muito grande, ainda mais no esporte como o surfe que você lida com o oceano, com mudança de condição climática o tempo inteiro. Você tem que ter muito conectado com fatores e bem alinhado para você ter bons resultados. Gabriel é um cara que está há muitos anos no circuito mundial e se ele tomou essa decisão foi muito sábio, porque ele sabe que não está bem psicologicamente”.
Carlos Mathias, jornalista, trabalha com surfe há 20 anos. Por 10, foi editor de jornalismo do Rico Surfe e atualmente cobre o campeonato mundial pelo site Waves
“É uma pausa e não um ponto final. Inclusive isso aconteceu com o campeão norte americano Kelly Slater, que foi 11 vezes o melhor do mundo. Ano passado foi um ano difícil no campeonato, pois os atletas tiveram que fazer uma quarentena longa na Austrália e Gabriel já tinha sinalizado que queria dar uma pausa, mas ele aceitou o desafio, viajou e acabou sendo tricampeão mundial, que era uma meta dele. Inclusive, o que muita gente enxergava como um pensamento pequeno, pois ele tem potencial muito maior e de ser mais vezes campeão mundial. E é normal que ele tenha feito isso após um ano difícil, em que ele acabou tendo o melhor ano da carreira, batendo a marca dele. Mas a que preço ele conquistou isso tudo? O preço não foi baixo, tanto que ele tomou essa decisão. Uma decisão normal para um atleta do nível dele, que há muitos anos se dedica integralmente ao esporte de alto desempenho. Ele vai dar uma pausa e vai voltar ainda mais forte e vai conquistar não só mais um, mas talvez dois ou três títulos mundiais”.
Willyam Santana, surfista profissional
“A cabeça do atleta tem que estar cem por cento boa, o ideal é que o atleta não passe por fase emocional complicada. O tempo dele não foi pela lesão no quadril e, sim, pelo psicológico. 80% da competição é a parte psicológica. É muito difícil o atleta se manter bem na competição se não estiver bem psicologicamente. Ele ficar fora uma etapa só não atrapalha tanto, pois tem descartes de notas, mas se ele ficar fora duas etapas ou mais, com certeza atrapalha o resultado do ano e um possível título que ele tem todas as condições de trazer”.
Samuel Igo, surfista profissional
“O surfe é um esporte que não adianta você ter a melhor prancha e a melhor estrutura financeira se não tiver com a mente boa. Essa atitude do Gabriel é uma atitude também de profissional. Ele está precisando desse momento para limpar um pouco a mente destas turbulências familiares que ele passou. O surfe é um esporte um pouco ingrato, pois às vezes você se prepara bastante e não tem o resultado esperado. Então se você não tiver com a mente preparada para lidar com esses baques você pode abandonar, pois é uma pressão muito grande. No caso do Gabriel, a pressão é dele com ele mesmo e com patrocinadores. É um conjunto de fatores e esse momento fora do mundo competitivo vai ser importante para ele, pois esse mundo competitivo é bem tenso. Potencial ele tem de sobra já provou para todo mundo. Se ele acha que é o momento dele se afastar, está fazendo certo, pois só ele sabe a pressão que ele sofre e que ele está precisando disso. Quando ele voltar, voltara mais leve e focado no que tem que ser, que é a competição. E vai voltar muito melhor”.
Rick Lopes locutor da Liga Mundial de Surfe
“Esse pedido do Gabriel para se afastar do campeonato é um fato que já aconteceu com outro grande campeão, que foi o Kelly Slater, que em 1998, após conquistar seu sexto título mundial, pediu licença à entidade da época, alegando que queria se dedicar a outras projetos e depois voltar mais focado ao circuito. Kelly ficou três anos afastado e a gente fica na expectativa que Gabriel tire só um ano de licença e volte logo ao circuito. Gabriel destaca uma lesão no quadril que vinha tratando, mas que ainda o incomoda. Ele fala também das questões emocionais que ele vem vivendo. Muitos atletas acabam se lesionando e só tratando a dor no momento para seguir competindo, então, em relação à lesão no quadril do Gabriel, é valida essa parada para tratar definitivamente este problema e para que não se agrave. A questão familiar e as questões na justiça certamente incomodariam qualquer ser humano de boa índole como é o Gabriel. A gente espera é que ele consiga se reerguer emocionalmente, se recuperar da lesão no quadril e volte cem por cento. Queria destacar um ponto. Eu estive com Gabriel há pouco tempo em um evento, no interior de São Paulo, e ele estava superpositivo, com uma energia maravilhosa, de uma maneira que eu nunca tinha visto. Ele exalou coisa boa. Ele vem vivendo um momento na vida dele buscando estabelecer a família ao lado da Yasmin, que tem sido uma mulher maravilhosa na vida dele. Mas é impossível não falar que para os brasileiros ter a ausência de um atleta como Gabriel Medina no mundial é um aspecto negativo, porém a gente tem que respeitar a decisão do surfista. Vai ser bom ele tirar essas férias e voltar para o circuito mundial focado e garantir mais campeonatos”.
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