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Quinta-feira, 17 de junho de 2021. Fausto Silva se preparava para voltar ao comando do Domingão do Faustão, depois de se ausentar pela primeira vez do programa devido a uma infecção urinária. A gravação aconteceria nos estúdios da Globo em São Paulo, no dia seguinte. Mas a volta nunca aconteceu. O apresentador, titular absoluto dos domingos da emissora por 32 anos, líder de audiência e dono do maior salário da televisão brasileira, recebeu uma ligação de Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo e foi avisado de que não precisaria mais retornar ao estúdio do Domingão. Sim, caro leitor: Fausto Silva foi demitido por telefone.
A partir dessa informação, não é preciso ser um gênio para perceber que a tal nova política de gestão de talentos da emissora mudou drasticamente. Ficou para trás a era das homenagens e despedidas. Na Globo de hoje, seria impensável que um apresentador, estando no ar, passasse um ano inteiro se despedindo do público, como Jô Soares pôde fazer em 2016, ao longo da última temporada do Programa do Jô.
Na última semana, a atriz Nathalia Dill também deixou o elenco da emissora. Uma das mais elogiadas pelo público e com histórico de bons trabalhos prestados em 14 anos de vínculo com a empresa, Nathalia teria ficado arrasada com a decisão. A atriz nunca se meteu em polêmicas, jamais recusou um papel e garantiu críticas positivas em todas as personagens que defendeu. O protótipo da funcionária exemplar. Mas, para a Globo de hoje, isso parece não ser considerado.
Mudanças no jornalismo geram apreensão nos colaboradores
A nova política não afeta apenas a área de Entretenimento. Na redação de Jornalismo da TV Globo, no Rio de Janeiro, muitos colaboradores notaram a mudança de postura do diretor responsável pela área, Ali Kamel, durante a demissão de dois repórteres consagrados pelo canal. Demitidos na última quinta-feira (7/10), os jornalistas Ari Peixoto e Alberto Gaspar não mereceram as tradicionais mensagens de despedida enviadas pelo chefe. A ausência do e-mail de Kamel fez ganhar força a informação de que uma nova onda de demissões pode atingir o setor ainda no mês de outubro.
Funcionários interpretam que a inexistência do comunicado oficial da chefia teria um por que: com um iminente corte de grandes proporções a caminho, Ali Kamel teria optado por interromper a tradição das mensagens individuais de agradecimento a cada colaborador dispensado. Há até quem diga que o diretor de Jornalismo da Globo não faria outra coisa se precisasse redigir os e-mails de despedida.
Como publicado pela coluna LeoDias na semana passada, coube ao repórter Ari Peixoto anunciar a demissão aos colegas de trabalho, num e-mail emocionado. “Como costumo dizer, em 1987 me casei duas vezes. Em abril, com a Globo, e cinco meses depois, com a minha mulher, Kátia. E para quem acha que a comparação é esdrúxula, sem sentido, lembro que houve épocas em que eu ficava mais tempo na emissora do que em casa”, lembrou.
“Me despeço da Globo saindo pela mesma porta por onde entrei há 34 anos, a da frente”, diz o veterano repórter, que finaliza: “Saio agradecido porque muito do que construí, tanto no campo pessoal quanto no profissional, devo à Globo. São os novos tempos. Um abraço aos que ficam”, escreveu Ari Peixoto, que ficou na emissora por 34 anos.
Alberto Gaspar, que trabalhou na TV Globo por 39 anos, também foi demitido sem qualquer homenagem. O jornalista falou sobre sua saída da emissora em texto publicado pelo colunista do R7, Flavio Ricco: “ Claro que é triste perder tudo isso, de repente. E não só para mim, pelas manifestações de carinho e de certa perplexidade que tenho recebido. Eu só tinha sido dispensado uma vez na vida, numa escolinha de inglês onde fui dar aula, aos 18 anos, e faltei duas vezes. Morava longe. Duas alunas continuaram tendo aula particular comigo. Em todos os meus outros empregos, a ruptura partiu de mim, sempre por não estar feliz com o que fazia. Nunca foi o caso na Globo”.
Não basta estar feliz, ter um histórico de bons serviços prestados, ser elogiado ou ser um dos maiores nomes da história da TV. Na Globo de agora, números e cifras, definitivamente, parecem valer mais que pessoas. O futuro já começou?
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