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Além de todas as pessoas afetadas com o novo coronavírus e as empresas que estão enfrentando dificuldade para se manter durante a pandemia, a maior festa popular brasileira, o Carnaval, também pode sofrer com a Covid-19. Quem vive do meio do samba teme que não haja uma vacina até outubro desse ano, o que impossibilitaria os ensaios técnicos, escolha dos sambas e eventos que ajudam as agremiações a conseguirem dinheiro para se manterem ao longo do ano.
Além disso, as rainhas de bateria e as musas das escolas de samba, tão presentes na imprensa que cobre celebridades, também estão vivendo seus próprios dilemas enquanto a pandemia avança no país. Com tudo fechado e tantas falências, elas já não fazem presenças vips nas inaugurações de lojas, o faturamento é menor, ainda não conseguiram começar a procurar e pagar pelas fantasias e estão sem academias e clínicas de estéticas para manter o corpo, além de tentarem ajudar e conscientizar as comunidades das agremiações.
“Existe, sim, uma preocupação em torno dos eventos promovidos pelas escolas e os ensaios em quadra que não estão acontecendo por conta da pandemia, e são grandes fontes de receita para as escolas. Mas eu, particularmente, acredito e tenho esperança de que tenha Carnaval. De repente, com um pouco menos de recursos do que o habitual e bem mais criatividade e força de vontade dos integrantes. O Carnaval, além de ser a maior festa popular do Brasil e um dos principais cartões de visita do Rio de Janeiro, também ajuda muitas famílias, muitos trabalhadores que garantem seu sustento através dos seus ofícios nas escolas de samba e em outros setores que movimentam a festa e fazem o Carnaval acontecer. Isso sem contar com toda a alegria que proporciona”, explica a rainha de bateria da Viradouro, Raissa Machado.
Todas são unânimes em afirmar que a maior preocupação no momento é que as pessoas saiam com vida da pandemia e possam se manter financeiramente apesar das dificuldades. Raíssa Oliveira, rainha de bateria da Beija-flor, nasceu no meio do samba e é categórica em afirmar que a prioridade agora não é o desfile: “Queremos que tenha Carnaval, mas minha escola está muito mais preocupada em ajudar as pessoas, a nossa comunidade, em salvar vidas. Agora o momento é de nos unirmos para salvar vidas, não deixar a comunidade morrer de fome e ajudar as pessoas a ter um mínimo de dignidade no meio de todo este caos. Se não tiver Carnaval e o povo Nilopolitano estiver bem já é uma grande vitória para gente! Às vezes eu nem consigo dormir com as coisas que leio e vejo que estão acontecendo no Brasil por conta do coronavírus. É muita gente passando fome, morrendo”.
Apesar de admitir que as campanhas publicitárias via internet, os famosos publiposts, estão menos frequentes, Fernanda Pedrosa, musa da Mocidade, garante que está guardando dinheiro para bancar sua fantasia caso haja desfile no próximo ano: “Com certeza se não tivesse essa pandemia já estava começando os meus preparativos com a minha estilista maravilhosa Patrícia Nascimento. Mas, atualmente, a preparação está parada! Acredito que é um momento de muita incerteza para todos, não sabemos quando essa pandemia vai terminar, e se isso acontecer as pessoas ainda ficarão receosas de frequentar lugares com aglomeração, afinal, é um vírus muito perigoso que está matando muita gente. Eu arco com as despesas da minha fantasia, então faço uma organização financeira e se tiver Carnaval conseguirei pagar”.
Já Mylla Ribeiro, digital influencer que é musa da Paraíso do Tuiuti e rainha de bateria na União Cruzmaltina, explica que a prioridade de todos agora é manter filhos nas escolas, conseguir pagar contas e readequar o orçamento. Por isso, ela é categórica ao dizer que se tiver Carnaval, reduzirá seus gastos pela metade: “Não estou vendo nada sobre Carnaval. O coronavírus nos trouxe uma insegurança muito grande. Vivemos uma grande crise econômica e a palavra de ordem é poupar! A prioridade agora é outra. Atualmente estou trabalhando em casa, mesmo com fluxo bem menor de divulgação de produtos. Todos estão cortando custos, pedindo desconto e é preciso entender este momento. Dinheiro para pagar a fantasia eu tenho. Mas reduzirei pela metade meus gastos com Carnaval se houver espetáculo”.
Empoderadas e decididas, o receio de não ter um corpo perfeito para entrar na Avenida já ficou no passado. Raissa Oliveira é dona de uma academia que está fechada por causa da pandemia e entrega que não está nem seguindo dieta. Ela prefere se dedicar agora aos livros e lives com entrevistas que tem feito pelas redes sociais: “(Risos) Eu estou rindo para não chorar! Você acredita que não estou malhando?! Eu só sei comer! Eu como comida japonesa, salgadinho, churrasquinho, doces, hambúrguer, batata-frita. Eu amo comer. Depois eu corro atrás do meu prejuízo! De verdade? Não estou muito preocupada com meu corpo. Nosso momento atual é tão caótico, futuro tão incerto em relação à economia, política, vida de uma maneira geral”.
Raissa Machado também defende o discurso que o próximo ano não será o desfile das saradas, mas daquelas que amadureceram com a quarentena e sem tantas neuras pelo corpo malhado: “Acho que teremos um Carnaval não só com rainha, mas mulheres como um todo mais maduras e felizes com seu próprio corpo, se conhecendo e se amando cada vez mais, porque nós mulheres somos todas maravilhosas, e esse tempo de quarentena tem nos ajudado no sentido de nos permitir e esse tempo de quarentena tem nos ajudado em conhecermos melhor e nos entendermos melhor com o que somos. Buscamos sempre a perfeição, mas que perfeição é essa? Perfeição é você estar feliz e satisfeita com que olha no espelho e não o que é imposto. A beleza quando você está feliz e segura”.
Já Fernanda Pedrosa e Mylla Ribeiro acham que exercícios em casa ajudam nesse período. “Existe, sim, inúmeras maneiras de se manter em forma mesmo tendo as academias e clínicas de estéticas fechadas! É claro que esses profissionais sempre dão uma ajudinha a mais no nosso shape, não vou negar, mas nem por isso temos que colocar desculpas nas consequências que a pandemia trouxe para a nossa realidade, né? Quem quer corre atrás”, afirma Fernanda, que também é engenheira química, e tem o apoio de Mylla: “Eu costumo brincar que clínica de estética e academia não fazem milagres em ninguém, e sim a sua força de vontade para ser cada vez melhor. Eu, por exemplo, estou conseguindo manter a minha forma tranquilamente”.