Artistas e eleições: mercado publicitário “cancela” quem declara voto
Coluna conversou com nomes do mercado que revelaram que estão tendo dificuldade de fechar contratos com artistas engajados em política
atualizado
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Mais um ciclo eleitoral se aproxima e o tabu de artistas se posicionarem politicamente volta à tona. A coluna LeoDias conversou com nomes influentes no meio do mercado digital que afirmam ter dificuldades em fechar contratos publicitários com artistas que revelam suas escolhas políticas. A coluna também descobriu que Deolane Bezerra acabou perdendo contratos após publicar uma foto com o ex-presidente Lula. Do outro lado, a apresentadora Antônia Fontenelle revelou, em conversa com a coluna, que já chegou a ser barrada de uma campanha de uma marca de geladeiras por apoiar o atual presidente Jair Bolsonaro.
Segundo as fontes ouvidas por nossa equipe, as marcas têm adotado o hábito de censurar artistas por meio de cláusulas contratuais, que impedem qualquer posicionamento de cunho político. Ao menos 20% dos contratos assinados com influenciadores possuem tais normas. Além disso, ao buscarem agências de pessoas midiáticas, as empresas costumam exigir que os influenciadores indicados para campanhas publicitárias não tenham qualquer posicionamento político público.
Influenciadores e artistas de esquerda e direita são prejudicados
A foto de Deolane Bezerra com o ex-presidente Lula fez com que ela perdesse um contrato. Como uma figura de forte influência nas classes C e D, a influenciadora por muitas vezes é indicada para fazer propagandas de produtos ligadas à essas classes sociais, no entanto, quando as marcas descobrem o apreço que Deolane tem por Lula, acabam desistindo.
Artistas que possuem apreço com o presidente Jair Bolsonaro também não têm tido vida fácil para fechar com marcas. Em conversa com a coluna, Antônia Fontenelle, apoiadora declarada do atual presidente, revelou que foi barrada de uma campanha da marca de geladeira Eletrolux por apoiar Bolsonaro: “Uma vez apareceu uma consulta em um escritório de esquerdistas, socialistas de iPhone que queriam que eu fizesse uma propaganda para uma marca de geladeiras de luxo, a Eletrolux. Eles me barraram por ser apoiadora do Bolsonaro. Se querer o melhor para o Brasil significa perder propaganda, que f**** eles. Tenho minha linha de cosméticos, tenho minha linha de óculos, estou lançando minha linha de joias e o meu público, que pensa como eu, me consome, logo, não vou seguir a cartilha deles”.
Outra artista que também tem sofrido um boicote das marcas, Luísa Sonza usou as redes sociais nesta quinta-feira (9/6) para desabafar sobre o tema: “É de uma tristeza profunda saber que as marcas estão derrubando campanhas de publicidade com celebridades e influencers que SE POSICIONAM POLITICAMENTE. O que deveria ser uma NECESSIDADE para se contratar. Eu fico indignada. A Mynd, empresa que cuida da minha publicidade e de mais de 350 influencers entre eles outros cantores, me informou que anda recebendo mensagens de algumas marcas insinuando e até derrubando jobs com pessoas que se posicionam politicamente. Vocês querem INFLUENCERS que influenciam o que? Só a comprar seus produtos? Porque eu acredito numa influência real que melhora nossa sociedade e faz o jovem pensar.”
“Querem pessoas que só consomem o que vocês quiserem e não saibam falar nada sobre política e sociedade. Que futuro vocês querem pra nós? E, de verdade, eu não falo isso por mim, pelo meu tamanho, eu fecho a publicidade que eu quiser hoje em dia, independente de qualquer coisa, eu falo isso pela minha preocupação com o que estamos virando, tenho medo de nos tornarmos uma sociedade que simplesmente não se posiciona. Que não PENSA por si próprio, que não fala e não discute questões VITAIS pra nosso futuro e nossa sociedade. Eu não quero viver num país burro com jovens que só podem postar dancinhas, fazer fotos bonitas nas redes sociais e apenas isso ser de acordo com o que as marcas querem. INFLUENCER virou uma profissão. Isso nem se discute mais. Esses jovens (não só jovens, mas a maioria, pelo menos) de fato tem GRANDE INFLUÊNCIA na VIDA e no PENSAMENTO de milhões de pessoas. Se a gente não puder usar essa força pra algo além, de que adianta tanto?”, desabafou a cantora.
Marcas contra a parede
Pessoas que administram a carreira dos artistas deixaram claro que as empresas que costumam tomar este tipo de atitude são em geral ligadas ao mercado financeiro: corretoras, bancos, empresas com capital aberto na bolsa de valores e multinacionais.
Tal postura das marcas acaba entrando em contraste com a recente campanha para fazer título de eleitor promovido por artistas e estimuladas pelas mesmas empresas. Também é um sinal que o ambiente publicitário brasileiro vive em atraso, uma vez que em outros países, como os Estados Unidos, artistas costumam indicar livremente em quem pretendem votar durante as eleições, além de tomar posicionamentos acerca de questões sociais. Muitas das marcas que, em outros países, deixam que artistas estrangeiros falem livremente sobre temas político-sociais, desestimulam o mesmo comportamento no Brasil.
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