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Parado desde o março em meio à pandemia da Covid-19, o setor de eventos pede socorro. Apesar de representar 13% do PIB brasileiro e movimentar quase R$ 25 bilhões no Brasil por ano, segundo a Secretaria Estadual de Turismo de São Paulo, 2020 trouxe um cenário de vazio.
A Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) estima que a crise em curso já provocou a perda de cerca de 300 mil empregos diretos e indiretos. Para entender o cenário, a coluna Leo Dias foi conversou com quem faz esse mercado, mas segue impossibilitado de trabalhar.
Marcela Gomes, que trabalha no segmento há 10 anos no Rio de Janeiro, revelou que, em todo esse tempo, nunca passou por nada semelhante. “Nem a crise de 2016/2017 me afetou como essa pandemia que estamos vivendo”, contou. Com as produções paralisadas, ela começou a produzir cestas de café da manhã, artesanalmente, e está entregando na casa das pessoas.
Em um trabalho de produção antes do novo coronavírus, por exemplo, Marcela gerava cerca de 30 diárias de trabalho, em uma ativação de marketing de 4 a 50 promotores para divulgarem uma marca. “Antes, fazia cerca de três eventos grandes por mês. Agora, fiz um nos últimos 6 meses”, afirmou.
O setor, segundo a Abrape, é responsável pela geração de mais de 2 milhões de empregos no país. O organizador de eventos Marcelo Moraes, gerente de marketing do hotel Rio Othon Palace e fundador da Leblon Entretenimento, trabalha com o tema há 10 anos somando mais 10 de comércio e hotelaria. Ele revelou que, de um dia para outro, se viu com todas as reservas adiadas.
“Jamais vivi algo parecido. Dormi no dia 13 de março com uma agenda lotada, tanto em relação ao hotel Rio Othon Palace quanto aos meus projetos pessoais, até o fim do ano, e acordei no dia 14 de março com tudo adiado, sem podermos sair de casa”, afirmou. Marcelo contou que, dependendo do tipo do evento, gerava diretamente em shows ou camarotes grandes cerca de 300 empregos diretos e mais de 1.000 indiretos.
O empresário comentou sobre o impacto da pandemia na área: “Foi devastador na minha área, turismo e eventos, que foi a primeira afetada e, provavelmente, será a última na retomada. Os governos não olham como deveriam para estes setores e ficamos órfãos de tudo. O turismo é o novo petróleo do Rio de Janeiro e está largado. Se não fosse a iniciativa privada e alguns órgãos como Abav e Hotéis Rio, que defendem mesmo, estaria pior ainda”.
A Abrape também aponta que o setor contava com mais 202,2 milhões de pessoas participando dos eventos realizados no Brasil, gastando em média R$ 161,80, somando R$ 99,3 bilhões. “Esperava faturar por volta de R$ 30 milhões, no Hotel e com a Leblon Entretenimento, mas não conseguiremos atingir nem 2% disso”, revelou Marcelo.
Novas formas de investir
O empresário Levy Barros, proprietário da Top Bartenders, que fazia, em média, de 20 eventos por mês, agora, faz dois de pequeno porte. Além dos funcionários fixos, a Top Bartender gerava mais de 50 empregos diretos e indiretos para o mercado por semana. “Esperávamos manter a média de eventos do ano passado. Com a pandemia, esperamos faturar de 15% a 30% do nosso faturamento anual”, comentou o empresário.
Para driblar a crise, o empresário criou um novo modelo de negócio, a Drink Até Você, que oferece a solução de alta coquetelaria em casa ou qualquer lugar, com ingredientes previamente processado e tudo o que o cliente precisa para apenas finalizar a bebida e ter a experiência onde estiver, facilitando o consumo. “Nosso plano para o futuro, além de seguir com da nova empresa é apostar no segmento de Home Bar, que são os eventos e reuniões intimistas em casa”.
O DJ Rapha Lima, atuante no mercado do entretenimento há 20 anos, ressaltou que, apesar do boom das lives, elas não têm um retorno financeiro muito baixo. “Estou vivendo mesmo na base a ‘blogueiragem’ como falam na internet, né? Eu tenho alguns parceiros e tudo mais e está dando para respirar. Mas está bem difícil!”, analisou.
Foco no público
Para a fase pós-pandemia, existe ainda uma série de incertezas, sobretudo para quem depende da área Para Gis de Oliveira, relações públicas e mentora de carreiras artísticas há 20 anos, o impacto no mercado de trabalho é imensurável.
Segundo ela, são centenas e milhares de empregos que simplesmente deixaram de existir com a parada dos eventos e a incerteza do Carnaval, desde os vendedores ambulantes à seguranças, limpeza, equipe técnica, artistas. “Estamos falando de milhares de profissionais que estão desde o Carnaval sem trabalho ou se reinventando como podem para sobreviver.” Em meio à crise, a empresária apostou em novos modelos de negócio e apontou ainda uma nova tendência, fruto desse período de crise e instabilidade.
“Foquei em aproveitar o tempo para me especializar e aprender novas habilidades, investi no meu escritório de agenciamento artístico pois as ações e campanhas digitais aumentaram, acelerei o desenvolvimento de um projeto de mentoria para direcionamento de carreira e imagem utilizando as conexões de forma estratégica com propósito que estava na gaveta”.
Gis conta ainda que, desde a folia em fevereiro, foi contratada apenas para dois grandes eventos como relações públicas. “A parte boa foi a inovação do meu mercado como relações públicas de lives, então vejo que por um lado existe a escassez e por outro um novo mercado que não existiria se não fosse a pandemia”, acrescentou. Ainda segundo ela, o futuro do entretenimento vai estar ligado ao essencial: o público — ao vivo e na internet.
“Ao cuidado com o público e para sempre conectando o presencial com o online, não vai existir mais evento presencial sem a acessibilidade digital e ainda vão se desenvolver novas formas de monetização e produção no digital com o presencial, assim como pra mim abriu um mercado de RP nas lives e nas campanhas publicitárias, outras oportunidades surgirão”.