Análise: os motivos que fazem o sertanejo ser ignorado no Rock in Rio
Mais uma edição do festival se passou e outra vez o sertanejo ficou de fora
atualizado
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Na noite de domingo (11/9), mais um Rock in Rio chegou ao fim após uma semana de shows na Cidade do Rock. Centenas de artistas de diversos estilos passaram pelo festival. No entanto, mais uma vez, o gênero musical mais popular do país ficou de fora: o sertanejo. Em 22 edições realizadas no Brasil e no Mundo, o Rock in Rio nunca escalou artistas do gênero para tocar em um desses palcos. Neste texto, a coluna LeoDias tentará te explicar o que faz o estilo musical ficar de fora do maior festival de música do país.
Preconceito
Ao longo de toda a história, o Rock in Rio ignorou estilos musicais por um motivo bem claro: preconceito. Funk e o rap são exemplos. Mesmo presentes na cultura de nosso país e da cidade do Rio de Janeiro, por anos foram ignorados pelos organizadores do festival. O funk, estilo criado nos morros cariocas, só foi subir aos palcos da cidade do rock em 2019 com Anitta. O rap, por outro lado, já havia marcado presença na edição de 1991 com o grupo americano Run DMC, mas demorou até ser aceito novamente pela organização do festival.
“Ah, mas o Rock in Rio não deveria ser um festival de rock?”. Bom, o nome pode até fazer as pessoas entenderem desta forma, mas, desde o início, o festival é conhecido por mesclar diferentes estilos. Em sua primeira edição, em 1985, o festival colocou nomes que não podemos classificar como “roqueiros”, como é o caso de Elba Ramalho, Gilberto Gil e George Benson.
Sem falar que nos últimos anos os roqueiros têm dividido espaço com divas do pop, rappers e grandes nomes da música eletrônica nas escalações principais do festival. Então, é possível afirmar sim que como o rap e o funk sofreram por muitos anos, um dos motivos que fazem o sertanejo não ser escalado se deve em grande parte ao preconceito.
Regionalismos
Outro ponto que também deve ser abordado são os regionalismos inerentes à cultura do nosso país e do lugar de origem do festival. Por mais que tenha se tornado uma marca global, não podemos esquecer que o Rock in Rio surgiu no Rio de Janeiro e, como pode se esperar, possui inúmeras especificidades ligadas ao contexto cultural da cidade.
Em 2021, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, publicou uma matéria que revelou um fato marcante. Dentre todos os estados do Brasil, o único em que a música sertaneja não era mais ouvida era justamente o Rio de Janeiro, estando em 3º lugar atrás do Pop e da MPB.
Historicamente, dentre todos os lugares do país, o que a música sertaneja tem mais dificuldade para entrar são em terras fluminenses, mas isso tem mudado nos últimos anos. Artistas como Luan Santana, Maiara & Maraisa, Henrique & Juliano e Gusttavo Lima tem conseguido ter sucesso quando trazem suas turnês para as cidades que compõem o Rio de Janeiro.
O sertanejo precisa do Rock in Rio?
O que muitas vezes não é discutido quando se fala da presença ou não do sertanejo no festival é o fato de que talvez para os próprios sertanejos não seja tão interessante estar presente na Cidade do Rock. Estilos musicais como rap, pop, funk e eletrônica foram e são difundidos em grandes centros urbanos, o sertanejo vem na contramão disso.
O estilo é uma característica dos rincões do país, do interior. Enquanto estes outros estilos fazem sucesso nas grandes capitais e daí são “exportados” para o interior, o sertanejo faz o movimento contrário. O caminhoneiro, o trabalhador da roça e os fazendeiros conhecem as duplas sertanejas antes mesmo do morador de São Paulo.
Com isso, o gênero criou uma “bolha” muito bem protegida. As duplas mais conhecidas conseguem lotar shows em literalmente quase todas as cidades do país, das maiores às menores, muitas vezes antes mesmo de aparecerem em grandes programas de TV. O sertanejo domina as rádios e sabe como ninguém como domar as redes sociais.
Sem falar que os grandes nomes do sertanejo não precisam participar de festivais, eles mesmo fazem os próprios festivais, como é o caso de Gusttavo Lima com o Buteco e Hugo & Guilherme com o No Pelo 360. Isso sem contar dos grandes rodeios que acontecem Brasil afora e, em muitos casos, não devem nada em estrutura ao próprio Rock in Rio.
Logo, sendo um estilo musical muito bem consolidado e que caminha com as próprias pernas, não é um absurdo imaginar que os próprios artistas do meio não se interessem muito por participar.
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