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Karol Conká está sofrendo um cancelamento inédito na história do Big Brother Brasil. Muito criticada nas redes sociais por seu comportamento no confinamento com os participantes Lucas Penteado e Juliette Freire, a cantora está perdendo trabalhos, além de fãs. Ela teve seu show virtual no Festival Rec-Beat cancelado, a transmissão do programa Prazer, Feminino no GNT suspensa e o contrato com a Avon encerrado.
A coluna conversou com a historiadora antirrascista Carol Sodré para entender que parte do julgamento do público está enraizado no racismo e o quanto as críticas são fundamentadas. “O racismo sempre atravessa tudo. Porém, no caso da Karol, algumas falas realmente são indefensáveis. O que eu vejo ali é uma pessoa que não consegue ter um filtro social e acha válido falar o que pensa sem calcular as consequências, inclusive para ela”, comenta ela.
Perguntada se o local de nascimento e criação da cantora, Curitiba, pode ter contribuído com sua postura mais dura em relação aos outros participantes, a historiadora diz que sim. “Sem dúvidas. Ela mesmo já declarou em entrevistas a ferocidade do racismo que passou durante a infância e adolescência. Esse tipo de situação pode trazer danos irreversíveis para a nossa psique”.
Carol citou as inúmeras tentativas de Karol tentar beijar Arcrebiano Araújo na festa desta quarta-feira (3/2) como uma forma de reparar a ferida emocional que a cantora carrega devido ao sofrimento que passou com o racismo. “Ela se humilhando e assediando um participante homem branco para ficar com ele nitidamente desesperada por aprovação e atenção da branquitude”.
Racismo estrutural
Mas mesmo antes dos atos de Karol se tornarem violência psicológica contra Lucas e Juliette, as atitudes da cantora, assim como a de Lumena Aleluia, já estavam sendo vistas pelo público como agressivas. “Enxergar o homem e a mulher negros como agressivos é estrutural. É uma das facetas do racismo na nossa sociedade, que desde a escravidão, animaliza e selvageriza corpos negros”, explica Carol.
“Se criou um esteriótipo de que corpos negros não eram socialmente aceitáveis, e, sendo assim, eram naturalmente violentos. Por outro lado, os corpos negros escravizados perceberam a violência como um importante aliado de resistência contra a escravidão. Essa questão é complexa, mas basicamente reforça o fato de vermos corpos negros como descartáveis”, completa a historiadora.
É difícil dizer se o cancelamento da cantora está sendo justo em comparação a outros casos. E só o tempo dirá se Karol receberá uma nova chance do público. “Pelo que vimos até agora, vai ser difícil. Já foi estimado que ela perdeu cerca de R$ 3 milhões em patrocínios e investimentos até o presente momento. Ela conseguiu atingir diversos nichos da população com falas ofensivas e descontextualizadas da realidade”, finaliza Carol.