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Imagine ser um artista na década de 1990 e assinar com a Som Livre: não apenas sabia-se que estava em uma das mais conhecidas gravadoras do país, mas que ela pertencia à Globo, emissora mais poderosa do Brasil à época. Era, certamente, pavimentar o caminho para o estrelato.
Porém, poucas indústrias sofreram tantas modificações nas últimas décadas quanto a da música. O poder dos streamings, a força das redes sociais para catapultar artistas, estes próprios comandando as carreiras por si mesmos…
Na esteira dessas mudanças, o anúncio de que a Globo irá vender a Som Livre, ainda que seja impactante, demonstra como essas modificações podem ter prejudicado as expectativas da empresa com esse negócio.
Segundo especialistas ouvidos pela coluna, a forma como se deu o comunicado — os funcionários souberam da decisão antes mesmo da empresa ser vendida — demonstra que, provavelmente, a má saúde do empreendimento já estava sendo avaliada.
Aliás, o fato da Som Livre não ter participado da fusão do Grupo Globo, antes visto como positivo, agora reforça a teoria de que a gravadora não era mais tão lucrativa há um tempo. E isso fortalece a ideia do quanto as mudanças de hábitos na forma de consumir música podem ter afetado a companhia.
Poder de barganha
A associação Som Livre e Globo sempre existiu. Afinal, esse era o maior poder de barganha que a gravadora detinha quando competia com gigantes como Warner, Sony e Universal: os cantores e cantoras eram seduzidos pela grade de programação do plim plim e seus milhões de telespectadores, garantindo, até então, a forma mais rápida de chegar ao público, junto do rádio.
Como repensar isso diante do streaming, que faz o smartphone ter todo o acervo musical do mundo? Como mensurar o impacto esse contato quando uma live no Instagram coloca o artista conversando diretamente com os fãs? Claro, esses motivos, sozinhos, não são capazes de acabar com uma empresa.
Porém, é importante lembrar que, entre as interessadas na compra da Som Livre, está a Believe, uma das maiores agregadoras do mundo, responsável, justamente, por fazer a distribuição das músicas para as plataformas de streaming como Spotify, Deezer e Apple Music.
A Globo compreendeu que o digital tem força, sim, e não há como lutar contra isso. A prova disso é o alto investimento em projetos no Globoplay. Resta saber se a jogada com a Som Livre vai garantir que a emissora continue tendo arbítrio sobre a música brasileira. É dar o play e esperar.