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Assim como ele mesmo cantou em seus versos, Cazuza teve uma “vida louca vida, vida breve”, mas garantiu que fosse uma “vida louca vida, vida imensa”. Trinta anos após sua morte, a coluna relembra e celebra a trajetória e a obra desse artista que, até os dias de hoje, ainda se mantém como um dos mais relevantes da música popular brasileira e está mais atual do que nunca.
Cazuza nasceu Agenor de Miranda Araújo Neto e cresceu na companhia dos nomes de maior sucesso da música nacional, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina. Seu pai, João Araújo, foi o fundador e presidente da gravadora Som Livre, mas precisou ser convencido a apostar no talento do filho. O primeiro disco do Barão Vermelho, que tinha o cantor como vocalista na época, foi gravado sem muito investimento e lançado em 1982.
O álbum, que já trazia a linda Todo Amor que Houver nessa Vida, logo se tornou sucesso entre os críticos, que admiraram o vocal berrado de Cazuza e as letras compostas em parceria com Frejat. A banda estourou e um dos momentos mais marcantes da carreira foi no Rock in Rio de 1985, quando o cantor anunciou a eleição do presidente Tancredo Neves. O fim da ditadura militar foi comemorado com Pro Dia Nascer Feliz.
No mesmo ano, Cazuza deixou o Barão Vermelho para seguir carreira solo. A faixa-título do primeiro trabalho é a definição perfeita do poeta: Exagerado. O temperamento passional, a ironia e a irreverência se tornaram marcas registradas do cantor. Mas foram o seu estilo na maneira de cantar e a personalidade impressas nas letras que o transformaram no símbolo do rock brasileiro dos anos 1980.
Após o diagnóstico de HIV positivo, Cazuza versou sobre a doença em Ideologia: “Meu prazer agora é risco de vida, meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll”. Na época, a Aids ainda era uma assustadora novidade e, frequentemente, era entendida como uma sentença de morte. Mesmo em tratamento, o cantor se negou a abandonar a vida boêmia que levava com alegria pelos bares da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Nas politizadas Brasil e O Tempo Não Para, Cazuza questionou a sociedade brasileira e se provou atemporal, com letras que são atuais até os dias de hoje. Ou será que ninguém mais vê o “futuro repetir o passado”? A crítica em ambas as composições lamentam um país preconceituoso e corrupto e revolucionam ao aproximar o rock da MPB, até então vista como mais elitizada.
Em 1989, Cazuza declarou publicamente ser soropositivo e se tornou um dos símbolos da luta contra a Aids. Ele faleceu aos 32 anos, em 7 de julho de 1990, por um choque séptico, mas deixou como memória uma obra prolífica em apenas dez anos de carreira. Foram 126 músicas gravadas, 78 inéditas e 34 para outros intérpretes e um legado de versos atemporais. O poeta está vivo.
Reportagem de Thais Sant’Anna