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“Há fatos graves”, diz Eduardo Leite sobre impeachment de Bolsonaro

Ao Metrópoles, o governador gaúcho também disse que se arrepende de ter votado em Bolsonaro: “Erro meu e de milhões de brasileiros”

atualizado

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Pré-candidato tucano à Presidência da República, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), reconheceu neste domingo (4/7) como “um erro” ter declarado o voto, durante o segundo turno das eleições de 2018, no então candidato presidencial Jair Bolsonaro (sem partido), postulante que acabou vencendo a disputa majoritária.

Durante uma rápida passagem por Brasília, onde iniciou a campanha interna para angariar simpatia da militância do PSDB-DF, o político abriu um espaço na agenda para uma entrevista ao Metrópoles, quando também comentou sobre a repercussão de ter assumido publicamente a homossexualidade, a qual disse ter “orgulho”, e rebateu as críticas de integrantes da esquerda por ter declarado voto no atual presidente, ainda no segundo turno das eleições de 2018.

“Isso mostra como o país tá doente no exercício da atividade política. A gente pode ter divergências, pode ter diferenças de entender sobre como o Estado deve se organizar do ponto de vista entre esquerda e direita, mas essa questão de igualdade, de respeito, eu acho que podemos ter total convergência, de acordo com a importância do tema, independentemente de posicionamento de concepção ideológica”, disse.

Eduardo Leite explicou que, na verdade, não fez campanha para Bolsonaro nas últimas eleições, apenas teria declarado o voto no então candidato da extrema direita.

“Foi uma declaração de voto [em Bolsonaro] e quem quiser pesquisar consegue achar o vídeo com uma única manifestação que eu fiz sobre o segundo turno, em que eu declarei em quem votaria. Apoiar significa fazer campanha, pedir votos e isso jamais foi feito por mim. Foi um erro, sem dúvida nenhuma, que cometi eu e que cometeram milhões de brasileiros”, afirmou.

Leite argumentou que, no cenário de segundo turno das últimas eleições para o Planalto, havia, na visão dele, dois candidatos: um com o carimbo da política “responsável por milhões de desempregados” e que gerou uma recessão profunda no país e outro postulante com “manifestações muito ruins ao longo da sua trajetória política”.

O pelotense revelou, ainda, ter demorado a assumir publicamente a própria condição sexual por entender que seria mais uma questão de foro íntimo. Contudo, com as insinuações constantes de Bolsonaro, se viu obrigado a confirmar à população a orientação.

“A minha orientação sexual não toca na vida dos outros, por isso que eu não tinha falado antes sobre isso. Eu queria falar sobre como eu podia tocar na vida das outras pessoas, mas é tão bonito, tão legal e eu estou até emocionado nos últimos dias pelo apoio, pelos relatos que recebo de pessoas que sentem representadas”, continuou.

Veja a entrevista:

 

Leite também reforçou que a declaração pública sobre a própria sexualidade “em nada compromete a integridade” na ocupação de um cargo público eletivo, e ironizou políticos que têm muito mais a esconder.

“Boa parte da política se apresenta de um jeito e acaba não sendo, não sendo do jeito que se apresenta. Eu não estou falando aqui sobre a questão da orientação sexual, eu estou falando aqui sobre vender-se de uma forma para uma população e ser outra coisa. O próprio presidente da República fez insinuações desrespeitosas a respeito da minha orientação sexual. Eu não tenho nada a esconder, quem tem são eles, né? Eles têm que esconder a rachadinha, tem que esconder compra superfaturada de vacina, tem a esconder o mensalão de um lado, o petrolão, tem tantas outras coisas aí a esconder, não é a minha orientação sexual algo a esconder. É algo que me orgulho”.

Disposto a ser escolhido pelo ninho tucano para representar o partido nas eleições presidenciais, Eduardo Leite acredita que o tema sobre eleições ainda precisa ter uma atenção maior da sociedade, embora haja tempo até outubro do ano que vem. Por isso, embora coloque o próprio nome, não descarta que o partido possa reconhecer uma outra candidatura ao Palácio do Planalto.

“Ainda tem muita coisa para acontecer. É claro que a forma como o presidente exerce esse poder acaba antecipando esse processo, acaba fazendo com que esse debate se antecipe na medida em que as pessoas querem ver uma luz no fim do túnel. Então dentro desses extremos que a gente está vivendo, começa a se antecipar o debate para tentar achar uma alternativa. O PSDB sempre teve candidatura à Presidência da República e, por isso, há expectativa que tenha novamente”.

“Nesse momento, as pessoas estão preocupadas se vão receber a vacina, a tempo de se protegerem ou não, se a sua família vai receber a vacina ou não a tempo de evitar a perda de alguém querido, se vai manter o emprego, se vai conseguir botar comida pros seus filhos. Essas são as preocupações imediatas da população, não é a preocupação com a eleição”, pontuou.

Para Eduardo Leite, a gestão presidencial para coordenar a pandemia da Covid-19 é “desastrosa” e pode representar a justificativa para um pedido de impeachment contra o principal mandatário do país, embora evite cravar ser favorável ao impedimento contra Bolsonaro.

A coordenação da pandemia é um desastre. Não tem coordenação nenhuma, né? Pelo contrário. Se fosse apenas omissão, já seria grave. Só que é mais do que isso: é uma liderança no sentido contrário, é enfrentamento, é confronto, conflito, ataques a todo momento. Isso é muito grave, porque numa pandemia, coloca vidas mais do que em risco. Está fazendo a gente perder vidas e isso é claro, é científico

Eduardo Leite, governador gaúcho

“Você identifica que no Brasil mais de meio milhão de pessoas perderam a vida para o vírus, porque o presidente estimula a confusão, ele estimula para a população o desacato às orientações, as regras que se apresentam e que são entendidas mundialmente como  protocolos não farmacológicos. É um desastre com requinte de crueldade, porque para sustentar uma posição ideológica, o presidente joga vidas humanas ao risco do vírus”, continuou.

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Tornou-se prefeito de Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 2013
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, avalia trocar o PSDB pelo PSD
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB)
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Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, avalia trocar o PSDB pelo PSD

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Impeachment

O tucano também dispara críticas contra Bolsonaro por sempre mirar ataques contra os poderes constituídos do Brasil, além de sempre tentar cercear da imprensa o direito a informar.

“Tudo é atacado pelo presidente da República, né? A imprensa, o Parlamento, o Judiciário, os governadores, os prefeitos, todos estão sob constante ataque do presidente é isso é grave. A política nacional está com muita energia desperdiçada em destruir o outro. E a gente coloca energia em destruir algo, a gente perde a oportunidade de construir. Da minha parte, quero ajudar a fazer a política nacional, voltar para a discussão de construção, de futuro”.

Embora tenha “reserva” para se posicionar abertamente sobre o afastamento do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Leite enxerga fatos graves cometidos pelo titular do Planalto, especialmente na condução da pandemia.

“A gente não pode banalizar o impeachment, mas também não entendo que a gente pode banalizar a Presidência da República. Há fatos muito graves, uma conduta própria do presidente da República que merece avaliação sob a análise de um impeachment, dos fatos mais recentes, especialmente de corrupção. Não é só corrupção que pode ser avaliada como crime de responsabilidade. Porém, guardo reserva na minha posição sobre isso, porque sou governador de um estado que é parte desta Federação, e governo para 11,5 milhões de gaúchos, muitos que apoiam, mas outros que não apoiam o impeachment”.

Vacina

Governador de um dos estados que está na liderança de aplicações das doses dos imunizantes, Eduardo Leite afirmou ter elaborado uma logística interna para que as remessas de vacinas encaminhadas pelo Ministério da Saúde ao Rio Grande do Sul cheguem em todos os municípios em, no máximo, 24 horas. O tucano também criou uma espécie de “prêmio” para as cidades com maior número de aplicações do antídoto contra a Covid-19.

“Criamos uma premiação para os municípios como reconhecimento do esforço em vacinar mais rápido. Então, de acordo com as doses que são disponibilizadas, no dia 20 de agosto, essas cidades vão receber premiações em dinheiro, que são para aplicações diretas na população. Não é para o prefeito, nem para o secretário, é para uma população da cidade, com recursos que podem ser utilizados em reforma de unidades de saúde, equipamentos para serem comprados”.

Conhecido pelas reformas aprovadas no estado, Eduardo Leite defenderá, caso efetivado candidato tucano ao Planalto, uma revisão tributária e a redução do inchaço da máquina pública.

“Eu tive que enfrentar no Rio Grande do Sul temas muitos sensíveis, porque o estado estava totalmente desequilibrado, não pagava salário, não pagava hospital, não pagava saúde nos municípios. Tudo isso está regularizado por conta das reformas que a gente fez. As reformas não são o fim de si mesmo, né? As reformas são um meio pra que a gente possa dar equilíbrio à máquina de forma que ela consiga atingir os seus objetivos. O Brasil não consegue sair desse voo de galinha. Esse ano a gente deve ter um crescimento econômico um pouco maior, em função da recessão profunda que se teve em 2020, mas a gente não consegue ver pelo histórico do país que ele consiga sustentar crescimento por longo período”.

Segundo Leite, a relação do contribuinte com o fisco reforça a necessidade de uma reforma tributária aprofundada. “Para ganhar produtividade, você tem que tornar um país mais simples, reduzir burocracia, reduzir o custo do sistema tributário tão complexo. Em algumas empresas, em alguns setores econômicos, chega ao absurdo de se ter mais gente na contabilidade para administrar o sistema tributário do que na atividade fim. Isso é um absurdo, é muita energia consumida pra administrar a relação com o fisco”, finalizou.

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