Empresas de ônibus alegam colapso e pedem R$ 100 mi mensais a GDF
Associação dos empresários diz que valor corresponde à queda de até 80% dos passageiros devido à quarentena causada pela Covid-19
atualizado
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Com o impacto da queda de cerca de 80% na movimentação de passageiros, após as medidas de isolamento adotas no Distrito Federal em função do coronavírus, as empresas que atuam no sistema público de transporte rodoviário pedem agora que a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) injete R$ 106.815.110,95 mensais na conta das cinco viações que prestam o serviço, considerado essencial.
Os empresários alegam que se não houver ajuda oficial, o setor – assim como vários outros segmentos do país – pode entrar em “colapso”. Devido à crise, pessoas jurídicas dos mais variados segmentos têm pedido apoio do governo.
A situação se repete país afora, nas instâncias municipais, estaduais e federal. No DF não é diferente. Com comércio fechado e economia paralisada, a quebradeira de empresas tem aumentado a cada dia.
No caso das empresas de ônibus, o repasse seria mensal e ocorreria enquanto estiverem em vigor as regras contra a proliferação da Covid-19. O auxílio serviria para cobrir os prejuízos contabilizados desde que o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu adotar medidas restritivas para o combate ao novo coronavírus.
O Metrópoles teve acesso ao documento assinado pela Associação das Empresas de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (DFmob), que informa um cenário pessimista para as empresas e prevê um “colapso” econômico para as transportadoras no caso de a quarentena local permanecer pelos próximos meses.
O ofício é datado de 2 de abril e foi encaminhado ao secretário de Transporte, Valter Casimiro. O GDF ainda estuda a viabilidade da proposta.
“Diante do quadro lastimável que se encontram as operadoras do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF [STPC-DF], de um colapso econômico e financeiro, não restou alternativa senão a de pleitear, ao poder concedente, complemento emergencial, priorizando a sustentabilidade da operação e segurança dos usuários, a fim de se evitar a paralisação do STPC-DF, como já vem ocorrendo em outros estados da Federação”, argumentam as empresas.
Ainda segundo a DFmob, “para sobrevivência das operadoras, é necessário que o complemento a ser concedido observe o custo operacional mínimo do STPC-DF, que equivale a, aproximadamente, R$ 106.815.110,95 para cada período de 30 dias, sem a incidência dos impostos. Estima-se, contudo, conforme noticiado pelo GDF, que esta situação permanece por, no mínimo, 60 dias, a contar da presente data”, reforçam.
Reforço em linhas
Atualmente, as cinco empresas contratadas para prestar o serviço essencial são: Piracicabana, Urbi, Viação São José, Marechal e Pioneira. Antes da crise da Covid-19, o sistema transportava cerca de 1 milhão de passageiros por dia. Na atualidade, alegam, esse número reduziu para pouco menos de 300 mil pessoas, com o emprego dos cerca de 12 mil trabalhadores mantidos.
Os rodoviários, entre motoristas e cobradores com mais de 60 anos, foram afastados a fim de respeitarem a quarentena por integrarem o grupo de risco.
Para evitar a aglomeração de pessoas em paradas e estações rodoviárias, o governador determinou o reforço em linhas específicas e, conforme cálculos das operadoras, a redução da frota, se comparada aos dias anteriores à pandemia, não chega a 10% do total de veículos.
A associação das empresas alega que, como não houve nenhum tipo de redução de custo na operação, os gastos continuam os mesmos, mas com uma receita 80% menor. O ofício também alerta que o colapso previsto no DF já é concreto em outros estados, sem citar quais, o que poderia resultar em inúmeras demissões locais.
O que diz o GDF?
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) confirmou ter recebido a demanda da Associação das Empresas de Transporte e Mobilidade do DF.
“Levando-se em consideração a determinação feita pela pasta para manter quase toda a frota em operação para evitar aglomerações, é possível que o GDF pague exclusivamente os custos de operação da frota para manutenção dos serviços”, informou.
Ainda segundo a Semob, “neste caso, as empresas deixam de receber a rentabilidade e os demais gastos não operacionais previstos nos contratos”, ponderou.
Demissões em Recife
Recentemente, a queda no faturamento devido às medidas de isolamento para evitar a propagação do coronavírus foi a justificativa de uma empresa de ônibus urbanos da Grande Recife (PE) para a demissão em massa de cerca de 200 motoristas, cobradores e outros funcionários, entre terça (31/03) e quarta-feira (01/04).
A empresa que demitiu foi a Transcol, que teve protesto na porta após anunciar os cortes, mas, segundo a imprensa local, outras empresas de ônibus que operam na região já anunciaram cortes e suspensão de salários, que devem atingir 60% da força de trabalho da categoria na região.
Um dia depois, o governador pernambucano, Paulo Câmara, anunciou que as demissões seriam revertidas. No anúncio, o socialista disse ter se reunido com representantes do setor por meio de videoconferência.
Pesquisa
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e divulgada na tarde de segunda-feira (06/04) revela que mais de 90% dos transportadores estão pessimistas em relação ao futuro e avaliam que a pandemia do novo coronavírus terá impacto negativo em suas empresas.
A Pesquisa de Impacto no Transporte Covid-19 foi realizada entre 1º e 3 de abril, com 776 empresas de cargas e de passageiros de todos os modais de transporte. O levantamento mostra que 85,3% das empresas transportadoras perceberam redução em sua demanda em março de 2020 na comparação com mês igual nos anos anteriores.
De acordo com a entidade, dos transportadores entrevistados, “70,7% já estão enfrentando problemas de caixa e severo comprometimento da capacidade para realizar os pagamentos correntes, como a folha de pagamentos e os fornecedores. Além disso, 53,7% das empresas têm recursos para, no máximo, um mês de operação, sendo que 28,2% não suportam 30 dias sem apoio financeiro adicional”.
O levantamento mostra ainda que, para 69,6% dos empresários consultados, os efeitos da crise serão percebidos por mais de quatro meses.
“Mesmo diante do cenário adverso, porém, as empresas do setor têm ajustado suas rotinas de trabalho de forma a manter seus empregados. A pesquisa mostra que 34,1% das empresas alternaram os funcionários em turnos de trabalho; 32,1% concederam férias coletivas; e 29,5% utilizaram banco de horas. Diante das dificuldades, contudo, 22,2% já realizaram demissões em março de 2020”, informa o levantamento.
O mesmo estudo também indica que 51,9% dos transportadores consultados pela CNT acreditam que a disponibilização de linhas de crédito com carência estendida e taxas de juros reduzidas (incluindo capital de giro) de forma ampla e sem restrição ao porte da empresa são as medidas mais importantes para aliviar o problema de fluxo de caixa durante a crise . “Também foi lembrada por 43,3% das transportadoras a suspensão da cobrança do PIS e da Cofins.”
“É inegável que a crise da Covid-19 deixa os transportadores em uma situação de extrema dificuldade. Por isso, é urgente que o governo apresente planos de retomada gradual da economia – sempre conciliando a preservação da vida dos brasileiros com a sobrevivência das empresas, que são a base da sustentação socioeconômica do país”, defendeu o presidente da CNT, Vander Costa.