Acusado de agressão, juiz Roberto Caldas pede afastamento
O magistrado, da Corte Interamericana de Direitos Humanos, responde a processo por ameaça à vida da ex-mulher
atualizado
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Após ser acusado de agressão à ex-mulher, o juiz Roberto de Figueiredo Caldas decidiu pedir licença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, “por tempo indeterminado”. O comunicado consta de e-mail encaminhado ao tribunal internacional. O caso, denunciado pela revista Veja, foi repercutido pelo Metrópoles.
Segundo advogados de Caldas, o pedido foi enviado na última sexta-feira (11/5), logo após a ampla divulgação do escândalo. No texto, contudo, o juiz não se aprofunda sobre os reais motivos da decisão, menciona apenas que o afastamento se deu “por razões particulares”.
Indicado para o cargo pela então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011, Roberto Caldas é representante brasileiro no órgão interamericano para tratar exclusivamente de Direitos Humanos e rede de proteção humanitária. O juiz, que já presidiu a Casa, ocupa o cargo desde 2013, mas em novembro de 2018 o mandato chega ao fim.
Em parte das gravações, Caldas, conhecido pelo discurso eloquente em defesa dos Direitos Humanos, chama a ex-companheira de “cachorra”, “mentirosa”, “doida” e “burra”.Especialista em direito do trabalho, Caldas se separou em dezembro de 2017, após um relacionamento de 13 anos com Michella Marys. Ela prestou queixa por injúria, ameaça e agressão. Alguns dos momentos foram registrados pela vítima em áudios já sob poder da Polícia Civil do DF.
Segundo Michella, em alguns momentos ele chegou a ameaçá-la com uma faca. Em outros relatos, a mulher acusa o juiz de ter puxado o cabelo dela e a derrubado na escada de casa. A ex-esposa de Caldas garante ter mais de seis anos de conversas gravadas – muitas delas com possíveis agressões explícitas por parte do magistrado.
O caso tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Promotores do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) chegaram a acionar o 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para garantir medidas protetivas para a vítima. No entanto, o juiz que analisou o caso afirmou que questões envolvendo o casal são “aparentemente” financeiras. Por essa razão, o pedido foi negado.
Defesa se manifesta
Procurada nesse sábado (12), a defesa de Roberto Caldas disse reconhecer “serem graves as inúmeras ofensas verbais feitas pelo casal ao longo de uma tumultuada relação”. Segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, a ex-esposa gravou o cliente por seis anos, “o que demonstra uma relação doentia por parte dela, repleta de inconfessáveis motivos, mas, de qualquer maneira, as ofensas verbais são injustificáveis”.
Ainda segundo Kakay, o juiz nega qualquer agressão física. “As fotos mostradas são impactantes, mas dissociadas da realidade e nada provam contra Roberto Caldas”. Se houvesse qualquer agressão física, continua o advogado, “teria sido constatada em seis anos de gravação clandestina”.
O defensor alega se reservar do direito de não usar, pela imprensa, “por ser um processo em segredo de justiça, e, principalmente, por envolver os filhos menores do casal, bem como a filha da ex-mulher, a quem trata como se filha fosse, os elementos gravíssimos que demonstram a conduta criminosa da sua ex-mulher”.
Apesar de, segundo ele, haver “crimes contra a vida anteriormente perpetrados e revelados em processo judicial”, e outros graves crimes em época recente, “nada será objeto de exposição midiática, ainda que o objetivo principal da sua ex-mulher seja exatamente este”.
Kakay ressalta ainda que os limites da ética foram ultrapassados e as agressões verbais são injustificadas. “Mas Roberto Caldas não reconhece nenhuma agressão física. Aguarda a defesa, mesmo com o avassalador destaque negativo, que possa provar a verdade ao longo do processo”, finalizou.
Anteriormente, o juiz também havia declarado nota oficial sobre as recentes acusações.
Confira o documento na íntegra:
Venho a público revelar uma situação íntima derivada do encerramento, em dezembro passado, do vínculo com a minha ex-companheira. O assunto foi levado ao âmbito forense e obteve o resguardo do segredo de justiça, sem que tenha havido decisão ou medida alguma que me desfavoreça.
Venho espontaneamente fazer esse pronunciamento, na medida em que passei a sofrer ameaças de publicização de desavenças conjugais, com o objetivo de me constranger a aceitar um acordo financeiro absolutamente escorchante. Lamento que em breve possa haver a exposição pública de tais circunstâncias, sob uma ótica deformada e parcial.
Tenho agido com o máximo empenho e orientação profissional adequada para preservar os nossos filhos em comum e a filha da minha ex-companheira dos efeitos dessa chantagem. Mas a provável iminência de uma divulgação indevida desse conflito familiar me obriga a dirigir esse alerta aos que conheço e respeito.
Roberto de Figueiredo Caldas