Zara, H&M, Gap e outras marcas são acusadas de explorar trabalhadores
De acordo com relatório da Transform Trade, etiquetas de moda pagam valores baixos a fábricas localizadas em Bangladesh, na Ásia
atualizado
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Um relatório inédito, divulgado em 8 de janeiro deste ano, aponta dívida da indústria da moda com trabalhadores de têxteis. No levantamento feito pela Transform Trade em parceria com a Escola de Negócios da Universidade de Aberdeen, marcas relevantes de moda pagam valores inferiores ao custo de produção de suas coleções. A pesquisa localizou mil fábricas localizadas em Bangladesh, na Ásia, e destacou que muitas ainda recebem a mesma remuneração de antes da pandemia, independente do aumento dos custos das matérias-primas.
Entre as etiquetas nomeadas por tratarem os fornecedores de forma injusta e com baixos pagamentos, estão Zara, H&M, Gap, Next e Primark. De acordo com a pesquisa publicada, a maioria das fábricas citadas na análise relatam o aumento nos custos de materiais e dificuldades em pagar o salário mínimo do país para o setor, calculado em R$ 14,78 por dia, na cotação atual da libra.
O estudo analisou o período de março de 2020 a dezembro de 2021 e também destaca outras práticas que atingem diretamente as fábricas da Ásia. Inclui também o cancelamento de pedidos, atrasos e falta de pagamento, exigência de descontos, horas extras não remuneradas e assédios.
“Dois anos depois do início da pandemia, os trabalhadores de vestuário de Bangladesh não estavam sendo pagos o suficiente para viver, com um em cada cinco fabricantes lutando para pagar o salário mínimo, enquanto muitas marcas de moda usam a mão de obra de Bangladesh para aumentar os lucros nas vendas”, destacou o professor de contabilidade e sustentabilidade da Universidade de Aberdeen, Muhammad Azizul Islam.
Vale destacar que Bangladesh está entre os três principais países exportadores de vestuário mundial, segundo registros da World Trade Statistical Review 2021, divulgados pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Reconhecido pela mão de obra barata, o país da região sul da Ásia passa ser uma melhor alternativa para a indústria têxtil.
O arquivo também aponta que após o período de isolamento, e todas as medidas para o enfrentamento da pandemia, as confecções têxteis estavam apenas com 75% dos funcionários que tinham antes. De acordo com os dados, cerca de 900 mil funcionários foram dispensados.
“A pesquisa é um alerta”, relatou Fiona Gooch, consultora sênior de políticas da Transform Trade.
“Quando os varejistas tratam mal os fornecedores, quebrando os termos previamente combinados, são os funcionários que sofrem. Se um varejista não paga o valor acordado ou atrasa os pagamentos, o fornecedor tem que cortar custos de outra forma, e isso muitas vezes é repassado para seus trabalhadores, que têm menos poder na cadeia de suprimentos. Relatos de recontratação com salários e condições piores, bullying e horas extras não pagas são o resultado previsível”, concluiu.
A pesquisadora também reforça a importância de um órgão fiscalizador de moda para regulamentar as marcas e conglomerados. Visto que a indústria da moda equivale a 85% da receita de exportações de Bangladesh, com cerca de 12 milhões de pessoas que dependem do setor no país para sobreviveram.