Zara e H&M contribuem para o desmatamento no Brasil, aponta relatório
Investigação da ONG Earthsight mostra que produtores de algodão da Better Cotton estão envolvidos em grilagem de terra e outras violações
atualizado
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De acordo com uma investigação da ONG Earthsight, publicada recentemente pelo portal especializado em moda Business of Fashion (BoF), grandes marcas, como a espanhola Zara e a sueca H&M, estão envolvidas no desmatamento e em diferentes tipos de violação na Amazônia e no Cerrado. O relatório aponta que produtores de algodão certificados pela Better Cotton, ligados à cadeia de confecção das varejistas internacionais, contribuem em grande escala para a degradação dos biomas brasileiros.
Moda e desmatamento
Sediada na Suíça, a Better Cotton é uma plataforma de rastreamento de matéria-prima. O sistema é usado por mais de 13 mil agricultores, comerciantes, fábricas de tecidos, fabricantes de roupas, agentes de abastecimento e varejistas, com o objetivo de documentar eletronicamente volumes de algodão adquiridos.
Divulgada em 11 de abril, a investigação da Earthsight está disponível on-line. O estudo inédito demonstra que produtores certificados pela empresa suíça — associados à Zara e à H&M — usam algodão oriundo de grilagem de terras, desmatamento ilegal, violência, violações de direitos humanos e corrupção no Brasil.
“Os investigadores da Earthsight passaram mais de um ano analisando imagens de satélite, decisões judiciais [ações do Ministério Público], registros de remessas e se disfarçando em feiras comerciais globais para rastrear quase um milhão de toneladas de algodão contaminado de algumas das propriedades mais notórias do Brasil até fabricantes de roupas na Ásia que são fornecedores do produto para as duas maiores varejistas de moda do mundo”, sintetiza o relatório.
Segundo a apuração, o algodão é cultivado por duas das maiores agroindústrias brasileiras, SLC Agrícola e Grupo Horita. “O cultivo ocorre no oeste do estado da Bahia e em uma parte do Cerrado, que foi fortemente desmatado nas últimas décadas para dar lugar à agricultura em escala industrial”.
Posicionamento da Zara e dos produtores
Em 8 de abril, a Inditex, companhia controladora da Zara, mandou uma carta ao CEO da Better Cotton, Alan McClay, pedindo clareza sobre o processo de certificação e progresso nas práticas de rastreabilidade. O envio ocorreu depois que a ONG Earthsight informou à varejista que produtores com certificação Better Cotton estavam envolvidos em desmatamento e ilegalidades.
Conforme a correspondência, obtida pela Reuters, a Inditex disse que esperou mais de seis meses pelos resultados de uma investigação interna da Better Cotton, que foi prometida para o fim de março e supostamente começou em agosto de 2023.
As alegações “representam uma grave violação da confiança depositada no processo de certificação da Better Cotton por parte do nosso grupo e dos nossos fornecedores de produtos”, destacou a Inditex na carta. “A confiança que depositamos nestes processos desenvolvidos por organizações independentes, como a sua, é fundamental para a nossa estratégia de controlo da cadeia de abastecimento.”
Em novembro de 2023, a Better Cotton anunciou que adicionou novas funções à plataforma que os grandes varejistas usam para rastrear materiais ao longo das cadeias de abastecimento. A empresa afirma que apoia 2,2 milhões de agricultores em todo o mundo, representando 22% da produção mundial de algodão.
Ao portal InfoMoney, o Grupo Horita informou que não vai se posicionar por enquanto. Segundo a assessoria de imprensa, o assunto está sendo tratado na instância jurídica.
A Earthsigth acusa a SLC de se beneficiar de uma área de reserva legal localizada em Capão do Modesto, pertencente à Fazenda Paysandu. Em nota obtida pelo InfoMoney, a empresa agrícola disse que a área operada está, aproximadamente, a 37 quilômetros de distância da região em litígio. A SLC, inclusive, fez uma contestação na Justiça.