Zara é acusada de usar código para identificar “pessoas de cor”
Segundo Sérgio Pereira, delegado que apura o caso, clientes vigiados eram negros e com vestimentas simples
atualizado
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Em investigação realizada pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE), comandada pelo delegado-geral da Polícia Civil, Sérgio Pereira, foi identificado que a loja da Zara, em um shopping de Fortaleza, possui um protocolo para tratar os clientes. De acordo com as informações obtidas, a orientação é “vigiar” a movimentação de “potenciais suspeitos”, baseando-se pela vestimenta e cor da pele das pessoas. O detalhamento foi compartilhado em coletiva de imprensa da PCCE, na última terça-feira (20/10).
“Testemunhas que trabalharam no local alegam que eram orientadas a identificar essas pessoas com estereótipos fora do padrão da loja. A partir dali, ela era tratada como uma pessoa nociva, que deveria ser acompanhada de perto. Isso geralmente ocorria com pessoas com roupas mais simplórias e ‘pessoas de cor'”, afirmou Sérgio. Ele destacou que a seleção era baseada exclusivamente nas aparência das pessoas.
O delegado explicou que existia um código sonoro para fazer o “alerta”. A Polícia Civil identificou uma ex-funcionária da loja que explicou como se dava o procedimento. Ela informou aos investigadores que a loja, quando percebia que uma pessoa estava fora do padrão de cliente do estabelecimento, emitia, no sistema de som, a frase “Zara zerou”.
“A partir de então, essa pessoa era acompanhada pelos funcionários, não para ser atendida, mas naquela situação de vigilância ininterrupta. Porque ela saiu do perfil de cliente e passava a ser tratada como o perfil de suspeita”, explicou o delegado.
Segundo as autoridades policiais, com mais essa ocorrência, o estabelecimento reforçou o caráter discriminatório evidenciado em casos anteriores. “Esse tipo de tratamento da Zara já foi registrado diversas vezes, não só aqui no Brasil, inclusive fora do país, com pagamento de indenização”, pontuou Sérgio Pereira durante a coletiva. Entidades do movimento negro ingressaram na Justiça do Ceará contra a rede de lojas, pedindo R$ 40 milhões de indenização por dano moral coletivo.
Relembre caso de racismo
A informação é fruto de uma investigação aberta pela Polícia Civil para apurar crime de racismo cometido contra a delegada Ana Paula Barroso, barrada na entrada de uma loja da Zara em um shopping de Fortaleza (CE), em setembro deste ano.
Na data do episódio, a delegada, que é negra, foi impedida de entrar na loja por um funcionário por “questões de segurança”. Mesmo após questionar e pedir mais explicações, Ana Paula continuou sem permissão para entrar. A loja havia se negado a entregar para a Polícia Civil as imagens das câmeras de segurança. No entanto, a corporação obteve autorização judicial e apreendeu os aparelhos com o material gravado.
Após apuração da denúncia, a Polícia Civil indiciou o gerente da Zara, Bruno Filipe Simões Antônio, de 32 anos, pelo crime de racismo.
Posicionamento da marca
Após a publicação da matéria, a assessoria de imprensa da Zara Brasil respondeu ao Metrópoles sobre as investigações policiais. A marca afirmou que “não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação, quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos. Qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa”.
Completando, a empresa reforçou que “não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos”, esclareceu, no comunicado.
Colaborou Marcella Freitas