Yan Acioli fala sobre trajetória como stylist das estrelas brasileiras
Conhecido por construir o estilo de Sabrina Sato, o brasiliense já vestiu celebridades como Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Angélica
atualizado
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Nascido e criado em Brasília, Yan Acioli trilhou uma trajetória de sucesso quando se mudou para São Paulo e virou personal stylist. Em abril, encerrou a parceria de 13 anos com a apresentadora Sabrina Sato, que foi seu divisor de águas. De 2005 até agora, assinou o visual de celebridades destacadas no circuito nacional, como Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Carolina Dieckmann.
Publicitário por formação, o consultor veio de uma família de jornalistas concursados. Como sempre teve um apreço especial pelo universo fashion, resolveu romper a tradição e investir na produção de moda. Hoje, é considerado por muitos o stylist mais famoso do Brasil.
Yan faz questão da palavra personal, pois tem orgulho da identidade que construiu ao longo da carreira. Conhecido por trabalhar a sensualidade, acha que o cafona na moda depende de quem vai vestir. “Se a Rihanna usar, não é mais cafona”, diz.
“As pessoas que me procuram sabem que vou ter um pé na ousadia porque gosto disso. Eu preciso ter sensibilidade para saber chegar na casa da minha cliente, para olhar e saber como ela está naquele dia.”
Vem comigo!
Para Yan, Sabrina Sato foi uma verdadeira vitrine durante seus anos no programa Pânico na TV, quando ele trabalhava exclusivamente para a apresentadora. A segunda mulher que vestiu foi a cantora Preta Gil.
A proximidade com outra cliente fiel, Claudia Leitte, veio quando acompanhou a amiga Adriane Galisteu na gravação de um quadro na casa da cantora, em 2007. Daí surgiu um convite para ele vesti-la, que acabou se tornando uma parceria de cinco anos. Após uma pausa, foi retomada dois anos depois.
Uma experiência levou à outra e a lista cresceu: de Claudia Leitte para Caroline Celico, então esposa do jogador Kaká, que posteriormente o contratou para fazer o styling do ex-casal nas campanhas publicitárias. Outra dupla que recorre ao profissional vez ou outra é Luciano Huck e Angélica. Daí, o rol de celebridades passou a incluir nomes como Juliana Paes e Mariana Rios, das quais se tornou o stylist fixo.
Enquanto stylist, ele vê que as pessoas têm um vislumbre “deturpado da profissão”, que não se baseia apenas em ser amigo de celebridades: é preciso prestar um serviço de qualidade. Afinal de contas, para trabalhar com a imagem de personalidades públicas é preciso ter muita responsabilidade. “Tem que saber o que está fazendo”, observa.
Por outro lado, ele acredita que o mercado de moda cresceu e oferece um leque bem amplo de opções. “Atualmente, você não precisa desenhar para ser estilista. Assinei 12 coleções ao longo da minha trajetória. O que acho é que tem muita gente no caminho errado”, opina. “Lembro que eu assinava a Playboy, antes de vir para São Paulo, e a revista fazia aquelas viagens inacreditáveis. No crédito, sempre tinha escrito ‘produção de moda’. Eu queria saber o que esse cara [o produtor] fazia”, relembra.
Yan recebeu a coluna em São Paulo para o bate-papo que você pode conferir abaixo:
Você nasceu em Brasília e passou sua infância e juventude por lá. Do que mais se lembra dessa época?
Tive a melhor infância possível, fui a criança mais amada em todos os sentidos. Me lembro de tudo. Da piscina de plástico na casa onde morava, no Cruzeiro, da pizzaria Dom Bosco, do cachorro-quente do Landi. Tenho grandes amizades em São Paulo, mas meus amigos que me conhecem de verdade estão em Brasília.
De que maneira começou sua paixão por moda?
Minha família é basicamente toda de funcionários públicos. Meu pai, minha mãe e minhas tias são jornalistas. Todo mundo formado, com estabilidade garantida até o final da vida. Eu não sabia o que ia acontecer da minha vida e, como todo bom brasiliense, era quase automático que eu trilhasse o caminho do concurso público.
Eu sabia que não era estilista, não tenho o dom para desenhar. Mas sempre fui muito ligado à moda e não queria ser jornalista. Na época que prestei vestibular, era o boom da publicidade. No terceiro semestre, fui para Austrália fazer um curso de gerenciamento de marketing, porque já não estava mais apaixonado pelo universo da publicidade, mas achei pior ainda. Voltei para Brasília e consegui convencer minha mãe a fazer um curso de produção de moda. Me lembro até hoje que ela me perguntou o que um produtor de moda fazia. Eu disse que não sabia, mas iria descobrir.
Ela fez minha matrícula em um curso do Senai em São Paulo, que tinha três meses de duração. Precisei me formar para poder me atrever nessa experiência, era uma condição dela. Até hoje sou muito grato, porque minha mãe viu minha agonia e acreditou em mim. Acho que vim na hora certa. No primeiro mês, fui assistente do Rafael Mendonça, que já me colocou para fazer revista e campanha logo de cara. Cheguei em abril de 2005 e conheci a Sabrina [Sato] em maio do mesmo ano, com apenas um mês trabalhando como freelancer.
Primeiras experiências
Meu primeiro trabalho em SP foi com a Debby Gram, uma das maiores fotógrafas de moda do país. E lembro que, na conclusão do meu curso, depois de três meses, todo mundo chegou com suas conquistas e eu tinha assinado a produção de moda de uma capa de revista que tinha a Yasmin Brunet na capa. O Rafael era o stylist, e eu, o produtor. Eu estava no lugar certo na hora certa.
Nessa época, eu carregava muita sacola, batia de porta em porta nas lojas pedindo as roupas. A minha escola foi inacreditável. Talvez nas palestras que faço eu não consiga explicar detalhadamente como foi esse processo, porque era uma revista superconceituada, que tinha todas as modelos disponíveis na capa, de Isabeli [Fontana] a Fernanda Tavares. Mas eu tive a escola que me mandava para a rua às 9h da manhã, tomar café com o chefe, alinhar o roteiro do dia e depois “desproduzir”, que era o grande drama. Você tem que devolver tudo perfeito, limpo, sem estragos e nos lugares certos. A primeira coisa que uma pessoa tem de saber quando quer trabalhar nesse segmento é se informar. A parcela do glamour é muito pequena.
Como foi a parceria com a Sabrina Sato?
Sabrina tinha fechado com o Rafael Mendonça para ele ser o personal stylist dela. Na época, era uma demanda muito menor e o Rafael entregava quatro looks para ela, que eram os quatro domingos do mês que ela apresentaria o Pânico. E eu fui na virada do mês para levar os quatro looks. Chegando lá, fomos recebidos pela mãe dela. A Sabrina demorou uma hora para sair do quarto, porque tinha dormido tarde no dia anterior e depois apareceu de baby doll, uma trança para o lado e descalça. Sabe quando você se apaixona à primeira vista? Foi isso que aconteceu. A partir daí, a gente nunca mais se desgrudou.
Eu fiquei como assistente do Rafael até agosto daquele ano, quando ele decidiu se mudar para Nova York e delegou a mim a tarefa de cuidar da Sabrina. Tive um problema de família, minha mãe foi diagnosticada com câncer. Coincidiu com um acidente da Sabrina no Pânico, no qual ela tinha caído de um avestruz. Minha mãe melhorou, mas, mesmo assim, eu estava decidido a voltar para Brasília. Estava arrumando minhas coisas e recebi uma ligação da irmã da Sabrina, Karina Sato, dizendo que ela queria conversar comigo. Foi então que Sabrina me perguntou se eu queria ser o stylist oficial. A partir daí, tudo começou a dar certo. Eu tinha um salário fixo, trabalhava com uma mulher maravilhosa e tudo começou a fluir. Contamos uma história linda, que durou 13 anos.
Sou tão responsável por essa transformação quanto ela é pela construção do meu nome. A “Sabrina Sato fashionista” e o “Yan Acioli personal stylist” fizeram um trabalho orgânico, verdadeiro e natural. Para a gente trabalhar com os grandes fotógrafos, trabalhamos com os pequenos. Para trabalharmos com os melhores maquiadores, trabalhamos com os iniciantes. Nessa jornada, sempre demos valor a tudo que fizemos.
Qual é a parte mais difícil do seu trabalho?
Tive alguns clientes que, depois de um tempo, descobri que estávamos indo por caminhos diferentes, ou que me contrataram porque parecia ser legal, chique ou bacana, quando não é essa a real. Tive clientes com muito dinheiro, mas que não tinham vontade nenhuma de se vestir, e essa proposta também não funciona para mim. E pessoas que, depois de três meses de experiência, como qualquer emprego, achei que o caminho melhor era não continuar. Fui muito claro sobre minha proposta e eles entenderam, tanto que continuo amigo até hoje.
A dificuldade é diária. A sensibilidade é uma questão que deve acontecer a vida inteira. Trabalhei com a Sabrina durante 13 anos, com um programa inédito semanal. Se eu falar para você que em um programa fui relaxado, estaria mentindo. Todos os anos eu tinha tensão, expectativa para ver ela pronta, para a roupa servir e para ela gostar.
Como aconteceu o trabalho com a Ivete Sangalo?
Foi um divisor de águas na minha vida. Coincidiu com os dois anos que eu não estava vestindo a Claudia [Leite]. Eu estava vestindo a Carolina Dieckmann no Domingão do Faustão no dia que a Boate Kiss pegou fogo. Recebi a ligação da Cíntia Sangalo [rmã de Ivete] dizendo que queria fazer uma reunião comigo. Fiz a reunião, em Salvador, e foi uma consagração. Entendemos, depois de três meses, que os caminhos eram outros, mas eu continuo fã.
Quem são suas musas?
Tenho muita vontade de trabalhar com a Victoria Beckham, acho uma mulher inacreditável. Conheço a Costanza Pascolato, mas nunca trabalhamos juntos, e a considero uma entidade. Mas meu sonho é a Rihanna. É a mulher que melhor transita na moda. Ela está pouco se lixando se fez um look que metade do mundo achou feio e outra metade achou bonito. Ela se diverte com a moda. Tive a chance de conhecê-la duas vezes. Na segunda, passamos quatro horas juntos, na mesma loja. Ela ficou as quatro horas provando roupas. Só alguém que ama moda fica provando roupas esse tempo todo. Tenho certeza que a hora que nos encontrarmos será tão fascinante quanto meu encontro com a Sabrina em 2005.
Tem alguma mulher brasileira que gostaria de vestir e ainda não teve a oportunidade?
Tem muitas mulheres que acho lindas, mas estão bem encaminhadas com seus devidos stylists. Todo respeito a Bianca Jahara, que veste muito bem a Iza, mas, se qualquer dia, elas quiserem fazer uma parceria, estou à disposição, porque acho aquela mulher maravilhosa. Também estou na onda da Gloria Groove. Acho ela incrível. Nunca vesti a Gisele Bündchen. Gostaria muito, mas provavelmente ficaria bastante nervoso, porque sou muito fã (risos).
Acredito muito em destino. Eu tinha uma obsessão pela Carolina Ferraz, sempre a considerei elegante. Um dia, ela me chamou para produzi-la para um evento. Depois, me convidou para fazer uma temporada inteira do programa dela. Quando eu era mais jovem, costumava fingir que falava com a Adriane Galisteu, porque ela era um ícone de moda para mim. Passado um tempo, consegui trabalhar com ela. Então, assim, tudo pode acontecer. Sou muito sortudo.
Já tem algum tema pré-definido para o Carnaval 2019 de Claudia Leitte? Quais são os desafios de criar uma peça de Carnaval?
Não temos tema pré-definido ainda. Os desafios são muitos. Depois de tanto tempo trabalhando com esse tipo de roupa, a gente acaba tendo uma noção de quais serão os obstáculos. O zíper tem que ser de ferro. Em vez de um tule, precisamos colocar quatro tules reforçados. O bordado de vidro não pode entrar em contato com o corpo dela. Certa vez, tivemos de cortar o bordado inteiro, porque machucou a perna dela, chegando a sangrar. A manga tinha bordado de canutilho na ponta.
Você se arrepende de algum look?
Nunca coloquei uma roupa em uma mulher sem que eu e ela não ficássemos satisfeitos. De todos os meus clientes, ninguém saiu do quarto para trabalhar estando infeliz.
Confira alguns trabalhos de Yan Acioli na galeria abaixo:
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Colaboraram Edson Caldeira e Hebert Madeira