Você já regou sua roupa? Conheça a inovadora camisa viva feita de algas
O projeto de Roya Aghigh instiga questionamentos sobre sustentabilidade na moda e é uma proposta 100% biodegradável
atualizado
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A camisa social branca é um clássico que tem espaço garantido em muitos closets. Normalmente, costuma ser confeccionada em algodão 100%, mas a designer canadense-iraniana Roya Aghigh aposta em uma versão biodegradável feita de algas. Com modelagem ampla, a criação convida o público a imaginar um futuro em que a tradicional peça de roupa seja costurada em um tecido vivo que pode, inclusive, purificar o ar ao seu redor.
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Roupa viva
Poderia ser uma história de ficção científica, mas é algo extremamente real. A pesquisa para a confecção da peça teve início em meados de 2018 e busca dar um novo fôlego a um dos itens mais usados pela sociedade. Com a inclusão das algas na composição, a vestimenta passa também a ser um organismo vivo e, como tal, precisa de cuidados especiais para continuar sobrevivendo.
As camisas criadas por Roya precisam ser lavadas à mão. Além disso, não é preciso utilizar ferro de passar roupas. Por sua vez, é preciso colocá-las para pegar sol diariamente, além de borrifar água uma vez por semana.
“Você não vai jogar suas roupas no canto do armário ou na máquina de lavar”, disse a designer. “Isso vai mudar imediatamente a maneira como você pensa e a relação que tem com o que veste”, afirmou.
Roya Aghigh, em entrevista à CNN
O tecido vivo é batizado como Biogarmentry e tem como principal objetivo mostrar o potencial dos microrganismos na redução dos impactos negativos da indústria têxtil e da moda, entre as mais poluentes do mundo, na natureza. Também convida os usuários a repensarem sua relação com a cadeia fashion.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o setor é responsável por aumentar as emissões de carbono, totalizando 10% de todos os gases de efeito estufa emitidos globalmente.
No projeto idealizado pela criativa, as roupas passam a ser seres dependentes, e os fashionistas podem começar a construir uma relação mais íntima com as peças. O cuidado diário também é uma proposta para essa aproximação.
A fim de ser uma alternativa mais sustentável, o material têxtil é resultado de uma iniciativa realizada em colaboração com um grupo de cientistas da Universidade da Columbia Britânica (UBC, na sigla original), de Vancouver, no Canadá. O resultado é de tirar o fôlego, sobretudo porque oferece oxigênio ao ambiente, graças aos organismos vivos que transformam dióxido de carbono em O2.
Processo
Para chegar ao tecido que literalmente respira, Roya trabalha com uma espécie de alga verde unicelular. A planta é tramada com fios impermeáveis que dão forma ao tecido. O resultado é um material vivo capaz de se tornar base de diversas modelagens, com potencial para chegar ao mercado e ser comercializado.
Comparado aos têxteis já disponíveis no mercado, o Biogarmentry se aproxima do linho, graças à estrutura e maciez. A aposta biodegradável permite ao usuário descartar a peça via compostagem, após o tecido perder a sua função biológica.
Segundo a profissional, a roupa viva pode durar cerca de um mês. O período vai depender de como a peça foi cuidada, podendo ser estendido ou reduzido a poucos dias. Enquanto vivo, o material trabalhará para purificar o ar por meio da fotossíntese.
Premiações
O projeto incentiva uma mudança nas percepções atuais da moda e como ela vem sendo tratada. Os modelitos Biogarmentry visam apresentar uma nova direção para a produção de tecidos, adotando abordagens ativas para a mudança, além de explorar a aplicação da biologia no design.
O ato de dar novo significado ao tradicional processo têxtil resultou em premiações para Roya Aghigh. A iniciativa foi destaque na Avantex Paris, em setembro, por mostrar o potencial dos microrganismos na redução dos impactos da indústria.
Além disso, em 2019, as roupas biodegradáveis foram selecionadas na categoria de design sustentável no evento anual Dezeen Awards, orquestrado pela revista Dezeen. Também no ano passado, o tecido ganhou destaque no Core77 Design Awards.
A lista não para por aí. Além das premiações, o projeto de roupas vivas faz parte do acervo de materiais inovadores no Instituto Fashion de Design e Merchandising (FIDM), em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Colaborou Sabrina Pessoa